Chamada para o número temático: “O que dizer sobre o poeta a propósito de seus cem anos?”
O POETA João Cabral de Melo Neto completaria cem anos em janeiro de 2020. Nascido na cidade de Recife, em função de sua atuação na carreira diplomática, acabou vivendo em várias cidades de diversos países do mundo. Dentre elas, é notória a constante referência que sua poesia faz ao seu estado natal e a uma cidade/ região específicas: Pernambuco e Sevilha/ Andaluzia. No poema “Autocrítica”, do livro A escola das facas, de 1980, o poeta aponta que “Só duas coisas conseguiram/ (des) feri-lo até a poesia:/ O Pernambuco de onde veio / e o aonde foi, a Andaluzia (…). O espaço, as paisagens e as cidades constituem, no entanto, mais do que referências ou motivações temáticas de sua poesia. Podem configurar componentes da extensa cadeia de símiles que estruturam a poesia cabralina, que recorre a analogias entre elementos concretos e ideais abstratos, tais como a concisão, a precisão, a dureza e a contundência. Aliás, são diversos os ensaios e prefácios, nos quais o poeta parece prescrever seu “modo de usar”, às vezes até explicando algumas dessas analogias, em um esforço de orientar uma dada leitura crítica de sua obra. No poema “Postigo”, que encerra o livro Agrestes, de 1985, o poeta, ironicamente, refere-se a esse tratamento quase de submissão dos críticos aos protocolos e mecanismos de leitura que ele havia estabelecido no decorrer de sua obra anterior. Vale destacar que muitos textos fundadores de sua Fortuna Crítica foram escritos no período entre o final da década de 60 e o início da década de 80. E embora a obra do poeta ainda estivesse em curso, foi recorrente nesses estudos críticos o desejo de fixar o projeto poético cabralino, supondo-o como integralmente definido, mesmo que ainda não findado. Para ficar em alguns poucos exemplos, poderíamos remeter aos estudos de Haroldo de Campos (1967); Benedito Nunes (1971); João Alexandre Barbosa (1974) e Antonio Carlos Secchin (1982), referências constantes da maior parte dos estudos sobre a poesia de Cabral. Todos estes procuram definir o desenho geral da poesia cabralina, mas, em decorrência de sua própria limitação temporal, deixam de fora 8 livros, no caso de Campos; 6, no caso de Nunes e de Barbosa ou 4, no caso de Secchin. Embora a contribuição desses trabalhos críticos seja incontestável, é de se supor que esses livros excluídos podem fornecer subsídios importantes para situar a poesia de João cabral de Melo Neto nos quadros de nossa tradição poética. Desse modo, convidamos críticos e estudiosos da obra do poeta para contribuir com ensaios, artigos e textos de teor crítico-analítico para o dossiê temático proposto pela Revista Letras: “O que dizer sobre o poeta a propósito de seus cem anos?” . A questão central deste dossiê, que ocupa, integralmente, este número da revista, é avaliar a produção poética e/ou ensaística de João Cabral de Melo Neto, bem como compreender como se pode ler sua obra hoje, após seu longo percurso de recepção crítica e após as múltiplas retomadas que poetas e movimentos literários culturais fazem de sua obra, seja para advogar, seja para refutar o legado de sua poesia e de seu nome.
Organizadores:
Solange Fiuza (UFG)
Waltencir Alves de Oliveira (UFPR)
Data-limite para submissão: 31 de julho de 2020
Link para submissão: https://revistas.ufpr.br/letras/about/submissions#onlineSubmissions

