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“NÃO TENHO INTERESSE NO TEMA E DISCORDO DE TAL CONCEPÇÃO IDEOLÓGICA”: A CRUZADA MORAL ANTI-GÊNERO E OS ECOS (NEO)CONSERVADORES NOS DEBATES DE GÊNERO NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

Rosânia Campos, Iana Gomes de Lima, Camila Schlickmann Ribeiro

Resumo


Este artigo objetiva analisar o avanço das ondas (neo)conservadoras na América Latina e as repercussões no campo da educação no Brasil. De início, traçou-se brevemente a influência estadunidense nos países de capitalismo periférico e seu enlace com o crescimento do ementário religioso. Em seguida, analisou-se alguns dos principais movimentos que defendem a manutenção da família tradicional e os seus desdobramentos legais. Por fim, refletiu-se sobre alguns impactos da ofensiva anti-gênero no campo da educação. O trabalho possui natureza qualitativa, com a análise documental da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), Plano Nacional de Educação (PNE), Projetos de Lei (PL) e Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n.º 457. Conclui-se que as ondas (neo)conservadoras se capilarizaram na América Latina junto ao forte investimento religioso na difusão de seus valores morais e, no Brasil, esse movimento têm atuado nos poderes legislativo, executivo e judiciário e tensionado o campo da educação.


Palavras-chave


Educação; Políticas Educacionais; Direito à Educação; Gênero; Neoconservadorismo.

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/jpe.v17i2.89496