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O sertanejo e as experiências de inverno no Seridó Potiguar

Neusiene Medeiros da Silva, Anna Jéssica Pinto de Andrade, Cimone Rozendo de Souza

Resumo


No Nordeste brasileiro, é recorrente entre os sertanejos a prática de “experiências de inverno”. Estas consistem na observação de elementos da paisagem, como: a fauna, a flora, o movimento dos astros, entre outros aspectos, com a finalidade de prever chuvas ou secas. As “experiências de inverno” compõem um repertório de estratégias historicamente construídas que medeiam a relação entre os sertanejos nordestinos de regiões semiáridas e a seca. Neste artigo, analisou-se até que ponto estas experiências de inverno orientam as práticas produtivas dos agricultores familiares que habitam as regiões do sertão no Seridó Potiguar. A área de estudo compreendeu comunidades rurais dos municípios de Caicó, Acari, Parelhas e Lagoa Nova. Foram entrevistados 241 agricultores em 29 comunidades destes municípios. O estudo identificou que, apesar do alto grau de difusão de previsões meteorológicas científicas, estas não chegam a suplantar o conhecimento tradicional das experiências de inverno. Observou-se que tais experiências encontram-se bastante disseminadas entre os agricultores, exercendo funções diversas em seus modos de vida que extrapolam, e muito, a organização do sistema produtivo. Além da prevenção das intempéries ambientais e das previsões de seca ou chuvas, estas experiências desempenham um papel simbólico como intermediadoras da fé em Deus e como alimentadoras da esperança sertaneja. Portanto, as experiências de inverno praticadas por agricultores no sertão do Seridó figuram como estratégias de reprodução social de um modo de vida específico, reatualizando a esperança destes de um ano “bom de inverno”, mais do que organizando suas atividades produtivas.


Observação dos Editores: O artigo foi publicado em 28 de junho de 2013. Em 13 de julho de 2013, o arquivo foi substituído devido à uma correção na Nota de Rodapé 2 na página 88.


Palavras-chave


sertanejo; seca; experiências de inverno; meteorologia popular.

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/dma.v27i0.29829