A TRIUNFANTE DÉCADA NEOLIBERAL NOS CURRÍCULOS GAÚCHOS
DOI:
https://doi.org/10.5380/diver.v15i1.80828Resumo
A fim de analisar as recentes reformas curriculares que vêm acontecendo no Estado do Rio Grande do Sul, o artigo é desenvolvido tomando por base os seguintes objetivos teórico-metodológicos: 1) através das indicações de Michel Foucault e de outros analistas sobre o neoliberalismo, refutar as análises simplistas que tomam o pensamento neoliberal como um retorno ao laissez-faire apregoado pelo liberalismo clássico, pois tal filosofia rejeita a concepção de que a realidade aconteça por meio da troca, mas sim através da competição entre os indivíduos, de forma que todos precisam ser submetidos à norma da concorrência; 2) desconsiderar que haja no neoliberalismo um desejo de retirada do Estado da economia de mercado, posto que no bojo das escolas neoliberais se defende que o mercado não é natural, mas uma realidade construída com a qual o Estado deve estar de acordo e ajudar a produzir; 3) Suspeitar, consequentemente, das configurações dessas diretrizes curriculares: pretensamente progressistas, supostamente inovadores e aparentemente democráticas, integram-se aos regimes de verdade do pensamento neoliberal no sentido de demandarem que as instituições conduzam os indivíduos ao empreendedorismo, com a empresa se transformando em modelo de identidade. Por intermédio da análise de discurso foucaultiana, conclui-se que no Rio Grande do Sul as matrizes curriculares procuram responder a interesses utilitaristas, cujas potencialidades residiriam no incremento do capital humano de cada estudante, que investe sobre si para se tornar vendável futuramente. De acordo, portanto, com a noção de que no neoliberalismo a educação é uma das peças-chave: ela pode simular o maior número possível de situações de mercado, impondo aos sujeitos a obrigação de se capitalizarem.
Palavras-chave: Michel Foucault; Discurso; Arquivo; Educação; Rio Grande do Sul.
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