Transbordações nas práticas cotidianas das bordadeiras da cidade de Barra Longa – Minas Gerais após o rompimento da barragem de Fundão
DOI:
https://doi.org/10.5380/dma.v66i.98883Palavras-chave:
bordado, tragédia, impacto ambiental, rompimento de barragemResumo
O presente artigo propõe discutir os impactos causados às bordadeiras de Barra Longa pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana – Minas Gerais, ocorrido no ano de 2015. Para tal, optou-se por uma pesquisa qualitativa, implementada por meio da aplicação de entrevistas semiestruturadas, in loco, em uma aproximação direta com as bordadeiras. O objetivo foi trazer à tona as consequências nas práticas sociais cotidianas das bordadeiras de Barra Longa, após o rompimento da barragem, bem como a centralidade do bordado e se este saber cultural é capaz de ressignificar locais e memórias. Para estabelecer uma correlação entre o bordado com o referido desastre, buscou-se compreender primeiramente a origem do bordado e o seu percurso até a chegada em Barra Longa, levando em consideração o seu significado, bem como a tradição familiar, a fonte de renda e o seu lugar de autonomia. Foram entrevistadas nove bordadeiras, com faixas etárias diversificadas, num período de dois dias consecutivos. Os resultados das entrevistas foram divididos por categorias, o que permitiu uma análise mais próxima da realidade vivida. Um dos impactos relevantes foi a perda de histórias familiares contadas através dos bordados, que eram passadas de geração em geração. Ademais, o quadro agravou-se diante de perdas também materiais e a negligência das autoridades em não dar voz aos atingidos, apesar da iniciativa do estilista Ronaldo Fraga, que, em forma de arte, colocou os bordados dessas mulheres em evidência na exposição de moda no evento da São Paulo Fashion Week (SPFW). Desse modo, apesar de tantas adversidades, conclui-se que o bordado significa, para elas e para toda a região, uma fonte de resgate, de alegria e de renda. Por outro lado, a convivência com as bordadeiras e os dados das entrevistas permitiram constatar impactos ambientais imensuráveis, que o tempo jamais conseguirá remediar.
Referências
Acosta, A. O bem viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São Paulo: Elefante, 2016.
Chagas, C. R. R. P. das. O bordado no currículo como espaço-tempo/fazer educativo. In: Anais da 29ª Reunião Nacional da ANPEd. Caxambu, de 15 a 18 de out., 2006. Disponível em: http://29reuniao.anped.org.br/trabalhos/trabalho/GT23-1967--Int.pdf. Acesso em: 14 nov. 2019.
Biazon, T. Impactos ambientais. In: Caldas, G. (Org). Vozes e silenciamentos em Mariana: crime ou desastre ambiental. 2 ed. Campinas, SP: BCCL/UNICAMP, 2018. p. 158-172. Disponível em: https://www.labjor.unicamp.br/wp-content/uploads/2018/04/2a_edicao_digital_vozes_e_silenciamentos_em_Mariana_06042018_LABJOR_09-04.pdf. Acesso em: 10 jun. 2021.
Canedo, D. “Cultura é o quê?” – reflexões sobre o conceito de cultura e a atuação dos poderes públicos. In: Anais do ENECULT - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Salvador-Bahia, 27 a 29 de maio 2009.
Carneiro, E. M. M. Linha do tempo: as primeiras 26 horas. In: Caldas, G. (Org). Vozes e silenciamentos em Mariana: crime ou desastre ambiental. 2 ed. Campinas, SP: BCCL/UNICAMP, 2018. p.158-172. Disponível em: https://www.labjor.unicamp.br/wp-content/uploads/2018/04/2a_edicao_digital_vozes_e_silenciamentos_em_Mariana_06042018_LABJOR_09-04.pdf. Acesso em: 10 jun. 2021.
Certeau, de M. A invenção do cotidiano: morar, cozinhar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
Chagas, C. R. R. P. das. Memórias bordadas nos cotidianos e nos currículos. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Educação e Humanidades, Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
Contaldo, S. M. Agostinho: a fé tem olhos próprios. Trans/Form/Ação, 42, 115-134, 2019. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2019.v42esp.07.p115
Dias, M. de A.C. Bordado e subjetividade: o bordado como gesto cartográfico. Palíndromo, 11(23), 50-61, 2019. https://doi.org/10.5965/2175234611232019050
Ferreira, E. C. O silêncio que calou vidas. In: Caldas, G. (Org). Vozes e silenciamentos em Mariana: crime ou desastre ambiental. 2 ed. Campinas, SP: BCCL/UNICAMP, 2018. p.158-172. Disponível em: https://www.labjor.unicamp.br/wp-content/uploads/2018/04/2a_edicao_digital_vozes_e_silenciamentos_em_Mariana_06042018_LABJOR_09-04.pdf. Acesso em: 10 jun. 2021.
Fraga, R. Ronaldo Fraga emociona com desfile sobre tragédia de Mariana. [Entrevista concedida a] Maria Rita Alonso. Jornal Estadão, São Paulo, 26 de abr., 2018. Disponível em: https://www.estadao.com.br/emais/moda-e-beleza/ronaldo-fraga-emociona-com-desfile-sobre-tragedia-de-mariana/?srsltid=AfmBOooj6__-oNEcDFM8rk5nOFlWhyKb8J8PTpU3JCYyUO4k-ghkOudZ. Acesso em: 18 nov. 2020.
