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O inventário poliglota como instrumento epistemológico da formação metodológico-conceitual da linguística comparativa do século XIX

Gissele Chapanski

Resumo


Inventariar itens é prática recorrente na história do conhecimento. Ao viabilizar raciocínios indutivos, ilustrar processos dedutivos, salvaguardar ou disponibilizar saberes, as listas constituem instrumento metodológico e filosófico do pensar. Tanto é, que a coleta ordenada de exemplos, espécimes, dados de toda ordem consiste em procedimento comum a ponto de soar naturalizado. Longe, porém, de ser mero instrumental neutro, o inventário revela chaves epistêmicas capazes de traduzir as concepções operacionalizadas por determinado autor, disciplina ou escola de pensamento (AMSTERDAMSKA, 1987). Embora como objeto ou resultado a lista se repita, suas natureza e funções não permanecem uniformes. O enciclopedismo de Plínio não é o de Diderot. No caso específico dos estudos linguísticos, é possível flagrar inventários constituindo tabelas de analogias nos antigos gramáticos, exemplificando classes de palavras, motivando ou ilustrando teses diversas. Individualizadas, essas listagens se amparam sobre noções lógicas fundamentais, como as de categoria e paradigma, mas as articulam de modo particular. No cenário que antecedeu a linguística comparativa de Bopp, compilações como o Dicionário Universal de Pallas (1786), o Catálogo de Hervás (1800) e o Mithridates de Adelung (1806-17) atuaram como repositórios de diversidade linguística. Essas obras manifestam, ainda que concebidas sob distintas finalidades e critérios, uma guinada epistemológica na direção do dado que refletirá diretamente na linguística posterior (MORPURGODAVIES, 1998). Abordando mais pontualmente o exemplo de Adelung, o presente trabalho fará uma breve análise do papel desses inventários, entre estudo tipológico e fonte para uma genealogia das línguas, e sua transição da polimatia à especialização nos estudos linguísticos do século XIX. 


Palavras-chave


Inventários linguísticos; Mithridates; método histórico-comparativ

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/rel.v104i1.84133