Gestão coletiva para a conservação de ambientes de montanha

lições do turismo na travessia Marins-Itaguaré, Serra da Mantiqueira, Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/dma.v66i.98761

Palavras-chave:

atributos da comunidade, ação coletiva, arena de ação, governança, atividades de montanhismo

Resumo

A ação coletiva envolve a colaboração entre diversos atores para alcançar benefícios compartilhados. Identificar os atributos que promovem a ação coletiva para a conservação ambiental é um desafio na pesquisa de sustentabilidade. Este artigo utiliza uma triangulação metodológica entre observação participante, análise documental e entrevistas semiestruturadas para caracterizar o desenvolvimento da ação coletiva e dos arranjos institucionais que promovem a conservação em ambientes de montanha na Serra da Mantiqueira/Brasil. Os resultados indicam que a ação coletiva derivada de atividades de montanhismo chama à atenção para a necessidade de conservação, apoiando-se em elementos formais da arena e na atuação de atores hábeis, contribuindo para uma gestão bottom-up. O estudo também revela a fragilidade da governança, que se desfaz na ausência de atores hábeis ou quando a estrutura formal se desarticula, destacando o papel desses elementos-chave para fortalecer o processo de ação coletiva.

Biografia do Autor

Camila Espezio Oliveira, Universidade de São Paulo (USP)

Formada em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo (2015), possuindo experiência no setor público e privado. Concluiu em 2018 o mestrado (MSc. em Ciências) pelo Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (PPgSus - EACH/USP), com foco na influência do comércio internacional de commodities agropecuárias no processo de Transição Florestal em países importadores e desmatamento em países exportadores. Concluiu em 2023 o doutorado (Dra. em Ciências) também pelo PPgSus - EACH/USP, com foco no estudo da ação coletiva, por parte de grupos relacionados a atividades de turismo em ambientes naturais, para conservação de ambientes de montanha. Possui experiência com docência e orientação em cursos de graduação e pós-graduação, bem como com a pesquisa. Os principais interesses de pesquisa estão ligados a conservação de ambientes naturais, mudança no uso das terras, turismo em ambientes naturais e ao processo de mudança institucional (normas e regras) sob as perspectivas teóricas da Ecologia Econômica e Governança de Bens Comuns.

Maria João Prudêncio Rafael Canadas, Universidade de Lisboa

Professor na Faculdade de Agronomia da Universidade de Lisboa, Doutor em Engenharia Agronómica (Universidade de Lisboa), Mestre em Ciências em Desenvolvimento Rural (CIHEAM Montpellier) e DESS em Estudos de Desenvolvimento (Université de Montpellier I), desenvolve atividades de ensino e investigação em Socioeconomia Rural e de Recursos Naturais. Leciona programas de graduação e pós-graduação em colaboração com outras Universidades portuguesas (doutoramentos em Gestão Interdisciplinar da Paisagem e Alterações Climáticas e Política de Desenvolvimento Sustentável) e universidades estrangeiras (Mestrado em Agronomia e Recursos Naturais, em Cabo Verde e Angola). Os principais interesses de investigação centram-se na lógica e práticas de gestão de proprietários e utilizadores de terras, análise de tecnologia e processos de trabalho, sistemas agrícolas e florestais, ação coletiva para gestão de recursos naturais, mitigação e adaptação a incêndios florestais, dinâmica de áreas rurais e turismo baseado na natureza. Publicou artigos científicos (revisão por pares internacional) e outras publicações relacionadas com estas questões de investigação.

Alexandre Toshiro Igari, Universidade de São Paulo

Docente, pesquisador e orientador no Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (PPgSUS - EACH-USP). Atua também como docente no curso de bacharelado em Gestão Ambiental da EACH-USP, nas áreas de Administração e Finanças aplicadas à Gestão Ambiental e de Economia Ecológica. Possui doutorado em Ecologia pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), com estágio de doutorado sanduíche concluído na Universidad de Alicante (Espanha). Simultaneamente ao período de doutorado sanduíche, cursou e obteve o mestrado europeu em Gestión y Restauración del Medio Natural pela Universidad de Alicante em 2012. Titulou-se como bacharel em Ciências Biológicas pelo IB-USP em 2005, e como bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade de Administração de Empresas, Economia e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) em 1995. Os principais interesses de pesquisa direcionam-se à mudança do uso das terras rurais e aos processos de mudança institucional (normas e regras) sob as perspectivas teóricas da Economia Ecológica e da Governança dos Comuns.

