Open Journal Systems

Características Filosóficas da Ciência Contábil Mainstream eSuas Limitações

Eduardo Codevilla Soares, Nilton Cesar Lima, Vagner de Oliveira Magrini

Resumo


A concepção do que é realidade e como a verdade deve ser obtida é um elemento central no debate científico. Abordagens contábeis sobre essas questões são raras, mas não inexistentes, a emergência da abordagem crítica da contabilidade reflete a emergência de um debate científico contábil aberto e plural. Assim abre-se espaço para reflexões em profundidade sobre aspectos ontológicos e epistemológicos, apontando limitações sob perspectivas tradicionais que até então eram entendidas como o ideal ao campo. Este artigo é um reforço ao processo já em andamento de desmistificação do mainstream contábil, abordando algumas concepções essenciais da filosofia de ciência e elementos inerentes a condução do processo científico. Trata-se de um convite a reflexão sobre quais pressupostos da filosofia assumidos, ou negligenciados, pelo mainstream científico contábil. Por fim, o estudo revisita o desenvolvimento do debate cientifico contábil, demonstrando elementos epistemológicos que apontam par a ciência como um processo social múltiplo, o qual ainda que leve em conta perspectivas racionais, considere também aspectos subjetivos, políticos, culturais e emocionais. Como resultado do estudo tem-se tanto a exposição das características filosóficas que são assumidas e replicadas pelo mainstream contábil quanto as que, ainda que científicas, são simplesmente desconsideradas.

Palavras-chave


Filosofia da ciência.Epistemologia.Ontologia.Ciência Contábil.

Texto completo:

PDF |63-84| (English)

Referências


Adorno, T. W., & Horkheimer, M. (2014). Dialética do Esclarecimento. (Almeida, G. Trad). Rio de Janeiro: Zahar.

Andrew, J., Cooper, C., & Gendron, Y. (2020). Critical perspectives on accounting and journal rankings: Engaging in counter discourses and practices. Critical Perspectives on Accounting, 71, 102–169. https://doi.org/10.1016/j.cpa.2020.102169

Armstrong, P. (1994). The Influence of Michel Foucault on Accounting Research. Critical Perspectives on Accounting, 5(1), 25–55. https://doi.org/10.1006/cpac.1994.1003

Bacha, M. D. L. (2014). Comte e Peirce, sobre a classificação das ciências: o status da matemática. História Da Ciência e Ensino: Construindo Interfaces, 9(1), 75–91. August 27, 2022, from https://revistas.pucsp.br/index.php/hcensino/article/view/19428

Baker, C. R., & Bettner, M. S. (1997). Interpretive and critical research in accounting: a commentary on its absence from mainstream accounting. Critical Perspectives on Accounting, 8(4), 293-310. https://doi.org/10.1006/cpac.1996.0116

Bataille, G. (1975). Os Dados Históricos III A Sociedade Industrial. In G. Bataille (Ed.), A parte maldita, precedido de A noção de despesa (1st ed., Vol. 1, pp. 105–138). IMAGO.

Battisti, C. A. (2010). O método de análise cartesiano e o seu fundamento. Scientiae Studia, 8(4), 571–596. https://doi.org/10.1590/s1678-31662010000400004

Bauman, Z. (2001). Modernidade líquida. (Dentzien, P. Trad) Rio de Janeiro: Zahar.

Beams, F. A. (1969). Indications of Pragmatism and Empiricism in Accounting Thought. The Accounting Review, 44(2), 382–388. http://www.jstor.org/stable/243813

Bennett, J. (1999). Locke´s philosophy of mind. In The Cambridge Companion to Locke (4th ed., p. 247). Cambridge University Press.

Borba, J. A., Poeta, F. Z., & Vicente, E. F. R. (2011). Teoria da Contabilidade: uma Análise da Disciplina nos Programas de Mestrado Brasileiros. Sociedade, Contabilidade e Gestão, 6(2), 124–138. https://doi.org/10.21446/scg_ufrj.v6i2.13242

Bresolin, K. (2016). A filosofia da educação de Immanuel Kant: da disciplina à moralidade. EdUCS.

