A participação da sociedade civil no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen)
DOI:
https://doi.org/10.5380/rfdufpr.v68i2.86338Palavras-chave:
Pesquisa empírica. Patrimônio genético. Conhecimento tradicional associado. Sociedade civil. CGen.Resumo
Este artigo tem por objetivo analisar a participação dos setores da sociedade civil no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen) – órgão administrativo responsável pelo controle do acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado. Questiona-se o que os dados referentes às reuniões plenárias revelam sobre a participação da sociedade civil, representada pelos setores da indústria, da academia e dos povos e comunidades tradicionais, tendo como base as mudanças na estrutura do CGen, ocasionadas pela Lei nº 13.123/2015. Buscou-se verificar como se dá a representação da sociedade civil no CGen a partir de sua natureza, composição e qualificação dos seus representantes. Foram utilizados como dados empíricos as atas e pautas das reuniões plenárias do CGen, após a vigência da Lei nº 13.123/2015, compreendendo 21 reuniões ordinárias e três reuniões extraordinárias. Esses documentos foram coletados para, por meio das regras de inferência, explorar como acontece a participação da sociedade na produção normativa do Conselho. Evidenciou-se a partir desta pesquisa que há, entre os participantes do Conselho, a prevalência de representantes do setor da indústria entre os conselheiros e entre os ouvintes. Com isso, conclui-se que pode existir uma distribuição irregular do poder político na construção normativa da política pública no CGen e, logo, de direitos fundamentais. Trata-se de uma pesquisa preliminar que pretende, a partir dessa primeira análise, discutir as tensões políticas presentes nesse espaço, suas disputas e processos de decisão.
Referências
ALMEIDA, Carla; TATAGIBA, Luciana. Os conselhos gestores sob o crivo da política: balanços e perspectivas. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 109, p. 68-92, mar. 2012. Disponível em: https://tinyurl.com/385tfkyy. Acesso em: 12 jun. 2021.
ALMEIDA, Debora Rezende de. Representação como processo: a relação Estado/sociedade na teoria política contemporânea. Revista de Sociologia e Política, [s. l.], v. 22, n. 50, p. 175-199, 2014. Disponível em: https://tinyurl.com/ms247ps4. Acesso em: 12 jun. 2021.
ALMEIDA, Debora Rezende de. Representação Política e Conferências: os desafios da inclusão da pluralidade. Texto para discussão 1750. Brasília: Ipea, 2012.
AMBIENTE GLOBAL. Sobre nós. São Paulo, 2016. Disponível em: https://tinyurl.com/msdpxu44. Acesso em: 4 dez. 2021.
AVRITZER, Leonardo. Instituições participativas e desenho institucional: algumas considerações sobre a variação da participação no Brasil democrático. Opinião Pública, [s. l.], v. 14, n. 1, p. 43-64, 2008. Disponível em: https://tinyurl.com/2fdjjw7z. Acesso em: 13 jun. 2021.
BARRETO, Daniel Weingart. Patrimônio genético brasileiro: protegê-lo ou aproveitá-lo comercialmente? J. Braz. Chem. Soc., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 191-193, fev. 2012. Disponível em: https://tinyurl.com/3ywv476a. Acesso em: 11 mar. 2022.
BARROS, Benedita da Silva; PINHEIRO, Antônio S. F. O Acesso à Biodiversidade e o Consentimento Prévio e Informado (CPI) como Instrumentos de Inclusão Social e Acesso aos Direitos Humanos. Revista da Faculdade de Direito UFPR, Curitiba, v. 43, n. 0, 2005. Disponível em: https://tinyurl.com/32z6uc3y. Acesso em: 11 mar. 2022.
BENSUSAN, Nurit. Breve histórico da regulamentação do acesso aos recursos genéticos no Brasil. In: LIMA, André; BENSUSAN, Nurit (org.). Quem cala consente? Subsídios para a proteção dos conhecimentos tradicionais. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2003. p. 9-16.
BORBA, Julian; LÜCHMANN, Ligia Helena Hahn. A representação política nos conselhos gestores de políticas públicas. Urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, [s. l.], v. 2, p. 229-246, 2010.
BRASIL. Decreto 8.772, de 11 de maio de 2016. Regulamenta a Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015, que dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de benefícios para conservação e uso sustentável da biodiversidade. Brasília/DF: Presidência da República, 2016. Disponível em: https://tinyurl.com/4p24aku9. Acesso em: 8 jul. 2021.
BRASIL. Decreto 9.784, de 7 de maio de 2019. Declara a revogação, para fins do disposto no art. 16 da Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, e no art. 9º do Decreto nº 9.759, de 11 de abril de 2019, de decretos normativos. Brasília/DF: Presidência da República, 2019b. Disponível em: https://tinyurl.com/mspf4v8a. Acesso em: 8 jul. 2021.
