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MAIS OU MENOS NEGRA? QUESTÕES DE NEGRITUDE, TRADUÇÃO E A POESIA DE HARRYETTE MULLEN

Lauro Maia Amorim

Resumo


Este trabalho discute questões oriundas da tradução, por mim realizada, de uma seleção de poemas de Harryette Mullen, autora afro-americana contemporânea em ascensão, cuja densa poesia versa sobre a oralidade negra, o experimentalismo da escrita, a música afro-americana, além de focalizar temas como a representação da sexualidade feminina (negra). Um dos aspectos complexos de sua poesia é a noção de miscigenação ou mestiçagem, concebida como um argumento estético e como uma condição constitutiva da identidade multirracial dos norte-americanos. Essa noção viabiliza uma textualidade que questiona a inteligibilidade acessível que geralmente se espera da poesia negra americana, na medida em que mosaicos de vozes dissonantes são trazidos à tona em seu texto, tornando-o difícil de categorizar. No Brasil, especialmente entre os afro-brasileiros mais engajados, tem-se criticado o louvor à noção de miscigenação, por esta supostamente participar da sustentação do mito da democracia racial. Com base nesses aspectos, investiga-se em que medida seria um desafio traduzir sua poesia ― fundamentada na miscigenação e no hibridismo como construto estético ― ao se levar em conta o lugar discursivo dos leitores identificados com uma estética afro-brasileira, mormente crítica da noção de miscigenação. Do ponto de vista tradutório, avalia-se em que medida a sua poesia poderia ser lida pelo discurso cultural vigente no Brasil, inclinado a favorecer a miscigenação como uma concepção integral da identidade nacional, como uma poética sedutoramente experimental. Em face disso, questiona-se se essa perspectiva tornaria a sua poesia “menos negra” para os padrões literários afro-brasileiros.


Palavras-chave


Letras; Tradução; Literatura Afro-Americana; Miscigenação

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/rel.v85i1.26637