Buckmaster, D., & Theang, K.-F. (1991). An exploratory study of early empiricism in U.S. accounting literature. The Accounting Historians Journal, 18(2), 55–83. http://www.jstor.org/stable/40698055

Chabrak, N., Haslam, J., & Oakes, H. (2019). What is accounting? The “being” and “be-ings” of the accounting phenomenon and its critical appreciation. Accounting, Auditing and Accountability Journal, 32(5), 1414–1436. https://doi.org/10.1108/AAAJ-08-2017-3097

Chibeni, S. S. (1993). Descartes e o realismo cientifico. Reflexão: Universidade Estadual de Campinas, 57, 35–53. August 27, 2022, from https://www.unicamp.br/~chibeni/public/descreal.pdf

Christenson, C. (1983). The Methodology of Positive Accounting. The Accounting Review, 58(1), 1–22. http://www.jstor.org/stable/10.2307/246639

Chua, W. F. (1986). Radical Developments in Accounting Thought. The Accounting Review, 61(4), 601–632. http://www.jstor.org/stable/247360

Chua, W. F. (2019). Radical Developments in Accounting Thought? Reflections on Positivism, the Impact of Rankings and Research Diversity. Behavioral Research in Accounting, 31(1), 3–20. https://doi.org/10.2308/bria-52377

Colmenares, V. H. C. (2018). El método cartesiano y su relación con las Normas Internacionales de Información Financiera. Revista Visión Gerencial, 0(1), 138–146. https://doi.org/10.53766/VIGEREN

Cooper, D. J., & Hopper, T. M. (1987). Critical studies in accounting. Accounting, Organizations and Society, 12(5), 407–414. https://doi.org/10.1016/0361-3682(87)90028-6

de Iudícibus, S., Ribeiro Filho, J., Lopes, J., & Pederneiras, M. (2012). Uma reflexão sobre a contabilidade: caminhando por trilhas da “teoria tradicional e teoria crítica.” BASE - Revista de Administração e Contabilidade Da Unisinos, 8(4), 274–285. https://doi.org/10.4013/base.2011.84.01

Deleuze, G. (1974). Lógica do Sentido. (Fortes, L. Trad.) São Paulo: Perspectiva.

Farias, M. (2012). Desenvolvimento científico da contabilidade: uma análise baseada na epistemologia realista da ciência [Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo]. August 27, 2022, from https://doi.org/10.11606/T.12.2012.tde-02052012-205410

Feyerabend, P. (2011). Contra o método. (Mortari, C., Trad). São Paulo: Editora UNESP.

Frezatti, F., Nascimento, A. R. do, & Junqueira, E. (2009). Desenvolvimento da pesquisa em Contabilidade Gerencial: as restrições da abordagem monoparadigmática de Zimmerman. Journal of Accounting and Economics, 2001, 6–24. https://doi.org/10.1590/S1519-70772009000100002

Gendron, Y., & Baker, C. R. (2005). On interdisciplinary movements: The development of a network of support around Foucaultian perspectives in accounting research. European Accounting Review, 14(3), 525–569. https://doi.org/10.1080/09638180500041364

Gray, R., & Milne, M. J. (2015). It’s not what you do, it’s the way that you do it? Of method and madness. Critical Perspectives on Accounting, 32, 51–66. https://doi.org/10.1016/j.cpa.2015.04.005

Guillin, V. (2016). Aspects of scientific explanation in Auguste Comte. Revue Européenne des Sciences Sociales, 54–2, 17–41. https://doi.org/10.4000/ress.3589

Hines, R. D. (1988). Popper’s Methodology of Falsificationism and Accounting Research. The Accounting Review, 63(4), 657–662. http://www.jstor.org/stable/247905

Hobsbawm, E. (2015). A era das revoluções: Europa 1789 - 1848. (Teixeira, M & Penchel, M., Trad). Rio de Janeiro: Paz & Terra.