BRASIL. Lei 13.123, de 20 de maio de 2015. Regulamenta o inciso II do § 1º e o § 4º do art. 225 da Constituição Federal, o Artigo 1, a alínea j do Artigo 8, a alínea c do Artigo 10, o Artigo 15 e os §§ 3º e 4º do Artigo 16 da Convenção sobre Diversidade Biológica, promulgada pelo Decreto nº 2.519, de 16 de março de 1998; dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de benefícios para conservação e uso sustentável da biodiversidade; revoga a Medida Provisória nº 2.186-16, de 23 de agosto de 2001; e dá outras providências. Brasília/DF: Presidência da República, 2015. Disponível em: https://tinyurl.com/5dyxa98p. Acesso em: 8 jul. 2021.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho de Gestão do Patrimônio Genético. Reuniões anteriores. Brasília/DF, 2021. Disponível em: https://tinyurl.com/ypurxzw8. Acesso em: 11 mar. 2022.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho de Gestão do Patrimônio Genético. Portaria MMA nº 381, de 03 de outubro de 2017. Brasília/DF, 3 out. 2017b. Disponível em: https://tinyurl.com/2kyk9bkb. Acesso em: 8 jul. 2021.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Patrimônio Genético e Conhecimentos Tradicionais Associados. Brasília/DF, 23 out. 2017a. Disponível em: https://tinyurl.com/5n8e6fcn. Acesso em: 14 jun. 2021.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Biodiversidade. Departamento de Apoio ao Conselho de Gestão do Patrimônio Genético. Nota Informativa nº 435/2018-MMA. Brasília/DF, 28 maio 2018. Disponível em: https://tinyurl.com/3bk49tj6. Acesso em: 8 jul. 2021.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade 6.121 Distrito Federal. Relator: Min Marco Aurélio. Brasília/DF, 13 de junho de 2019a. Disponível em: https://tinyurl.com/33zu5mcv. Acesso em: 11 dez. 2022.
CAPPI, Ricardo. A “teorização fundamentada nos dados”: um método possível na pesquisa empírica em Direito. In: MACHADO, Maíra Rocha (org.). Pesquisar empiricamente o Direito. São Paulo: Rede de Estudos empíricos em Direito, 2017. p. 391-422.
CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL (CNA). O Futuro é Agro - Plano de Trabalho - 2018-2030. Brasília/DF, 2018. Disponível em: https://tinyurl.com/4su8r8vj. Acesso em: 11 dez. 2021.
CONVENÇÃO SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA (CDB). Conferência das partes da Convenção da Diversidade Biológica. Relatório do Progresso na Implementação da Convenção e do Plano Estratégico pela Biodiversidade 2011-2020 e a Conquista dos Objetivos pela Biodiversidade de Aichi. Montreal, Canadá, 19 de dezembro de 2022. Disponível em: https://tinyurl.com/2p8mch3a. Acesso em: 15 mar. 2023.
CUCO, Pedro Henrique Oliveira. O marco legal da biodiversidade do Brasil e a violação dos direitos dos povos tradicionais. 2019. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Direito e Inovação) – Faculdade de Direito, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2019. Disponível em: https://tinyurl.com/2uyt7fpn. Acesso em: 11 nov. 2022.
EPSTEIN, Lee; KING, Gary. Pesquisa Empírica em Direito: as regras de inferência. São Paulo: Direito GV, 2013.
FELSBERG ADVOGADOS. Propriedade Intelectual. São Paulo, 2021. Disponível em: https://tinyurl.com/yc84wem6. Acesso em: 4 dez. 2021.
FERES, Marcos Vinício Chein; ALVES, Marco Antônio. Para uma ciência e um direito pós-modernos. Revista da Faculdade de Direito Milton Campos, Belo Horizonte, v. 10, p. 17-55, 2003.
FERES, Marcos Vinício Chein; ALVES, Marco Antônio. Racionalidade ou razoabilidade? Uma questão posta para a dogmática. Revista da Faculdade de Direito, Belo Horizonte, n. 39, p. 285-315, 2001.
FERES, Marcos Vinício Chein; CUCO, Pedro Henrique Oliveira; MOREIRA, João Vitor de Freitas. As origens do marco legal da biodiversidade – as políticas de acesso e remessa. Revista da Faculdade de Direito da UFG, Goiânia, v. 42, n. 3, p. 35-64, 2019. DOI: 10.5216/rfd.v42i3.49540. Disponível em: https://tinyurl.com/ekwpk9zk. Acesso em: 16 mar. 2023.
FERRO, Ana Flávia; BONACELLI, Maria Beatriz; ASSAD, Ana Lúcia. Uso da biodiversidade e acesso a recursos genéticos no Brasil: atual regulamentação dificulta pesquisa e desenvolvimento. Inovação Uniemp, Campinas, v. 2, n. 2, p. 16-17, abr./jun. 2006. Disponível em: https://tinyurl.com/ycv8sawp. Acesso em: 12 jul. 2021.
