Documento, interpretação e representação: os anos iniciais da Casa de Oração do Vale de Lágrimas, Vila de Minas Novas, 1754 / Document, interpretation and representation: the initial years of the Casa de Oração do Vale de Lágrimas, Vila de Minas Novas, 1754
DOI:
https://doi.org/10.5380/rhhe.v3i7.66152Palavras-chave:
Educação Feminina, Casa de Oração, Vila de Minas Novas, Representação / Women's Education, Prayer House, RepresentationResumo
Pretendo analisar um documento que retrata os anos iniciais da Casa de Oração do Vale de Lágrimas, uma instituição educativa feminina que existiu próxima à Vila de Minas Novas, na Capitania de Minas Gerais, no século XVIII. O documento analisado é considerado, até então, como o mais antigo da referida instituição: um ofício do Arcebispo da Bahia, D. José Botelho de Matos, enviado para Diogo de Mendonça Corte Real, datado de 1754. Neste ofício, o Arcebispo solicita a verificação da existência de um Recolhimento feminino no sertão da Capitania de Minas Gerais. No processo de verificação é possível encontrar informações acerca da primeira Regente da instituição, das demais habitantes da Casa e das práticas educativas desenvolvidas na instituição, bem como alguns detalhes da habitação, da religiosidade e do apoio da população local à sua manutenção. Observa-se que as práticas educativas tinham tanto um caráter devocional, como também preparavam as mulheres para o trabalho doméstico e o aprendizado da escrita e da leitura. Encontramos ainda as manobras discursivas da Regente, dos padres e da população local para informar que a instituição não era um Recolhimento e, assim, não passar para a supervisão do arcebispado baiano. O documento é compreendido enquanto uma representação de um determinado grupo com a intencionalidade de enganar o arcebispo e se manter distante das normas que mudariam o funcionamento da instituição.
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I intend to analyze a document which depicts the initial years of the Casa de Oração do Vale de Lágrimas, an institution for women's education that existed next to the Vila de Minas Novas, in the Captaincy of Minas Gerais, during the XVIII century. The analyzed document is considered, until now, as the oldest on the institution: a craft of the Archbishop of Bahia, Mr. José Botelho de Matos, sent to Diogo de Mendonça Corte Real, dated 1754. In this craft, the Archbishop requests to verify the existence of a female safe house in the backcountry of the Captaincy of Minas Gerais. Over this verification process is possible to find information about the first Director from the institution, the other residents and their educational practices developed there, as well as some details of housing, religiousness e the support of the local population for its maintenance. It is observed that educational practices had both a devotional feature, and also prepared women for housework and learning to write and read. We even found the discursive maneuvers of the Director, the priests and the local population to inform that the institution was not a safe house and, therefore, do not pass the supervision to the archbishopric of Bahia. The document is understood as a representation of a particular group with the intend to deceive the archbishop and to keep distant from the norms that would change the behavior of the institution.