Ações e omissões na Política Nacional de Cultura (2019-2021): um Estado de Coisas Inconstitucional?

Autores

  • Cláudio Lins de Vasconcelos UFRGS

DOI:

https://doi.org/10.5380/rrddis.v1i2.93473

Palavras-chave:

Direitos culturais, política nacional de cultura, estado de coisas inconstitucional.

Resumo

As normas e políticas que regem os me-canismos de fomento, apoio e preserva-ção da cultura no Brasil são a expressão, no nível infraconstitucional, de preceitos fundamentais lastreados na Constituição Federal e em instrumentos basilares do Direito Internacional dos Direitos Huma-nos. São, em última análise, elementos essenciais ao pleno exercício dos direitos culturais, e mesmo da liberdade de expres-são, de forma mais ampla. A recusa ou fa-lha sistemática da Administração Pública em conferir eficácia social a esses direitos constituem, ao menos potencialmente, descumprimento de preceito fundamen-tal, sujeito a ação de controle concentrado de constitucionalidade. Nos últimos anos, acumulam-se evidências de retrocesso na implementação dessas políticas públicas, relevadas por atos e omissões que vão da paralisação ou redução drástica de linhas de investimento público aos atos análogos à censura. Por revelarem a prevalência de uma situação de violação generalizada a direito fundamental, com um número am-plo e indeterminado de pessoas afetadas, cuja solução depende da atuação conjunta e coordenada dos diversos órgãos públicos, esse quadro constitui um Estado de Coisas Inconstitucional na gestão das políticas públicas de cultura, com prejuízos severos e de longo prazo para o desenvolvimento sociocultural do país.

Biografia do Autor

Cláudio Lins de Vasconcelos, UFRGS

Advogado. Doutor em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, mestre em Direito pela Universidade de Notre Dame e bacharel em Direito pela Uni-versidade Federal da Bahia. É professor do programa de pós-graduação em direito da propriedade intelectual da PUC-Rio e do mestrado profissional em Gestão Cultural da UFRGS, e membro do Conselho Empresarial da Indústria Criativa da FIRJAN. Foi se-cretário de economia da cultura do Ministério da Cultura, assessor adjunto de assun-tos internacionais do Ministério da Justiça, consultor do Banco Mundial e presidente da Comissão de Direitos Autorais, Intelectuais e do Entretenimento da OAB/RJ.

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Publicado

2023-11-28

Como Citar

Vasconcelos, C. L. de. (2023). Ações e omissões na Política Nacional de Cultura (2019-2021): um Estado de Coisas Inconstitucional?. Revista Rede De Direito Digital, Intelectual & Sociedade, 1(2), 137–157. https://doi.org/10.5380/rrddis.v1i2.93473

Edição

Seção

Parte II - As novas fronteiras dos direitos intelectuais