Compensação ambiental da Mata Atlântica e dos Campos Rupestres Ferruginosos em Minas Gerais, sudeste do Brasil

entre o legalismo e a ineficácia ecológica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/dma.v66i.97252

Palavras-chave:

compensação da biodiversidade, restauração ecológica, regularização fundiária, unidades de conservação

Resumo

A Mata Atlântica (MA) é um dos mais ameaçados hotspots de biodiversidade mundial e o único bioma brasileiro que tem uma lei específica para sua conservação. Este estudo investigou a compensação ambiental (CA) da MA no estado de Minas Gerais (MG), conforme previsto pela legislação ambiental brasileira. Neste sentido, o estado mineiro vai além do previsto na Lei da MA e exige que a área compensada seja o dobro da suprimida. Embora esses instrumentos tenham potencial de contribuir para a restauração ecológica do bioma, MG figura recorrentemente entre os estados brasileiros que mais desmatam a MA. A pesquisa se valeu dos dados disponíveis nos processos que tramitaram para a aprovação do órgão ambiental estadual em sua Câmara de Proteção à Biodiversidade e Áreas Protegidas do Conselho Estadual de Política Ambiental (CPB-COPAM) entre os anos de 2020 a 2023. Foram coletados dados de todos os 128 processos que tramitaram na CPB-COPAM nos quatro anos analisados. Os resultados obtidos indicam que a CA da MA na proporção de 2:1 em MG causa uma impressão positiva que é incorreta, uma vez que a compensação se dá na grande maioria das vezes através da regularização fundiária de terras já legalmente protegidas, e em apenas cerca 19% dos casos por restauração ecológica. Reforça-se o entendimento de que a CA da MA em MG é ineficaz, desconexa do melhor conhecimento científico, e tem levado à perda líquida de biodiversidade, especialmente dos campos rupestres ferruginosos ou cangas. O estudo propõe algumas recomendações para melhorias na CA da MA em MG, que também são úteis para outros territórios e contextos, como a adoção de uma avaliação ambiental integrada ou cumulativa e que se priorize o estímulo à restauração ecológica, visando ganho líquido ou pelo menos nenhuma perda de biodiversidade nos territórios.

Biografia do Autor

Alexandre Túlio Amaral Nascimento, Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)

Biólogo (Universidade Federal de Viçosa), Mestre em Ecologia Aplicada (Universidade de São Paulo), Doutor em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre (Universidade Federal de Minas Gerais). Profissional sênior em coordenação de projetos e pesquisas nas áreas de Ecologia Aplicada, Conservação da Biodiversidade e Políticas Públicas Ambientais. Experiência nas áreas de Biologia da Conservação, Ecologia Aplicada e Programas Integrados de Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável, além de prática didática e em consultorias na área ambiental. Professor e pesquisador da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Docente e orientador permanente do Programa de Mestrado Acadêmico em Ciências Ambientais da UEMG.

Izabela Venceslau Mendes, Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)

Acadêmica de Engenharia Ambiental. 

Renato Melo Gonçalves, Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Unidade Ibirité

Acadêmico de Ciências Biológicas.

Henrique Lua Santos Ferreira, Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Unidade João Monlevade

Acadêmico de Engenharia Ambiental.

Érica Maria Freitas dos Santos, Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)

Acadêmica de Engenharia Ambiental.

Amanda Cristina Sena Silva, Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Unidade Ibirité

Acadêmica de Engenharia Ambiental. Técnica em Sistemas de Energia Renovável. 

Gustavo Tofanin Cristofoli, Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Unidade Frutal, Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais.

Mestre em Ciências Ambientais, Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda, Técnico em Desenvolvimento de Sistemas.  

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Publicado

2025-07-24

Como Citar

Nascimento, A. T. A., Mendes, I. V., Gonçalves, R. M., Ferreira, H. L. S., Santos, Érica M. F. dos, Silva, A. C. S., & Cristofoli, G. T. (2025). Compensação ambiental da Mata Atlântica e dos Campos Rupestres Ferruginosos em Minas Gerais, sudeste do Brasil : entre o legalismo e a ineficácia ecológica. Desenvolvimento E Meio Ambiente, 66, 82–95. https://doi.org/10.5380/dma.v66i.97252

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Artigos