Referências

Bardin, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

Bramwell, B. Governance, the state and sustainable tourism: a political economy approach. Journal of Sustainable Tourism, 19(4-5), 459-477, 2011. https://doi.org/10.1080/09669582.2011.576765

Brasil. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225 § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Brasília: DOU de 19/07/2000.

Bridle, K. L.; Kirkpatrick, J. B. Impacts of nutrient additions and digging for human waste disposal in natural environments, Tasmania, Australia. Journal of Environmental Management, 69(3), 299-306, 2003. https://doi.org/10.1016/j.jenvman.2003.09.011

Chamberlin, S. “To ensure permanency”: Expanding and protecting hiking opportunities in the twentieth-century Pennsylvania. Pennsylvania History: A Journal of mid-atlantic studies, 77(2), 193-216, 2010. https://doi.org/10.1353/pnh.0.0024

CONAPAM – Conselho Consultivo da APA Serra da Mantiqueira. Relato de Ações do Grupo de Voluntariado da APASM no Âmbito da Câmara Temática de Montanhas (CT-Montanhas) do CONAPAM, 2019a. Disponível em: http://blogconapam.blogspot.com/2019/08/relato-de-acoes-do-grupo-de.html. Acesso em: nov. 2024.

CONAPAM – Conselho Consultivo da APA Serra da Mantiqueira. Monitoramento e Manutenção de Trilhas da APA da Serra da Mantiqueira, 2019b. Disponível em: http://blogconapam.blogspot.com/2019/08/texto-de-mantiqueira-bem-e-analistas-da.html. Acesso em: nov. 2024.

CONAPAM – Conselho Consultivo da APA Serra da Mantiqueira. Ações de Voluntariado no Manejo de Trilhas no Pico do Itaguaré, 2019c. Disponível em: http://blogconapam.blogspot.com/2019/12/acoes-de-voluntariado-no-manejo-de.html. Acesso em: nov. 2024.

CONAPAM – Conselho Consultivo da APA Serra da Mantiqueira. II Reunião Ordinária do Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira Resumo da Reunião, com encaminhamentos. 64ª Ata de Reunião Ordinária, online, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/biodiversidade/unidade-de-conservacao/unidades-de-biomas/mata-atlantica/lista-de-ucs/apa-da-serra-da-mantiqueira/Atas2020.pdf. Acesso em: nov. 2024.

CONAPAM – Conselho Consultivo da APA Serra da Mantiqueira. IV Reunião Ordinária do Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira de 2021: Resumo da Reunião, com encaminhamentos. 69ª Ata de Reunião Ordinária, online, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/biodiversidade/unidade-de-conservacao/unidades-de-biomas/mata-atlantica/lista-de-ucs/apa-da-serra-da-mantiqueira/Atas2021.pdf. Acesso em: nov. 2024.

CONAPAM – Conselho Consultivo da APA Serra da Mantiqueira. I Reunião Ordinária do Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira de 2023: Resumo da Reunião, com encaminhamentos. 74ª Ata de Reunião Ordinária, Pindamonhangaba/SP, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/biodiversidade/unidade-de-conservacao/unidades-de-biomas/mata-atlantica/lista-de-ucs/apa-da-serra-da-mantiqueira/Atas20232compactado.pdf. Acesso em: nov. 2024.

Creswell, J. W. Qualitative inquiry & research design: choosing among five approaches. Thousand Oaks: Sage Publications Inc, 2007.

Dardot, P.; Laval, C. Comum: ensaio sobre a revolução no século XXI. Tradução: Mariana Echalar. São Paulo: Boitempo, 2017.

Denzin, N. K. The Research Act: a theoretical introduction to sociological methods. New York: McGraw-Hill Book Company, 1978.