Homero Junior, P. F. (2017). A Constituição do Campo Científico e a Baixa Diversidade da Pesquisa Contábil Brasileira. Revista de Educação e Pesquisa Em Contabilidade (REPeC), 11(3), 314–328. https://doi.org/10.17524/repec.v11i3.1565

Homero Junior, P. F. (2021). Reflexões sobre a Prática da Pesquisa Crítica em Contabilidade no Brasil. Revista de Educação e Pesquisa Em Contabilidade (REPeC), 15(2), 225–242. https://doi.org/10.17524/repec.v15i2.2823

Hopwood, A. (2002). “If only there were simple solutions, but there aren’t”: some reflections on Zimmerman’s critique of empirical management accounting research. European Accounting Review, 11(4), 777–785. https://doi.org/10.1080/0963818022000047073

Hopwood, A. G. (2007). Whither accounting research? Accounting Review, 82(5), 1365–1374. https://doi.org/10.2308/accr.2007.82.5.1365

Iudícibus, S. de, Martins, E., & Carvalho, L. N. (2005). Contabilidade: aspectos relevantes da epopeia de sua evolução. Revista Contabilidade & Finanças, 16(38), 7–19.

https://doi.org/10.1590/s1519- 70772005000200002

Kuhn, T. (2017). A Estrutura das Revoluções Científicas (Boeira, V. & Boeira, N., Trad). São Paulo: Perspectiva.

Kuter, M. I., Gurskaya, M. M., & Kuznetsov, A. V. (2019). Alexander Galagan: Russian titan of the Enlightenment in the history of accounting. Accounting History, 24(2), 293–316. https://doi.org/10.1177/1032373218761129

Lacerda, G. B. de. (2009). Augusto Comte e o “positivismo” redescobertos. Revista de Sociologia e Política, 17(34), 319–343. https://doi.org/10.1590/s0104-44782009000300021

Lakatos, I. (1979). O falseamento e a metodologia dos programas de pesquisa científica. In I. Lakatos & A. Musgrave (Eds.), A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. (Cajado, O. Trad) São Paulo: Cultrix.

Laudan, L. (2011). O progresso e seus problemas: rumo a uma teoria do crescimento científico (Ferreira, R. Trad). São Paulo: Editora da UNESP.

Lopes, A. B., & Martins, E. (2005). Teoria da contabilidade: uma nova abordagem. Atlas.

Lourenço, R. L., & Sauerbronn, F. F. (2016). Revistando possibilidades epistemológicas em contabilidade gerencial: em busca de contribuições de abordagens interpretativas e críticas no Brasil. Revista Contemporânea de Contabilidade, 13(28), 99. https://doi.org/10.5007/2175-8069.2016v13n28p99

Lukka, K. (2010). The roles and effects of paradigms in accounting research. Management Accounting Research, 21(2), 110–115. https://doi.org/10.1016/j.mar.2010.02.002

Lyotard, J. F. (2009). A condição pós moderna. (Barbosa, R. Trad) Rio de Janeiro: José Olympio.

Macintosh, N. B. (2009). Accounting and the truth of earnings reports: Philosophical considerations.

European Accounting Review, 18(1), 141–175. https://doi.org/10.1080/09638180802327073

Martinez, D. E., & Cooper, D. J. (2020). Seeing Through the Logical Framework. Voluntas, 31(6), 1239– 1253. https://doi.org/10.1007/s11266-020-00223-8

Martins, E. (2005). Normativismo e / ou Positivismo em Contabilidade: Qual o Futuro? Revista Contabilidade & Finanças, 39(3), 1. https://doi.org/10.1590/S1519-70772005000300001

Martins, E. (2012). Pesquisa contábil brasileira: uma análise filosófica [Tese de doutorado Universidade de São Paulo]. August 27, 2022, from https://doi.org/10.11606/T.12.2012.tde-14022013-171839

Mattessich, R. (1972). Methodological Preconditions and Problems of a General Theory of Accounting. The Accounting Review, 47(3), 469–487. http://www.jstor.org/stable/244962

Mills, M. A. (2015). Explicating Meyerson: The Critique of Positivism and Historical Épistémologie. HOPOS: The Journal of the International Society for the History of Philosophy of Science, 5(2), 318– 347. https://doi.org/10.1086/682423

Morgan, G. (1988). Accounting as reality construction: Towards a new epistemology for accounting practice. Accounting, Organizations and Society, 13(5), 477–485. https://doi.org/10.1016/0361- 3682(88)90018-9

Neiman, S. (2003). O mal no pensamento moderno: uma história alternativa da filosofia. In Revista portuguesa de filosofia (Vol. 57, Issue 4). Difel.

