Aberta a submissão de artigos para o Dossiê “Inovação e tradição na História Transnacional dos Saberes e Práticas Educacionais”
O dossiê será organizado pela professora e pesquisadora Ana Laura Godinho Lima e pelo também professor e pesquisador Bruno Bontempi Júnior, da Universidade de São Paulo (USP) com a intenção de pautar as tensões entre as forças da tradição e da inovação no universo dos saberes e das práticas escolares. O dossiê deverá conter artigos que abordem as maneiras pelas quais, ao longo dos séculos XIX e XX, formaram-se e se difundiram histórica e transnacionalmente os valores, signos e critérios de inovação e tradição, adiantamento ou atraso, por meio dos quais se tornou possível comparar e hierarquizar sistemas escolares, instituições, saberes, práticas e sujeitos. Sua proposta vincula-se e desdobra-se como uma das iniciativas do Projeto Temático Saberes e práticas em fronteiras: por uma história transnacional da educação, do qual os organizadores do presente Dossiê são colaboradores.
Entre 01 de dezembro de 2024 e 15 de abril de 2025, encontra-se aberta a submissão de artigos junto a este DOSSIÊ, que tem como objetivo principal descrever e interpretar, em perspectiva histórica e não teleológica, os modos como se manifestaram o empenho dos educadores em preservar saberes e práticas tradicionais, aprendidos em sua formação e valorizados na experiência. E, simultaneamente, as críticas que se fizeram a essa tradição, as iniciativas de renovação dos programas e métodos de ensino e as expectativas associadas às inovações pedagógicas, em perspectiva histórica e não teleológica.
No decorrer do século XIX, o tema da evolução tornou-se central nas ciências naturais e sociais, e o desenvolvimento dos indivíduos, assim como o progresso social, foram pensados da perspectiva evolucionista, que apreendia as diferenças entre os indivíduos e os grupos humanos em termos de maior ou menor grau de civilização e progresso. No campo da educação, tida como fator crucial para alavancar ou aperfeiçoar os passos evolutivos, deu-se uma intensa circulação global de sujeitos e objetos culturais, por meio de congressos e exposições, viagens, missões diplomáticas ou religiosas, produção e circulação de livros, periódicos e materiais escolares, motivada pela demanda por ajustes sensíveis nas condições de oferta dos serviços educativos, à medida que o primado da competição, na lógica evolutiva, alimentava as ideologias nacionalistas e supremacistas. Essa circulação transnacional de educadores, saberes e práticas pedagógicas era motivada pela busca dos avanços científicos, que permitiriam emancipar os sujeitos das comunidades locais, cujas mentalidades e modos de vida tradicionais eram considerados obstáculos ao progresso. Tinha-se em vista, na formulação de Popkewitz (2017, p.57), a formação do "cidadão cosmopolita inacabado", em processo contínuo de aperfeiçoamento, capaz de tomar decisões e de planejar a própria vida de modo racional. Promover o pleno cumprimento das leis naturais do desenvolvimento humano e da história das sociedades exigia a adequação da escola em vista desses futuros, situados no espaço-tempo da existência humana e não mais, ou apenas, na vida eterna. Isso exigia um ajuste virtuoso da tradição – o amálgama do patrimônio erudito, histórico e identitário das comunidades nacionais e dos saberes e práticas educativas acumuladas pela civilização – à inovação, ou seja, aos saberes e práticas necessários para os ajustes, locais e globais, da educação escolar ao devir de indivíduos e grupos humanos mais adaptados e adaptáveis aos mutantes meios, natural e social.
ATENÇÃO: Autoras e autores com interesse em submeter artigo, indicamos atentar-se às Diretrizes que podem ser conferidas https://revistas.ufpr.br/educar/about/submissions. Os artigos aprovados para compor o Dossiê deverão ter uma versão em língua estrangeira. Do mesmo modo, artigos em língua estrangeira aprovados deverão ser traduzidos para o português, com exceção dos originais em espanhol. Os custos com tradução, assim como com a revisão linguística de ambas as versões, são de responsabilidade dos autores.