SERÁ QUE A LEI MARIA DA PENHA ME PROTEGE? BREVES REFLEXÕES SOBRE A APLICAÇÃO DA LEI 11.340/06 NOS CASOS EM QUE A VÍTIMA É UMA MULHER TRANSEXUAL
DOI:
https://doi.org/10.5380/diver.v17i1.92469Resumo
O objetivo desse trabalho é analisar se a Lei Maria da Penha pode ser aplicada nos casos em que a vítima de violência doméstica e familiar for mulher transexual. Por mulher transexual se entende a pessoa que nasceu biologicamente como “homem”, mas se identifica com o gênero feminino, independentemente da alteração do registro de identidade ou de realização de cirurgia de transgenitalização. Para tanto, inicia-se com a apreciação de questões relacionadas a gênero, transexualidade, violência contra a mulher edireitos humanos. Conclui-se pela possibilidade da aplicação da Lei nº 11.340/06 em caso de violência doméstica em que a vítima for mulher transexual. A metodologia utilizada foi a pesquisa exploratória, descritiva, documental e bibliográfica, tendo como base a leitura e análise de artigos, nas áreas da Antropologia, Direito e Psicologia, além da observaçãode Acórdãos de alguns tribunais, a partir do método dedutivo de abordagem.
Referências
ARGENTINA, Ley 26.743, de mayo 23 de 2012. Establéce el derecho a la identidad de género de las personas. Disponível em: < https://www.buenosaires.gob.ar/sites/gcaba/files/ley_26.743_de_identidad_de_genero.pdf>. Acesso: 26 jul. 2022.
BACHEGA, Jessica. Mulheres trans denunciam delegada ao MPE por recusa de atendimento. Gazeta Digital, Cuiabá/MT, 23 de setembro de 2020. Cidades. Disponível em: <https://www.gazetadigital.com.br/editorias/cidades/mulheres-trans-denunciam-delegada-ao-mpe-por-recusa-de-atendimento/630129>. Acesso: 20 de jun. de 2022.
BENEVIDES, Bruna G. Dossiê: assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras em 2022. Brasília, DF: Distrito Drag; ANTRA, 2023. Disponível em: <https://antrabrasil.files.wordpress.com/2023/01/dossieantra2023.pdf >. Acesso: 13 fev. de 2023.
BENTO, Berenice. Da transexualidade oficial às transexualidades. In: PISCITELLI, Adriana; GREGORI, Maria Filomena; CARRARA, Sérgio. Sexualidade e saberes: convenções e fronteiras. Rio de Janeiro: Garamond, 2004, p. 143-172.
_______. A diferença que faz a diferença: corpo e subjetividade na transexualidade. Revista Bagoas (4): p. 95-112, 2009.
_______. Transviad@s: gênero, sexualidade e direitos humanos. Salvador: EDUFBA, 2017.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso: 19 jun. 2022.
_______. Lei 11.340, de 07 de agosto de 2006. Dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso:
jun. 2022.
_______. Projeto de Lei n° 191, de 13 de junho de 2017. Altera a redação do art. 2º da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 ( Lei Maria da Penha), para assegurar à mulher as oportunidades e facilidades para viver sem violência, independentemente de sua identidade de gênero. Brasília: Senado Federal, 2017. Disponível em: <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/129598>. Acesso: 13 fev. 2022.
BRAZ, Camilo Albuquerque de; ALMEIDA, Anderson Santos. Espera, Paciência e Resistência – reflexões antropológicas sobre transexualidades, curso de vida e itinerários de acesso à saúde. Revista de Antropologia, 63: p. 1-17, 2020.
BUTLER, Judite. Corpos que importam: os limites discursivos do “sexo”. São Paulo: Crocodilo Edições, 2019.
_______. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 15. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.
COÊLHO, Gleisson Roger de Paula; BARROS, Elizete da Rocha Vieira de. Quando a arte expressa vivências: Ponderações sobre a transexualidade feminina a partir do filme “a garota dinamarquesa”. COR LGBTQIA+, [S. l.], v. 1, n. 5, p. 40–52, 2023. Disponível em: <https://revistas.ceeinter.com.br/CORLGBTI/article/view/669>. Acesso: 29 ago. 2023.
COLLING, Leandro; NOGUEIRA, Gilmaro. Relacionados mas diferentes: sobre o conceito de homofobia, heterossexualidade compulsória e heteronormatividade, In: RODRIGUES, Alexsandro; DALLAPICULA, Cararina; FERREIRA, Sérgio Rodrigues da S., Transposições: lugares e fronteirassem sexualidade e educação. Vitória: EDUFES, 2015, p. 171-183.
