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Tempos e línguas em trânsito na escrita de Virginia Woolf

Helena Franco Martins

Resumo


“Onde rir ao ler os gregos?”, provoca Virginia Woolf em um ensaio sugestivamente intitulado “On not knowing Greek”. O humor, ela nos diz ali, é uma das primeiras coisas que se perde na tradução: mais interessante do que esta cansada afirmação, quase clichê, é a razão relativamente opaca com que Woolf a justifica: é que o humor se atrela sempre a um “senso do corpo” (sense of the body). Neste artigo, busco mostrar como o pensamento tradutório que tem lugar neste pequeno ensaio participa de um interesse maior da escritora pela cena de tradução e pelo embate com línguas estrangeiras de um modo geral. As atividades conduzidas por Woolf em torno das línguas e da tradução, longe de configurarem um interesse difuso ou marginal, parecem ter sido instrumentos para a realização de seu declarado projeto artístico: inventar uma sintaxe poética capaz de insurgências intempestivas sobre a ordem hostil que reconhecia na língua e na literatura do seu tempo. Interesso-me em especial por articular aquilo que Woolf diz e faz quanto ao trânsito das línguas com aquilo que diz e faz quanto ao trânsito dos tempos. Sustento que essa articulação pode nos levar além das afirmações conservadoras e relativamente desinteressantes que a escritora faz de modo explícito sobre a tradução, deixando entrever um pensamento-práxis no qual a atividade tradutória surge como uma tensão entre temporalidades capaz de mobilizar e deslocar não tanto visões mas sensibilidades – “sensos do corpo”.

Palavras-chave


Virginia Woolf, tradução, tempo

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/rel.v95i0.48883