Literacia histórica e história transformativa
Resumo
Educação Histórica, como a própria história, é um conquista precária; é vulnerável a agendas políticas e educacionais que procuram mesclá-la com outras partes do currículo, ou reduzi-la a um veículo para a cidadania ou valores comuns patrióticos. Se tivermos a expectativa de nos engajarmos em uma discussão séria na Educação Histórica em face destes desafios, devemos evitar lemas polares como "tradicional versus progressista”, “centrado na criança versus centrado na matéria" e "habilidades versus o conteúdo", que tem produzido muita confusão na literatura. Em particular, deve-se evitar falar de competências, com a sua infeliz concessão de licenças a convenientes e tolos currículos genéricos. A história é uma forma pública de conhecimento e o desenvolvimento de uma tradição metacognitiva, com as suas próprias normas e critérios. Há evidências que sugerem que a história é contra-intuitiva, e que entendê-la envolve a alteração ou até mesmo o abandono de ideias cotidianas que tornam o conhecimento do passado impossível. Consequentemente o ensino de história envolve o desenvolvimento de um aparato conceitual de segunda ordem que permite que a história siga em frente, em vez de imobilizá-la e, ao fazê-lo, abre a perspectiva de mudança de uma visão cotidiana da natureza e do estado do conhecimento do passado em um conhecimento histórico. Isto nos permite dar conta do que significa saber um pouco de história - um provisório conceito de literacia histórica – como um aprendizado de uma compreensão disciplinar da história, como a aquisição das disposições que derivam e impulsionam essa compreensão histórica, e como o desenvolvimento de uma imagem do passado, que permite que os alunos se orientem no tempo. Existem pesquisas para informar o debate sobre o primeiro componente, mas há pouco disponível para o segundo. Há um interesse atual considerável no terceiro componente, mas o debate centrou-se sobre a questão perene da "ignorância" das crianças, em vez de reconhecer que o problema é encontrar maneiras de permitir que os alunos adquiram passados históricos utilizáveis que não são histórias fixas. A obtenção de literacia histórica potencialmente transforma a visão de mundo de crianças (e de adultos) e permite ações até então - literalmente - inconcebíveis para eles. Entender a importância disto para o ensino da história significa abandonar hábitos de pensar com base em um presente instantâneo, em que uma forma de apartheid temporal separa o passado do presente e do futuro. Significa, também, desencaixotar as formas em que a história pode transformar como vemos o mundo. Tais transformações podem ser dramáticas em longas extensões, ou mais localizadas e específicas. Elas podem mudar a forma como vemos oportunidades e constrangimentos políticos ou sociais, a nossa própria identidade ou dos outros, a nossa percepção das feridas e fardos que herdamos, e a adequação das explicações das principais características do nosso mundo. Eles podem sugerir revisões constrangedoras do nosso entendimento e expectativas de como o mundo humano funciona. E eles podem nos ajudar a conhecer melhor o que não dizer. Literacia histórica envolve tratar o passado como uma ecologia temporal interconectada capaz de suportar uma gama indefinida de histórias, não apenas algo que usamos para contar a história que melhor se adapte aos nossos objetivos e desejos imediatos. Como outras formas públicas de conhecimento, a história é uma tradição metacognitiva que as pessoas têm lutado longa e duramente para desenvolver e ser capaz de praticar. É uma conquista frágil, a ser tratada com respeito e cuidado nas escolas.
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