Open Journal Systems

A vitória pírrica da democracia constitucional

Fausto Santos de Morais, Fernando Gabriel Ghiggi

Resumo


Na tradicional concepção de separação de poderes, o Legislativo assume o lócus das decisões políticas na sociedade por excelência. Não obstante, o controle judicial de constitucionalidade (judicial review) ascendeu de forma contumaz, sendo visto como aspecto essencial e indispensável às democracias constitucionais contemporâneas. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal é expressamente consagrado guardião da Constituição, revelando-se detentor da última palavra nos diálogos institucionais travados com os demais poderes do Estado. Para muitos, a ascensão do Judiciário se trata de uma vitória à garantia dos direitos fundamentais. Para outros, trata-se tão somente de uma vitória pírrica: aparenta-se como uma conquista, mas seus prejuízos sobrepõem-se aos ganhos. Adepto dessa premissa, o jusfilósofo Jeremy Waldron desenvolve vasta crítica ao controle jurisdicional de constitucionalidade, alicerçado em uma concepção ideal de instituições legislativas. Com efeito, indaga-se: é possível extrair contribuições ao contexto jurídico e político brasileiro pelo estudo da teoria de Waldron? Partindo-se dessa problemática, a presente pesquisa objetiva estudar e apresentar a teoria do citado autor, especulando-se, ao final, possíveis contribuições.

Palavras-chave


jurisdição constitucional; controle de constitucionalidade; diálogos institucionais; separação de poderes; Jeremy Waldron.

Texto completo:

PDF

Referências


BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2135-MC. Rel. Min. Néri da Silveira. Tribunal Pleno. Julgado em 02/08/2007.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4277. Rel. Min. Ayres Britto. Tribunal Pleno. Julgado em 05/05/2011.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4983. Rel. Min. Marco Aurélio. Tribunal Pleno. Julgado em 06/10/2016.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4650. Rel. Min. Luiz Fux. Tribunal Pleno. Julgado em 17/05/2015.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5127. Rel. Min. Rosa Weber. Relator para o acórdão: Rel. Min. Edson Fachin. Tribunal Pleno. Julgado em 15/10/2015.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 126292. Min. Rel. Min. Marco Aurélio. Relator para o acórdão: Rel. Min. Roberto Barroso. Primeira Turma. Julgado em 09/08/2016.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança nº 32326-MC. Rel. Min. Luís Roberto Barroso. Julgado em 02/09/2013.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança nº 33630 MC. Rel. Min. Rosa Weber. Julgado em 16/06/2015.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Reclamação nº 4335. Rel. Min. Gilmar Mendes. Tribunal Pleno. Julgado em 20/03/2014.

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Estatísticas eleitorais 2016 - Eleitorado. Disponível em: . Acesso em 28 set. 2016.

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Estatísticas eleitorais 2014. Disponível em: . Acesso em 28 set. 2016.

BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2011.

BARROSO, Luís Roberto. Reforma política no Brasil: os consensos possíveis e o caminho do meio. Texto-base de apresentação na Faculdade de Direito da Universidade de Harvard, 2015. Disponível em: . Acesso em 24 set. 2017.

BUSTAMANTE, Thomas; DE GODOI BUSTAMANTE, Evanilda. Jurisdição Constitucional na Era Cunha: entre o Passivismo Procedimental e o Ativismo Substancialista no STF. Revista Direito e Práxis, Rio de Janeiro, vol. 7, n. 1, p. 346-388, 2016.

CAPPELLETTI, Mauro. O controle de constitucionalidade no direito comparado. Trad. de Aroldo Plínio Gonçalves. Porto Alegre, 1984.

CHEIBUB, José Antônio; FIGUEIREDO, Argelina Cheibub; LIMONGI, Fernando. Partidos Políticos e Governadores como determinantes do comportamento legislativo na Câmara dos Deputados. Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 52, n. 2, p. 263-299, 2009.

DWORKIN, Ronald. Freedom’s Law: the moral reading of the American Constitution. New York: Oxford University Press, 1996.

ELY, John Hart. Democracia e desconfiança: uma teoria do controle judicial de constitucionalidade. Trad. de Juliana Lemos. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

FIGUEIREDO, Argelina Cheibub; LIMONGI, Fernando. Instituições Políticas e Governabilidade: Desempenho do governo e apoio legislativo da democracia brasileira. In: Carlos Ranulfo Melo; Manuel Alcântara Sáez. (Org.). A Democracia Brasileira: Balanço e perspectivas para o Século 21. Belo Horizonte: UFMG, 2007.