Neto, J. E. B., & Cunha, J. V. A. da. (2016). Colaboração Acadêmica em Bancas de Mestrado na Pós- Graduação Stricto Sensu em Contabilidade. Contabilidade, Gestão e Governança, 19(1), 126–145.

Owen, D. (2008). Chronicles of wasted time? Accounting, Auditing & Accountability Journal, 21(2), 240– 267. https://doi.org/10.1108/09513570810854428

Palea, V. (2017). Whither accounting research? A European view. Critical Perspectives on Accounting, 42, 59–73. https://doi.org/10.1016/j.cpa.2016.03.002

Popper, K. (2017). A lógica da pesquisa científica. Cultrix.

Rocha, C. A. A. (2017). Skinner e Feyerabend sobre o método e o papel da ciência em uma sociedade livre. Temas Em Psicologia, 25(3), 913–926. https://doi.org/10.9788/tp2017.3-02pt

Rufatto, C. A., & Carneiro, M. C. (2009). A concepção de ciência de Popper e o ensino de ciências. Ciência & Educação (Bauru), 15(2), 269–289. https://doi.org/10.1590/S1516-73132009000200003

Russell, B. (2015). História da filosofia ocidental – Livro 3: A filosofia moderna. Nova Fronteira.

Ryan, B., Scapens, R. W., & Theobald, M. (2002). Research Methodology in Finance and Accounting. In Research Methods in Finance and Accounting (2nd ed.). Academic Press Limited.

Salatiel, J. R. (2011). Pierce e Hume em torno do empirismo: uma dupla estratégia do método pragmatista em resposta ao ceticismo.

Savater, F. (2015). Uma história descomplicada da Filosofia. Planeta do Brasil.

Silva, R. A. C. da. (2019). A história da normatização contábil americana com ênfase na mundial. Revista Activos, 17(2). https://doi.org/10.15332/25005278/5732

Silva, M. A. de M. (2005). Teoria crítica em relações internacionais. Contexto Internacional, 27(2), 249– 282. https://doi.org/10.1590/s0102-85292005000200001

Silveira, F. L. (1996). A metodologia dos programas de pesquisa: A epistemologia de Irme Lakatos. Caderno Catarinense de Ensino de Física, 13(3), 56–63.

Sterling, R. R. (1975). Toward a Science of Accounting. Financial Analysts Journal, 31(5), 28–36. https://doi.org/10.2469/faj.v31.n5.28

Theóphilo, C. R. (1998). Algumas Reflexões sobre Pesquisas Empírica em Contabilidade. Caderno de Estudos FIPECAFI, 10(19), 9–15.

Theóphilo, C. R., & Iudícibus, S. de. (2009). Uma Análise Crítico-Epistemológica da Produção Científica em Contabilidade no Brasil. Contabilidade Gestão e Governança, 8(2). https://www.revistacgg.org/contabil/article/view/164/pdf_87

Thompson, E. P. (2012). Algumas observações sobre classe e ‘falsa consciência.’ In Negro A. L. & Silva S. (Eds.), As peculiaridades dos ingleses e outros artigos. EdUnicamp.

Ungureanu, J. C. (2018). Relocating the conflict between science and religion at the foundations of the history of science. Zygon, 53(4), 1106–1130. https://doi.org/10.1111/zygo.12470

Valentim, F. O. (2010). O Brasil e o Positivismo. Publit.

Wanderley, C. de A., & Cullen, J. (2012). Pesquisa em Contabilidade Gerencial: Mainstream versus Pesquisa Alternativa. Revista Contabilidade Vista & Revista, 22(4), 15–44.

Watts, R. L., & Zimmerman, J. L. (1979). The Demand for and Supply of Accounting Theories: The Market for Excuses. The Accounting Review, 54(2), 273–305. http://www.jstor.org/stable/245516

Williams, P. F. (2017). Jumping on the wrong bus: Reflections on a long, strange journey. Critical Perspectives on Accounting, 49, 76–85. https://doi.org/10.1016/j.cpa.2017.10.004

Wittgenstein, L. (1999). Investigações filosóficas. (Montagnoli, M. Trad) Petrópolis: Vozes.




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/rcc.v16i1.88972