CONNELL, Raewyn. Gênero em termos reais. São Paulo: nVersos, 2016.
COSTA, Jurandir Freire. O referente da identidade homossexual. In: PARKER, R. & BARBOSA, R. (orgs.). Sexualidades Brasileiras. Rio de Janeiro: Relume Dumará/ABIA-IMS-UERJ, 1996, p. 63-89.
GASPODINI, Icaro Bonamigo; JESUS, Jaqueline Gomes de. Heterocentrismo e Ciscentrismo: crenças de superioridade sobre orientação sexual, sexo e gênero. Revista Universo Psi. Taquara: 1(2), 33-51, 2020.
GREGORI, Maria Filomena. Cenas e Queixas: Um estudo sobre mulheres, relações violentas e a prática feminista. São Paulo: Paz e Terra, 1992.
_______. Limites da sexualidade. violência, gênero e erotismo. Revista de Antropologia, São Paulo: USP, 51(2), p. 575-606, 2008.
GROSSI, Miriam Pillar. Rimando amor e dor: reflexões sobre a violência no vínculo afetivo-conjugal. In: PEDRO, Joana; GROSSI, Miriam P. (Orgs.). Masculino, feminino, plural. Florianópolis: Editora Mulheres, 1998, p. 293-313.
JESUS, Jaqueline Gomes de. Homofobia: identificar e prevenir. Rio de Janeiro: Metanoia, 2015.
KATZ, Jonathan Ned. A invenção da heterossexualidade. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996.
LAMAS, Marta. Cuerpo, Sexo y Política. México S.A.: Editorial Océano de México, 2013.
LAQUEUR, Thomas. Inventando o sexo - Corpo e gênero dos Gregos a Freud. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.
LOPES, Saskya Miranda; LEITE, Bianca Muniz. Proteção para quem? Lei Maria da Penha e as Mulheres Trans. In: PEREIRA, Denise. (Org.). Sexualidade e relações de gênero. 1. ed. Ponta Grossa: Antonella Carvalho de Oliveira, v. 1, 2019, p. 26-33.
MALUF, S. W. Corporalidade e desejo. Tudo sobre minha mãe e o gênero na margem. Estudos Feministas, Florianópolis: 10(1), p. 143-153, 2002.
MELO, Miguel Ângelo Silva de. As representações sociais da violência e o debate nas Ciências Socias. In. SILVA, Lielton Maia; DUARTE, Sandra Mary; GOMES FILHO, Antoniel dos Santos (Org.). Violência de Gênero: resistência em tempos de crise no Brasil. João Pessoa: Ideia, 2017, p. 34-65.
OLIVEIRA, Melissa Barbieri de. TRANSTORNANDO O CAMPO DO DIREITO: uma análise da construção da categoria transexual na doutrina jurídica brasileira e seus efeitos no reconhecimento das pessoas trans como sujeito de direitos. Tese de Doutorado, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017, 357 p.
ONU. Violência contra as mulheres é ‘pandemia global’, diz chefe da ONU. Brasília/DF, 19 de setembro de 2017. Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/77629-onu-destaca-import%C3%A2ncia-das-parcerias-para-acabar-com-viol%C3%AAncia-de-g%C3%AAnero>. Acesso: 19 jun. 2022.
RICH, Adrienne. Heterossexualidade compulsória e a existência lésbica. Revista Bagoas (5): p. 17-44, 2010.
SILVEIRA, Vladmir Oliveira da; ROCASOLANO, Maria Mendes. Direitos Humanos: conceitos, significados e funções. São Paulo: Saraiva, 2010.
TARNOVSKI, Flávio Luiz. Prazer, desejo e verdade: narrativas de pais gays que tiveram seus filhos em uniões heterossexuais. In: BRAZ, Camilo Albuquerque de; HENNING, Carlos Eduardo (Org.). Gênero, sexualidade e curso de vida: Diálogos latino-americanos. Goiânia: Imprensa Universitária, 2017, p. 144-171.
VIEIRA, Tereza Rodrigues; GOMES, Luiz Geraldo do Carmo. A família trans e o direito. In: VIEIRA, Tereza Rodrigues; CARDIN, Valéria Silva Galdino; BRUNINI, Bárbara Cossettin Costa Beber (Org.). Famílias, Psicologia e Direito. Brasília/DF: Zakarewicz Editora, 2018, p. 341-354.
WITTIG, Monique. El pensamento heterosexual y otros ensayos. Madrid: Egales, 2006.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Direitos Autorais (copyright)
Não serão pagos direitos autorais aos autores dos textos publicados pela revista. Os direitos autorais são do autor, no entanto, seu acesso é público e de uso gratuito.