Chamada para o número temático: Palavras em Fúria: imagens de resistência e rebeldia femininas na literatura dos séculos XX e XXI
Na iconografia dos últimos 120 anos, são frequentes as figuras femininas que encarnaram o anúncio de rebeliões, movimentos de resistência, lutas políticas e demandas por justiça. De Lilia Brik que, nas propagandas da Revolução Russa, reivindica o poder popular e a criação de mais livros; passando por Rosa Luxemburgo representando o levante espartaquista, Angela Davis à frente do movimento Black Power e as Mães e Avós da Praça de Maio na Argentina; chegando às estudantes nas manifestações pela educação no Chile e no Brasil e à atuação da socióloga Marielle Franco nas periferias cariocas, cujo assassinato provoca indignação e clamor por respostas. Tais vozes ecoam a tantas outras espalhadas geográfica e historicamente que – muitas vezes de forma anônima – operam na micropolítica do cotidiano.
Na literatura, o gesto feminino também aparece como uma postura irruptiva no tecido do tempo e da norma. Nas obras das escritoras latino-americanas Pagu, Rosario Castellanos, Alejandra Pizarnik, Elena Garro, Julia de Burgos, Marosa di Giorgio, Conceição Evaristo e Angélica Freitas; na literatura russa com Marina Tsvetáieva, Irina Grekova, Ludmila Petruchevskaia; nas polonesas Wisława Szymborska e Ewa Lipska; ou em escritoras africanas como Chimamanda Ngozi Adichie, Nadine Gordimer, Ana Paula Tavares e Yaa Gyasi, desvelam-se as vidas interiores de personagens que rejeitam os papeis conservadores impostos como próprios às mulheres.
No espaço da tradução as mulheres aderiram à contestação do sistema literário patriarcal e elaboraram uma genealogia de vozes como afirmação da agência e potência femininas, desde a figura de Malintzin, o gesto fundacional de Nísia Floresta no Brasil, a obra de tradução de Maria-Mercè Marçal até o trânsito entre línguas de Gloria Anzaldúa.
Encarnações femininas da rebeldia atravessam textos de Virginia Woolf, Maksim Górki, Flannery O’Connor, Adrienne Rich, Audre Lorde, Bertold Brecht, Silvina Ocampo, Guimarães Rosa, Toni Morrison, Ursula Le Guin, J. M. Coetzee, Herta Müller, Svetlana Aleksiévitch e tantos outros. Como se nenhum projeto de vanguarda ou emancipação contemporânea pudesse ser formalizado sem elas, remetendo a imagens ainda mais antigas, origens do próprio sentimento de rebelião, tais como a Liberdade revolucionária, Antígona, as Erínias gregas ou as divindades iradas presentes no panteão indo-asiático.
Para este dossiê propomos reunir artigos, bem como traduções, que dialoguem com essas imagens de resistência, em seus mais diversos aspectos, presentes na poesia, prosa e teatro dos séculos XX e XXI.
O prazo para submissão dos artigos é até 01/12/2020.
Organização
Denise Regina de Sales (UFRGS)
Gabriela Soares da Silva (pós-doutoranda – USP)
Meritxell Hernando Marsal (UFSC)
Tiago Guilherme Pinheiro (pós-doutorando – Unicamp)

