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Os conceitos de Doxa e Episteme como determinação ética em Platão

Karen Franklin

Resumo



Ao tratar dos conceitos de doxa e episteme
na obra de Platão, tem-se de levar em conta
uma evolução desses termos, no que se
refere a sua precisão terminológica. Podese
assinalar que nos primeiros diálogos esses
termos apresentam certas nuanças
terminológicas que não correspondem,
precisamente, ao compreendido no diálogo
da República. Nesses primeiros diálogos,
doxa e episteme estão sempre mesclados
a outros conceitos e só podem ser
definidos a partir da relação dialética entre
eles. Isso faz com que tais conceitos se
modifiquem durante o primeiro período da
obra platônica. Nos primeiros diálogos,
compreende-se doxa como simples opinião.
O temo grego encerra a significação
de uma certa noção de julgamento e sentimento,
no sentido de resolução e decisão
parcial, baseada unicamente nos dados
presentes. Isso implica que doxa é compreendida
como um certo juízo subjetivo
que tem valor apenas momentâneo, um
juízo que não poderá ser referência ética,
pois tem presente a possibilidade da falsidade
das crenças que suportam a ação. Sob
a mesma perspectiva, nesses primeiros diálogos,
episteme é vista como uma techné,
uma habilidade para fazer algo, um tipo
de saber que tem seu suporte no conhecimento
especializado e preciso da coisa.
Essa noção de episteme instrinsecamente
ligada à techné também aparece no início
do diálogo Górgias como sinônimo de
didaskaliké, mas que logo é abandonado por
Platão pela proximidade com a arte de
Górgias. Esse fato assinala a preocupação
crescente em Platão em ajustar os termos
dentro de uma precisa terminologia. No diálogo
República, esses termos adquirem uma
nova delimitação e, apesar de serem considerados
radicalmente opostos, mantêm entre
si uma relação intrinsecamente necessária.
Doxa na República é reafirmada como
simples opinião, mas se distancia de
episteme, no que concerne ao valor do conhecimento.
Aqui episteme, como conhecimento
da realidade das coisas, manifesta-
se como diretamente ligado à Idéia do
bem, no sentido de esta garantir a veracidade
do conhecimento. Portanto, na República
o termo episteme, que antes suportava
a possibilidade de ser habilidade para
algo, agora adquire o conteúdo de saber
pleno de certeza, um saber evidente que está
ligado diretamente com a realidade da Idéia.
Com isso, episteme, na República, configura-
se como conhecimento verdadeiro
diametralmente afastado de doxa, que se
configura como simples opinião. Apesar
disso, tanto no Górgias como na República,
surge o problema da doxa verdadeira
como possibilidade de se manter a ação
devida sem a precisão conceitual que a suporta.
Isso implica que, em alguma instância
da relação entre epistemologia e ética,
é possível considerar a ação sob o ponto
de vista de uma doxa verdadeira, mas isso
não significa que esse tipo de saber poderá
tornar-se fundamento ético em Platão.O problema da determinação de tais conceitos
está ligado ao estabelecimento das
questões éticas que aparecem nos primeiros
diálogos até a República e que não se
mantêm, da mesma forma, até o diálogo
as Leis. Com isso, podemos notar que tais
diálogos sustentam a estruturação ética do
pensamento de Platão e tornam possíveis
a abordagem das questões nos diálogos
posteriores.


Palavras-chave


Platão; doxa; episteme.

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