A superposição do direito originário Enawene-Nawe à Estação Ecológica de Iquê: o ocaso de um conflito socioambiental

Autores

  • Marcelo Lopes Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Brasília, DF Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), Rio de Janeiro, RJ Centro de Estudos Sociais (CES), Universidade de Coimbra (UC), Coimbra, Distrito de Coimbra, Portugal https://orcid.org/0000-0001-6089-8412
  • Kátia Torres Ribeiro Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Brasília, DF Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), Rio de Janeiro, RJ

DOI:

https://doi.org/10.5380/dma.v64i0.89317

Palavras-chave:

áreas protegidas, sobreposição territorial, gestão ambiental, conflito socioambiental, Enawene-Nawe

Resumo

Neste artigo analisa-se o processo histórico do conflito socioambiental associado à sobreposição territorial entre a Estação Ecológica (ESEC) de Iquê e a Terra Indígena Enawene-Nawe (TIEN), no Brasil. São relatados e analisados os principais acontecimentos da trama iniciada na década de 70, quando dos contatos iniciais dos Enawene-Nawe com os jesuítas da Missão Anchieta (MIA), seguidos pelos movimentos para a criação da ESEC Iquê até o ápice do conflito entre o povo indígena e os órgãos ambientais que compeliu o órgão então responsável pela ESEC, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a acatar a extinção oficial da ESEC em 2019. Realizou-se o levantamento e análise da legislação brasileira pertinente; documentos oficiais governamentais; cartas dos missionários jesuítas; e livros de memórias de Thomaz de Aquino Lisbôa, jesuíta que liderou o processo de reconhecimento da TIEN, e Paulo Nogueira-Neto, ambientalista que concebeu e liderou a criação das primeiras estações ecológicas. Com o objetivo de analisar as consequências socioambientais da adoção do modelo estadunidense de área ambientalmente protegida pelo Estado brasileiro e outros países, utilizam-se os conceitos sociológicos elaborados por Antônio Carlos Diegues e Paul Little. Parte-se da hipótese de que a criação da ESEC Iquê sobre o território tradicional de um povo indígena em processo de identificação significou, mais que um mero equívoco institucional, a reprodução da razão instrumental colonialista que marca indelevelmente o Estado brasileiro; e constata-se que a extinção da ESEC se deveu à incisiva reivindicação dos Enawene-Nawe pela plena posse de seu território em reação a fatos objetivos de negação de direitos, mas também pela incapacidade e desinteresse dos órgãos de Estado em encontrar meios de viabilizar uma gestão compartilhada.

Biografia do Autor

Marcelo Lopes, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Brasília, DF Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), Rio de Janeiro, RJ Centro de Estudos Sociais (CES), Universidade de Coimbra (UC), Coimbra, Distrito de Coimbra, Portugal

Analista ambiental do ICMBio, com atuação na gestão territorial em parceria com povos e comunidades tradicionais, sobreposição de áreas protegidas com terras indígenas, economia solidária e monitoramento ambiental comunitário. Doutorando em Pós-Colonialismos e Cidadania Global pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Mestre e doutorando em Biodiversidade em Unidades de Conservação pela Escola Nacional de Botânica Tropical/Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Especialista em Estado e Direito de Povos e Comunidades Tradicionais pela Universidade Federal da Bahia e em Epistemologias do Sul pelo Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais. Bacharel e licenciado em História pelo Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universi-dade Federal do Mato Grosso.

Kátia Torres Ribeiro, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Brasília, DF Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), Rio de Janeiro, RJ

Docente do Curso de Pós Graduação Profissional Biodiversi-dade em Unidades de Conservação (Escola Nacional de Botânica Tropical/ Instituto de Pes-quisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro) e analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, com atuação nas áreas de planejamento e manejo adaptativo e participativo, gestão do conhecimento, sobreposição territorial, manejo integrado e outros que se relacionam nas complexas realidades socioambientais associadas a políticas públicas. Bióloga, Dra. em Ecologia

Publicado

2024-10-11

Como Citar

Lopes, M., & Torres Ribeiro, K. (2024). A superposição do direito originário Enawene-Nawe à Estação Ecológica de Iquê: o ocaso de um conflito socioambiental. Desenvolvimento E Meio Ambiente, 64. https://doi.org/10.5380/dma.v64i0.89317

Edição

Seção

Artigos