A representação da maternidade dissidente em "Las Malas", de Camila Sosa Villada
DOI:
https://doi.org/10.5380/rvx.v19i4.97385Resumo
Nos últimos vinte e quatro anos, a narrativa latino-americana passou por diversas mudanças em relação às produções anteriores, destacando-se temas como maternidade e questões de identidade de gênero. A obra Las Malas da autora Camila Sosa Villada exemplifica essas transformações, retratando a história de um grupo de travestis liderado pela tia Encarna, que encontra um bebê no Parque Sarmiento e o acolhe como filho. Esta pesquisa analisa as concepções hegemônicas sobre maternidade e a dissidência presente no romance de Sosa Villada, evidenciando a representação de uma mãe travesti. Nela, a "maternidade dissidente" é caracterizada por experiências maternas que divergem do conceito tradicional de maternidade, desafiando a noção de "instinto materno" como uma experiência natural e universal. Para tal discussão, utilizamos como referente teórico os estudos de gênero e sexualidade de Judith Butler, Paul B. Preciado e Michel Foucault. Bem como os estudos de maternidade e suas dissidências de Elisabeth Badinter e de Silvia Federici. Além disso, pesquisas críticas da literatura latino-americana atual, como a de Leonardo-Loyza. Por fim, conclui-se que obra desnaturaliza a visão tradicional e única de maternidade, propondo novas formas de vivenciar e criar laços familiares, sendo um marco importante na representação literária das diferentes experiências maternas.
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