Dynowski, P.; Senetra, A.; Zróbek-Sokolnik, A.; Kozlowski, J. The impact of recreational activities on aquatic vegetation in Alpine Lakes. Water, 11(1), 173, 2019. https://doi.org/10.3390/w11010173

Fligstein, N. Social skill and the theory of fields. Sociological Theory, 19(2), 105-125, 2001. https://doi.org/10.1111/0735-2751.00132

Gil, A. C. (Org.). Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 6. ed., 2008.

Goldberg, J.; Birtles, A.; Marshall, N.; Curnock, M.; Case, P.; Beeden, R. The role of Great Barrier Reef tourism operators in addressing climate change through strategic communication and direct action. Journal of Sustainable Tourism, 26(2), 238-256, 2017. https://doi.org/10.1080/09669582.2017.1343339

Healy, R. G. The commons problem and Canada’s Niagara Falls. Annals of Tourism Research, 33(2), 525-544, 2006. https://doi.org/10.1016/j.annals.2006.01.003

Hofman, K.; Hughes, K.; Walters, G. Effective conservation behaviours for protecting marine environments: the views of the experts. Journal of Sustainable Tourism, 28(10), 1460-1478, 2020. https://doi.org/10.1080/09669582.2020.1741597

Hoyem, J. Outdoor recreation and environmentally responsible behavior. Journal of Outdoor Recreation and Tourism, 31, 100317, 2020. https://doi.org/10.1016/j.jort.2020.100317

Hwang, D.; Stewart, W. P. Social capital and collective action in rural tourism. Journal of Travel Research, 56(1), 81-93, 2016. https://doi.org/10.1177/0047287515625128

ICMBio – Instituto Chico Mendes de conservação da Biodiversidade. Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira. Brasília: ICMBio, 2018. Disponível em: https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/biodiversidade/unidade-de-conservacao/unidades-de-biomas/mata-atlantica/lista-de-ucs/apa-da-serra-da-mantiqueira/plano-de-manejo-da-apa-da-serra-da-mantiqueira. Acesso em: nov. 2024.

Khirfan, L.; Peck, M.; Mohtat, N. Systematic content analysis: a combined method to analyze the literature on the daylighting (de-culverting) of urban streams. MethodsX, 7, 2020. https://doi.org/10.1016/j.mex.2020.100984

Latip, N. A; Jaafar, M.; Marzuki, A.; Roufechaei, K. M.; Umar, M. U.; Karim, R. The impact of tourism activities on the environment of Mount Kinabalu, UNESCO World

Heritage Site. Journal of the Malaysian Institute of Planners, 18(4), 399-413, 2020. https://doi.org/10.21837/pm.v18i14.841

Mbaiwa, J. E.; Stronza, A. L. Changes in resident attitudes towards tourism development and conservation in the Okavango Delta, Botswana. Journal of Environmental Management, 92(8), 1950-1959, 2011. https://doi.org/10.1016/j.jenvman.2011.03.009

MMA – Ministério do Meio Ambiente. Portaria Nº 351, de 11 de dezembro de 2006. Institui o Mosaico Mantiqueira. Brasília: DOU de 12/12/2006. Disponível em: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=71&data=12/12/2006. Acesso em: nov. 2024.

Newing, H. Conducting research in conservation: a social science perspective. New York: Routledge, 2011.

OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Providing Agri-Environmental public goods through collective action. Paris: OECD Publishing, 2013. https://doi.org/10.1787/9789264197213-en

Oliveira, C. E.; Pavanelli, J. M. M.; Igari, A. T. Governança de bens comuns e o turismo no Monte Everest: uma análise a partir da perspectiva do Institutional Analysis and Development Framework. Turismo e Sociedade, 14(3), 141-164, 2021. https://doi.org/10.5380/ts.v14i3.80965

Oliveira, C. E.; Canadas, M. J. R. P.; Igari, A. T. Nature and people: identifying the impacts of mountaineering activities across different social-ecological settings and approaches. Journal of Ecotourism, 1-21, 2024. https://doi.org/10.1080/14724049.2024.2435290

Olson, M. The logic of collective action. Harvard University Press, 1965.