Freitas, C. M. de; Barcellos, C.; Heller, L.; Luz, Z. M. P. da. Desastres em barragens de mineração: lições do passado para reduzir riscos atuais e futuros. Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, 28(1), 2019. https://doi.org/10.5123/S1679-49742019000100020
Fundação Renova. Projeto Empoderar exibe o trabalho de bordadeiras e quitandeiras de Barra Longa (MG), 2019. Disponível em: https://www.fundacaorenova.org/noticia/projeto-empoderar-exibe-o-trabalho-dasbordadeiras-e-quitandeiras-de-barra-longa-mg/. Acesso em: 08 jun. 2021.
Fundação Renova. A construção de Gesteira, 2020. Disponível em: https://www.fundacaorenova.org/a-construção-de-gesteira. Acesso em: 15 nov. 2020.
Fundação Renova. Construir novos caminhos. 2021. Disponível em: https://www.caminhodareparacao.org/reparacao-integrada/construir-novoscaminhos/. Acesso em: 14 jun. 2021.
Gabriel O Pensador. Cacimba de mágoa, 2018. Disponível em: https://www.vagalume.com.br/gabriel-pensador/cacimba-de-magoa.html. Acesso em: 10 jn. 2021.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Barra Longa (MG) – Cidades e Estados. 2020. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/mg/barra-longa.html. Acesso em: 10 jun 2021.
Krenak. A. Ecologia política. Ethnoscientia, 3(2), 2018. http://dx.doi.org/10.18542/ethnoscientia.v3i2.10225
MAB. Movimento dos atingidos por Barragens. Análise do MAB sobre o Crime Causado pelo Rompimento da Barragem da SAMARCO (VALE/BHP BILLITON). São Paulo: Secretaria Nacional, 2016. Disponível em: https://issuu.com/mabnacional/docs/combinepdf. Acesso em: 26 jan. 2021.
Malta, M. Paninhos, agulhas e pespontos: a arte de bordar o esquecimento na história. In: Anais do Simpósio nacional de história. Lugares dos historiadores velhos e novos desafios. Florianópolis-SC, jul., 2015.
Minayo, M. C. de S. (Org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
Padilha, T. Recto/Verso: a invisibilidade do bordado e a poética do avesso no trabalho de Cayce Zavaglia. In: Anais do 27º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas. São Paulo, 24 a 28 de set., 2018. Disponível em: https://anpap.org.br/anais/2018/content/PDF/27encontro______SOUSA_Juliana_Padilha_de.pdf. Acesso em: 23 fev. 2021.
Pinheiro, T. M. M.; Polignano, M. V.; Goulart, E. M. A., et al. (Orgs). Mar de lama da Samarco na bacia do Rio Doce: em busca de respostas. Belo Horizonte: Instituto Guaicuy; 2019. Disponível em: https://ufmg.br/comunicacao/noticias/livro-busca-respostas-para-o-mar-de-lama-da-samarco. Acesso em: 23 jun 2020.
Prefeitura Municipal de Barra Longa. História do Município de Barra Longa. Barra Longa, 2021. Disponível em: https://www.barralonga.mg.gov.br/institucional/historia. Acesso em: 23 fev. 2021.
Sampaio, T. M. V.; Sousa, I. R. C de.; Faria, G. M. N. A Experiência das “Oficinas”: encontros de lazer. In: Sampaio, T. M. V.; Silva, J. V. P. da. (Org). Lazer e cidadania: horizontes de uma construção coletiva. Brasília: Universa, p. 97-146, 2011.
Sousa, J. P. de. Tramas invisíveis: bordado e a memória do feminino no processo criativo. Dissertação (Mestrado em Artes) – Instituto de Ciências da Arte, Universidade Federal do Pará, Belém, 2019.
Vale, João Henrique do. Praça interditada por barragem em Mariana será reinaugurada em Barra Longa. Estado de Minas, Belo Horizonte, 29 out. 2016. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2016/10/29/interna_gerais,819192/praca-interditada-por-lama-de-barragem-em-mariana-sera-reinaugurada-em.shtml. Acesso em: 14 jun. 2021
Zhouri, A.; Valêncio, N.; Oliveira, R.; et al. O desastre da Samarco e a política das afetações: classificações e ações que produzem o sofrimento social. Ciência e Cultura, 68(3), 36-40,2016. http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602016000300012
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Maira Elisa Cassimiro Martins Morais, Cristiane Miryam Drumond de Brito

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os Direitos Autorais sobre trabalhos publicados nesta revista são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista. O conteúdo dos trabalhos publicados é de inteira responsabilidade dos autores. A DMA é um periódico de acesso aberto (open access), e adota a licença Creative Commons Atribuição 4.0 Não Adaptada (CC-BY), desde janeiro de 2023. Portanto, ao serem publicados por esta Revista, os artigos são de livre uso para compartilhar (copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para qualquer fim, mesmo que comercial) e adaptar (remixar, transformar, e criar a partir do material para qualquer fim, mesmo que comercial). É preciso dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas.
Os conteúdos publicados pela DMA do v. 53 de 2020 ao v. 60 de 2022 são protegidos pela licença Creative Commons Atribuição – Não Comercial – Sem Derivações 4.0 Internacional.
A DMA é uma revista de acesso aberto desde a sua criação, entretanto, do v.1 de 2000 ao v. 52 de 2019, o periódico não adotava uma licença Creative Commons e, portanto, o tipo de licença não é indicado na página inicial dos artigos.

