Do rebentar da imagem: ou releitura do epílogo de Uma faca só lâmina (1955) a partir da reavaliação da fortuna crítica cabralina
Resumo
Dentre os muitos pontos consensuais da fortuna crítica dedicada à obra de João Cabral de Melo Neto, encontra-se a ideia de que A educação pela pedra (1966) seja um divisor de águas, zênite da carreira do “poeta-engenheiro”. Essa ideia pressupõe que, tal qual o próprio Sol, João Cabral enquanto poeta emergiria da madrugada onírica de Pedra do Sono (1942), até que, acendendo à medida que ascendesse, atingisse o apogeu da clareza e da claridade: o meio-dia de A educação pela pedra. Logo depois, sua obra perderia “algo da contundência solar” (SANTIAGO, 1982, p. 44), seja pelo supostamente menor grau de obsessão arquitetônica em relação ao livro como unidade de sentido, seja pela hipertrofia do “contar de si”, i.e., do veio autobiográfico. Na contramão dessa narrativa, este artigo tenciona, se não descartar inteiramente a teleologia da obra (e sua consequente dicotomia), ao menos destacar suas fissuras. Nesse intuito, busca-se reavaliar “As incertezas do sim” (1982), texto de Silviano Santiago que, inobstante o fôlego curto e o sabor de resenha, pode ser considerado paradigmático não só pelo poder de influência de seu autor no campo da crítica especializada de poesia mas também pela maneira categórica com a qual reproduz o pressuposto teleológico. Em um segundo momento, empreende-se uma revisão do epílogo de Uma faca só lâmina (1955) a fim de ressaltar, justamente em um dos poemas mais representativos da “fase de ascensão”, as marcas que Santiago toma por exclusivas da suposta “fase de ocaso”.
Palavras-chave
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PDFDOI: http://dx.doi.org/10.5380/rel.v102i0.76452