Chamada temática para o n.111 (2025): Mente e narrativa
Organizadores: Leonardo Ferreira Almada (UFU), Pedro Dolabela Chagas (UFPR)
Ao final do primeiro quarto do século XXI, vemos que o termo “narrativa” tem sido cada vez mais integrado à descrição e à explicação de fenômenos diversos, desde fenômenos psicológicos até sociológicos, filosóficos e históricos; as narrativas organizam a experiência humana e como são usadas para explicar e dar sentido a fenômenos diversos.. Na produção acadêmica recente, Robert Shiller (2019), por exemplo, argumenta que as estórias que contamos uns aos outros sobre a economia e o papel que nela desempenhamos geram resultados de larga escala, sugerindo que mitos e narrativas populares, ao veicularem ideias e crenças capazes de influenciar eventos, instituições, políticas e concepções da realidade, devam ocupar um lugar central na análise econômica. Antes dele, ao argumentar que o juízo moral determina o self e a socialização humana, Christian Smith (2003) defendera que essa condição nos torna excelentes contadores de estórias, como instrumento de disseminação de valores morais capazes de estruturar a vida coletiva. Mais tarde, Jonathan Haidt (2012) proporia, a partir de pressuposições semelhantes sobre o papel fundamental da moralidade na estruturação da vida social humana, que certas narrativas dão fundamento a discursos de legitimação de campos políticos colocados em oposição na modernidade. Enquanto isso, narrativas recebiam saliência nas ciências da natureza, com Richard Dawkins (2009) indicando a condição narrativa de explicações evolutivas, Marcelo Gleiser (1998) propondo um abordagem narrativa da história do universo e das teorias astronômicas, Ilya Prigogine (1996) defendo a irreversibilidade do tempo – a articulação temporal dos processos – como inerente aos fenômenos físicos, que assim adquiriam historicidade.
Partindo desse quadro geral, esta chamada da Revista Letras convida a comunidade acadêmica a trabalhar a interface entre a narratividade e a mente humana, dentro do amplo espectro de possibilidades que ela oferece. Serão bem-vindas contribuições que tratem a narrativa como produto – texto, fala, filme, relato… – ou como processo – compreendendo a narrativização como um modo específico de estruturação da informação. Da mesma maneira, estimulamos que as abordagens mentalistas do fenômeno narrativo transitem entre a neurociência, a psicologia cognitiva, a filosofia da mente, a pragmática linguística, e as teorias da evolução cultural humana, dentre outros campos possíveis da produção intelectual não abarcados por essa listagem. Em suma, convidamos a comunidade acadêmica a contribuir para a discussão a partir de diferentes perspectivas e áreas de pesquisa, energizando a transdisciplinaridade que costuma caracterizar a discussão sobre o tema proposto.
Submissões podem ser enviadas até 31/05/2025.