Ostrom, E. Governing the commons: the evolution of institutions for collective action. Cambridge University Press, 1990.

Ostrom, E. Understanding institutional diversity. Princeton University Press, 2005.

Ostrom, E. Doing institutional analysis: digging deeper than markets and hierarchies. In: Ménard, C. (Ed.).; Shirley, M. M. Handbook of new institutional economics. Boston: Springer, 2008. p. 819–848.

Ostrom, E.; Burger, J.; Field, C. B.; Norgaard, R. B; Policansky, D. Revisiting the commons: local lessons, global challenges. Science, 284(5412), 278-282, 1999. https://doi.org/10.1126/science.284.5412.278.

Partelow, S.; Nelson, K. Social networks, collective action and the evolution of governance for sustainable tourism on the Gili Islands, Indonesia. Marine Policy, 112, 2020. https://doi.org/10.1016/j.marpol.2018.08.004

Pavanelli, J. M. M.; Oliveira, C. E.; Igari, A. T. O desafio das mudanças institucionais na economia ecológica: Um framework a partir do IAD aplicado ao setor de energia elétrica no Brasil. Revista Iberoamericana de Economía Ecológica, 35(1), 36-55, 2022. Disponível em: https://redibec.org/ojs/index.php/revibec/article/view/vol35-1-3.

Pavanelli, J. M. M. et al. An institutional framework for energy transitions: Lessons from the Nigerian electricity industry history. Energy Research & Social Science, 97, 2023. https://doi.org/10.1016/j.erss.2023.102994

Pickering, C. M.; Barros, A. Using functional traits to assess the resistance of subalpine grassland to trampling by mountain biking and hiking. Journal of Environmental Management, 164(1), 129-136, 2015. https://doi.org/10.1016/j.jenvman.2015.07.003

Puri, R. K. Participant observation. In: Newing, H. Conducting research in conservation: a social science perspective. New York: Routledge, 2011. p. 85-97.

Sacareau, I. Changes in environmental policy and mountain tourism in Nepal. Journal of Alpine Research, 97(3), 1-11, 2009. https://doi.org/10.4000/rga.1031

Schmidt, C. M.; Cielo, I. D.; Wenningkamp, K. R.; Tomio, M. Collective actions in sustainable rural tourism: a case study of the Western Region of Paraná. System Research and Behavioral Science, 33, 249-258, 2016. https://doi.org/10.1002/sres.2380

SEMIL – Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística. Guia de áreas protegidas: MONA Mantiqueira Paulista, 2024. Disponível em: https://guiadeareasprotegidas.sp.gov.br/ap/monumento-natural-estadual-da-mantiqueira-paulista/. Acesso em: nov. 2024.

Triviños, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação – O positivismo, a fenomenologia, o marxismo. São Paulo: Atlas, 1987.

Trochim, W. M. K. The research methods knowledge base, 2022. Disponível em: http://www.socialresearchmethods.net/kb/. Acesso em: nov. 2024.

Veal, A. J. Metodologia de pesquisa em lazer e turismo. Tradução: Gleice Guerra, Mariana Aldrigui. São Paulo: Aleph, 2011.

Villamayor-Tomas, S.; Thiel, A.; Amblard, L.; Zikos, D.; Blanco, E. Diagnosing the role of the state for local collective action: Types of action situations and policy instruments. Environmental Science and Policy, 97, 44-57, 2019. https://doi.org/10.1016/j.envsci.2019.03.009

Wikiloc. Marins Itaguaré. Disponível em: https://pt.wikiloc.com/wikiloc/view.do?pic=trilhas-trekking&slug=marins-itaguare&id=12138685&rd=pt. Acesso em: nov. 2024.

Publicado

2025-12-22

Como Citar

Oliveira, C. E., Canadas, M. J. P. R., & Igari, A. T. (2025). Gestão coletiva para a conservação de ambientes de montanha: lições do turismo na travessia Marins-Itaguaré, Serra da Mantiqueira, Brasil. Desenvolvimento E Meio Ambiente, 66, 664–686. https://doi.org/10.5380/dma.v66i.98761