GOMES, Magno Federici; VASCONCELOS, Carlos Frederico Saraiva de. Das Atribuições Administrativas na Gestão e Supervisão do Patrimônio Genético Brasileiro. Revista Eletrônica do Curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, v. 11, n. 1, p. 348-364, 2016.
GRAF, Ana Claudia B. Direito, Estado e Economia Globalizada: as Patentes de Biotecnologia e o Risco de Privatização da Biodiversidade. Revista da Faculdade de Direito UFPR, Curitiba, v. 34, n. 0, p. 133-142, 2000. Disponível em: https://tinyurl.com/4z4unfa3. Acesso em: 11 mar. 2022.
GSS CARBONO E BIOINOVAÇÃO (GSS). São Paulo, 12 maio 2022. Disponível em: https://www.gss.eco/. Acesso em: 15 mar. 2023.
MACHADO, Carlos José Saldanha; GODINHO, R. de S. Dinâmica e características do processo brasileiro de regulação do acesso à diversidade biológica e aos conhecimentos tradicionais associados. Revista de Informação Legislativa, Brasília, v. 48, n. 191, p. 123-138, 2011.
PINTO, Mônica da Costa. Casa de Discussão: uma análise da produção da norma a partir do campo do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético. 2012. Dissertação (Mestrado em Mestrado em Direito Ambiental) – Escola Superior de Ciências Sociais, Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, 2012. Disponível em: https://tinyurl.com/3y6cw97y. Acesso em: 11 nov. 2022.
RIBEIRO, Luiz Gustavo Gonçalves; BRITO, Nathalia Bastos do Vale. Participação das comunidades tradicionais na lei de acesso aos recursos genéticos: diálogos com a Teoria Discursiva do Direito em Habermas. Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, v. 14, n. 1, p. 149-175, jan./abr. 2018. ISSN 2238-0604. Disponível em: https://tinyurl.com/36s68mce. Acesso em: 12 dez. 2021.
SACCARO JR, Nilo L. A regulamentação de acesso a recursos genéticos e repartição de benefícios: disputas dentro e fora do Brasil. Ambient. soc., São Paulo, v. 14, n. 1, p. 229-244, jun. 2011. Disponível em: https://tinyurl.com/3bhp96fc. Acesso em: 13 jun. 2021.
SANTILLI, Juliana (in memoriam). Biodiversidade e Conhecimentos Tradicionais Associados: o novo regime jurídico de proteção. R. Minist. Públ. Dist. Fed. Territ., Brasília, n. 9, p. 21-73, 2015.
SANTILLI, Juliana. Agrobiodiversidade e direitos dos agricultores. São Paulo: Petrópolis, 2009.
SHIRAISHI NETO, Joaquim; DANTAS, Fernando Antonio de Carvalho. A ‘Commoditização’ do Conhecimento Tradicional: notas sobre o processo de regulamentação jurídica. In: ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de (org.). Conhecimento Tradicional e Biodiversidade: normas vigentes e propostas. 1. ed., v. 1. Manaus: PPGDA-UEA: PPGSC: F. Ford: Fundação Universidade do Amazonas, 2008. p. 57-83.
SHIRAISHI NETO, Joaquim; RIBEIRO, Thayana B. O.; RABÊLO, Laíza B. A proteção do conhecimento tradicional associado à biodiversidade diante de um novo marco legal. Revista de Direito Econômico e Socioambiental, Curitiba, v. 9, n. 3, p. 161-184, 2018. Disponível em: https://tinyurl.com/3d2te6u4. Acesso em: 16 mar. 2022.
TATAGIBA, Luciana. Conselhos gestores de políticas públicas e democracia participativa: aprofundando o debate. Rev. Sociol. Polit., Curitiba, n. 25, p. 209-213, nov. 2005. Disponível em: https://tinyurl.com/4965hymy. Acesso em: 22 jun. 2021.
TOZZINIFREIRE ADVOGADOS. Propriedade Intelectual. São Paulo, 2019. Disponível em: https://tinyurl.com/y6uaw2ss. Acesso em: 10 dez. 2021.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Os autores que publicam na Revista concordam com os seguintes termos:
– os autores mantêm os direitos autorais e transferem à Revista o direito de primeira publicação, com o trabalho licenciado sob a Licença Creative Commons — Atribuição 3.0 Brasil — CC BY 3.0 BR, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e da publicação inicial na Revista;
– os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada na Revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento da autoria e da publicação inicial na Revista;
– qualquer pessoa é livre para compartilhar (copiar e redistribuir o trabalho em qualquer suporte ou formato) e para adaptar (remixar, transformar e criar a partir do trabalho) para qualquer fim, mesmo que comercial, devendo todavia, em qualquer caso, dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas no trabalho original, nos termos da Licença Creative Commons — Atribuição 3.0 Brasil — CC BY 3.0 BR e respeitados a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, e outros normativos vigentes.