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Reflexões conceituais e metodológicas sobre o “barroco” das biografias

Priscila Oliveira Coutinho

Resumo


Pretendo neste texto apresentar reflexões conceituais e metodológicas
produzidas em pesquisa de doutorado que se dedicou à reconstrução
sociológica da trajetória de uma mulher, trânsfuga de classe, chamada
Juscelina. A pesquisa teve duração de 16 meses, dentro dos quais foram
realizadas entrevistas, pesquisa em variados tipos de documentos e
incursões etnográficas. Dos muitos desafios da investigação, apresento
aqui duas questões que se articulam. A primeira refere-se à utilização do
conceito de trânsfuga. A segunda discute o valor sociológico da pesquisa
biográfica. Praticando o artesanato intelectual que constrói explicações no
entrelaçamento entre a pesquisa de campo e a literatura das ciências sociais,
exponho o processo que me levou a considerar produtivo o conceito de
trânsfuga para o caso em análise, e argumento que as críticas do campo
sociológico ao método biográfico, exemplarmente sintetizadas no clássico
“A Ilusão Biográfica”, de Pierre Bourdieu, devem ser relativizadas em
consideração às maneiras como se procede em cada investigação empírica.
Para tanto, me valho da minha experiência e dos argumentos de Schwartz
(1990) e Lahire (2010). Concluo que as pesquisas biográficas em ciências
sociais não precisam subsumir os relatos pessoais às dimensões estruturais
que também explicam a trajetória (origem social e geográfica, cor, gênero,
nível de escolaridade, etc.), mas sim articular a riqueza barroca das visões de si, das relações construídas e do mundo observado e vivido à reconstrução dos constrangimentos estruturais que pavimentam os percursos individuais.


Palavras-chave


biografia; trânsfuga; ilusão biográfica; trajetória

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