Ecocídio nos Cerrados: agronegócio, espoliação das águas e contaminação por agrotóxicos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/dma.v57i0.76212

Palavras-chave:

Cerrados, agronegócio, povos e comunidades tradicionais, espoliação das águas, contaminação por agrotóxicos

Resumo

Com 65 milhões de anos, os Cerrados constituem-se de intensa biodiversidade, que tem relação com sua abundância em águas e a dinâmica do ciclo hidrológico, perenizando rios de seis das oito regiões hidrográficas do país e transbordando suas águas para outros países do subcontinente americano. O bioma abriga diversos povos e comunidades tradicionais que constituíram modos de vida e saberes ancestrais. Nas últimas décadas, o Estado vem implementando nesse território políticas de desenvolvimento subordinadas ao neoextrativismo e à acumulação por espoliação de grandes corporações. Assim, os Cerrados têm sido invadidos pela expansão do agronegócio, que resultam em intensa conflitividade no bioma, além de tentar exterminar os modos de vida dos diferentes povos. Foram reunidas informações e análises para caracterizar o Ecocídio dos Cerrados, onde mais de 110 milhões de hectares do bioma estão ocupados pelo agronegócio – com área plantada para produzir 75% das commodities soja-cana-milho-algodão cultivadas no Brasil e as áreas de pastagem destinadas à produção de carne bovina. Isso implica na destruição de 52% da vegetação nativa e no consumo de 91,8% das águas superficiais e subterrâneas usadas na irrigação por pivôs centrais, resultando na migração de nascentes, na interrupção dos fluxos dos rios e na redução dos volumes dos aquíferos, como se aprofunda na análise dos conflitos em curso no oeste da Bahia e na bacia dos rios Formoso e Javaés/TO. A isso, somam-se os impactos do uso intensivo de agrotóxicos sobre todas as formas de vida – são mais de 600 milhões de litros de venenos anualmente, concentrando 73,5% do total de agrotóxicos consumidos no país em 2018, sobre a saúde humana resulta em taxas de intoxicação exógena e câncer infanto-juvenil nos Cerrados maiores que as médias nacionais. Os Cerrados caracterizam-se como zona de sacrifício do desenvolvimento brasileiro, em que natureza e povos são saqueados para garantir a acumulação de poucos, num processo de Ecocídio que é o produto moderno-colonial racista no bioma.

Biografia do Autor

Daniela da Silva Egger, Gemap - Grupo de Estudos sobre Mudanças Sociais, Agronegócio e Políticas Públicas - Cpda/UFRRJ.

Geógrafa, Mestra e Doutoranda em Ciências Sociais, Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade - Cpda/UFRRJ.

Raquel Maria Rigotto, Núcleo Tramas - Trabalho, Meio Ambiente e Saúde. PPGSC/UFC.

Médica, Pós-doutora em Sociologia do Desenvolvimento.

Francco Antonio Neri de Souza e Lima, Doutorando em Saúde Pública, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz)

Biólogo, Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Mato Grosso.

André Monteiro Costa, Laboratório de Saúde Ambiente e Trabalho-Lasat/Fiocruz-PE.

Pesquisador titular, Departamento de Saúde Coletiva/Instituto Aggeu Magalhães/Fiocruz.

Ada Cristina Pontes Aguiar, Professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Cariri (UFCA). Núcleo Tramas - Trabalho, Meio Ambiente e Saúde (UFC).

Professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Cariri (UFCA).

Doutoranda em Saúde Pública, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz).

Publicado

2021-06-30

Como Citar

Egger, D. da S., Rigotto, R. M., Lima, F. A. N. de S. e, Costa, A. M., & Aguiar, A. C. P. (2021). Ecocídio nos Cerrados: agronegócio, espoliação das águas e contaminação por agrotóxicos. Desenvolvimento E Meio Ambiente, 57. https://doi.org/10.5380/dma.v57i0.76212

Edição

Seção

Artigos