Desmatamento e incêndios florestais transformando a realidade da Reserva Extrativista Chico Mendes
DOI:
https://doi.org/10.5380/dma.v48i0.58826Palavras-chave:
expansão de pastagens, incêndios florestais, secas, Amazônia, conservaçãoResumo
A Reserva Extrativista Chico Mendes (RECM) é uma unidade de conservação de uso sustentável que cobre quase um milhão de hectares, localizada no estado do Acre, no sudoeste da Amazônia brasileira. Ela tem 10 mil habitantes estimados. É um exemplo concreto do legado de Chico Mendes e emblemático dos desafios enfrentados pelas unidades de conservação na Amazônia. Mudanças significativas ocorreram desde que a reserva foi criada, em 1990, com relação ao desmatamento e degradação florestal. Cerca de 5,6% da RECM, 54.741ha, foi desmatado entre 1997 a 2016, segundo dados do Prodes/Inpe. Uma comparação das taxas de desmatamento registradas pelo Prodes e pelo Projeto de Mudança Florestal Global (GFC) mostrou resultados enganosamente semelhantes para o período de 2000 a 2016: 31.485ha e 34.102ha, respectivamente. Somente durante o período de 2007 a 2011, os dois monitoramentos deram resultados semelhantes. De 2012 a 2016, o GFC registrou taxas anuais cerca de 75% mais altas do que as taxas anuais do Prodes. O tamanho médio dos polígonos por ano aumentou três vezes nos últimos 10 anos, de 3 ha/ano (2001 a 2006) para 8 ha/ano (2007 a 2016), sendo 92% expansão de desmatamentos existentes. A distribuição espacial do desmatamento concentrou-se em 10 dos 46 seringais da RECM, alguns dos quais registraram mais de 50% de desmatamento até 2016 segundo o Prodes. Os incêndios florestais têm sido a grande preocupação para a Reserva Extrativista Chico Mendes, devido ao impacto de 50.363ha de florestas degradadas pelo fogo, área igual ao total de desmatamento. Essa degradação afeta o estoque de carbono e danifica as espécies utilizadas no extrativismo. Cicatrizes dos incêndios florestais contíguas > 1.000ha formaram mais da metade da área total queimada e ocorreram em áreas pouco povoadas da RECM. Secas severas parecem ser fundamentais para a propagação de incêndios florestais que tiveram origem em queimadas de limpeza e preparo do solo para pastagem e/ou agricultura de menos de 30ha, propiciando um novo paradigma de degradação florestal pelo fogo. Com o aumento do tamanho médio dos polígonos de desmatamento, a RECM enfrenta uma situação que vai contra o legado de Chico Mendes: a expansão das áreas desmatadas para pastagens e a degradação das florestas em pé, a base para a manutenção do extrativismo, pelo fogo.
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