“[...] Sermos bons alunos para sermos bons pais”
a escolarização da parentalidade
DOI:
https://doi.org/10.1590/1984-0411.96137Palavras-chave:
Formação Parental, Parentalidade, Relação Família-Escola, Estratégias Educacionais, Camadas Médias e SuperioresResumo
Este artigo discute o fenômeno da formação parental entendido como uma estratégia educativa implementada por mães e pais para acumularem informações que os permitam fazer bons investimentos no futuro dos filhos. O trabalho se apoiou em uma pesquisa empírica que analisou materiais escritos de formação parental publicados no Brasil, a saber: 20 exemplares da revista Crescer, 12 livros sobre parentalidade e nove perfis do Instagram. Os resultados das análises apontam para um público imaginado composto por mulheres, majoritariamente brancas e de camadas mais altas socialmente. Em especial, vemos que a marca principal desse fenômeno na contemporaneidade é a sua intensificação e organização dentro de uma forma escolar que coloca mães e pais em uma posição de aprendizes, por meio do estabelecimento de uma aprendizagem racional e pedagogizada para a prática parental. Os materiais analisados evidenciam um discurso normativo para a parentalidade que pretende formar crianças com habilidades, competências e conhecimentos valorizados na escola, como a resiliência, a flexibilidade e o controle de si.
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