KLARMAN, Michael J. How Brown changed race relations: the backlash thesis. The Journal of American History, Oxford, vol. 81, n. 1, p. 81-118, jun. 1994.

LOEWENSTEIN, Karl. Teoría de la constitutión. 2. ed. Barcelona: Ariel, 1976.

MENDES, Conrado Hübner. Direitos fundamentais, separação de poderes e deliberação. São Paulo: Saraiva, 2011.

MORAIS, Fausto Santos de. Ponderação e arbitrariedade: a inadequada recepção de Alexy pelo STF. Salvador: Juspodivm, 2016.

MORAIS, Fausto Santos de; DOS SANTOS, José Paulo Schneider. Democracia às escuras?. Empório do direito. Disponível em: . Acesso em 26 out. 2015.

POST, Robert C.; SIEGEL Reva B. Roe Rage: Democratic constitutionalism and backlash. Harvard Civil Rights-Civil Liberties Law Review, Cambridge, vol. 42, n. 2, p. 373-433, 2007.

REIS, Márlon. Eleições proporcionais em dois turnos: um sistema eleitoral para o país. In: ARANTES, Aldo Silva (Org.). A OAB e a reforma política democrática. Brasília: OAB, 2014, p. 39-50.

ROESLER, Claudia Rosane. Entre o paroxismo de razões e a razão nenhuma: paradoxos de uma prática juridical. Revista de Direito da Universidade de Brasília, Brasília, vol. 2, n. 1, p. 79-95, 2016.

SILVA, Virgílio Afonso da. “Um voto qualquer”? O papel do Ministro Relator na deliberação no Supremo Tribunal Federal. Revista Estudos Institucionais, Rio de Janeiro, vol. 1, n. 1, p. 180-200, jul./dez. 2015.

SILVA, Virgílio Afonso da. Deciding without deliberating. International Journal of Constitutional Law, Oxford, vol. 11, n. 3, p. 557-584, jul./sept. 2013.

SILVA, Virgílio Afonso da. O STF e o controle de constitucionalidade: deliberação, diálogo e razão pública. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, vol. 250, p. 197-227, 2009.

STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica em crise: uma exploração hermenêutica da construção do Direito. 11. ed. rev., atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2014.

STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição constitucional e decisão jurídica. 4. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014.

STRECK, Lenio Luiz. Os Dilemas da Representação Política: O Estado Constitucional entre a Democracia e o Presidencialismo de Coalizão. Direito, Estado e Sociedade, Rio de Janeiro, n. 44, p. 83-101, jan./jun. 2014.

SUNSTEIN, Cass. A Constitution of many minds: why the founding document doesn’t mean what it meant before. New Jersey: Princeton University Press, 2009.

TUSHNET, Mark. New institutional mechanisms for making constitutional law. In: BUSTAMANTE, Thomas; FERNANDES, Bernardo Gonçalves (Orgs.). Democratizing constitutional law: perspectives on legal theory and the legitimacy of constitutionalism. Heidelberg: Springer, 2016, p. 179-183.

VIEIRA, Oscar Vilhena. Supremocracia. Revista Direito GV, São Paulo, vol. 4, n. 2, p. 445-463, jul./dez. 2008.

WALDRON, Jeremy. A dignidade da legislação. Trad. de Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

WALDRON, Jeremy. Judges as moral reasoners. International Journal of Constitutional Law (I-CON), Oxford, vol. 7, n. 1, p. 2-24, 2009.

WALDRON, Jeremy. Judicial Review and Judicial Supremacy. Public Law and Legal Theory Research, New York, p. 14-57, 2014. Disponível em: . Acesso em: 12 nov. 2015.

WALDRON, Jeremy. Law and disagreement. New York: Oxford University Press, 1999.

WALDRON, Jeremy. Legislating with Integrity. Fordham Law Review, New York, vol. 72, n. 2 p. 373-394, 2003.

WALDRON, Jeremy. Parliamentary recklessness: why we need to legislate more carefully. Maxim Institute. Auckland: New Zealand, 2008.

WALDRON, Jeremy. Political political theory: essays on institutions. Cambridge: Harvard Univeristy Press, 2016.

WALDRON, Jeremy. Refining the question about judges’ moral capacity. International Journal of Constitutional Law (I-CON), Oxford vol. 7, n. 1, p. 69-82, 2009.

WALDRON, Jeremy. The core case against judicial review. The Yale Law Journal, New Haven vol. 115, n. 6, p. 1346-1406, apr. 2006.




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/rinc.v6i1.56004

Apontamentos

  • Não há apontamentos.