Dignidade humana e negatividade: um estudo acerca da teoria dos direitos humanos de Jay Bernstein
DOI:
https://doi.org/10.5380/rfdufpr.v70i3.97254Palavras-chave:
Dignidade humana, Negatividade, Direitos humanos, Jay BernsteinResumo
A teoria contemporânea dos direitos humanos é marcada pelo debate entre abordagens ortodoxas e políticas. Teorias ortodoxas ou morais aceitam as seguintes teses: tese da natureza, segundo a qual os direitos humanos são direitos morais, cuja titularidade é de todo ser humano em razão, exclusivamente, da sua humanidade, e tese da fundamentação, para a qual a existência e o conteúdo dos direitos humanos são identificados por meio do raciocínio moral natural, ainda que este possa vir a ser auxiliado por outras formas de raciocínio. As teorias políticas rejeitam integralmente ou em parte essas teses. Em contraste com ambas as vertentes, Jay Bernstein propõe uma compreensão da dignidade humana fundada na experiência da vítima, entendida como momento negativo capaz de revelar aspectos constitutivos da existência humana e, assim, gerar conteúdo normativo para a dignidade. O objetivo deste trabalho é analisar filosoficamente o conceito de dignidade humana a partir de sua relação com a negatividade social, definida como experiências de sofrimento, humilhação e violação. O método consiste em uma investigação crítica das duas correntes predominantes da teoria dos direitos humanos, articulada com os aportes teóricos de Bernstein. Os resultados indicam que a dignidade pode ser concebida não apenas como fundamento da prática institucional dos direitos humanos, mas também como categoria capaz de incorporar experiências de negatividade social em sua definição. Conclui-se que essa concepção amplia o alcance crítico da dignidade, permitindo denunciar injustiças e formas de sofrimento que se configuram como negação de um valor intrínseco essencial.
Referências
BALIBAR, Étienne. What is a Politics of the Rights of Man? In: BALIBAR, Étienne. Masses, Classes, Ideas. Routledge: Nova Iorque, 1994.
BAYNES, Kenneth. Toward a political conception of human rights. Philosophy & Social Criticism, v. 35, n. 4, p. 371-390, 2009.
BEITZ, Charles. Human Dignity in the Theory of Human Rights: Nothing But a Phrase? Philosophy & Public Affairs, v. 41, n. 3, p. 259-290, 2013.
BEITZ, Charles. What Human Rights Mean. Daedalus, v. 132, n. 1, p. 36-46, 2003.
BERNSTEIN, Jay M. Recognition and Embodiment: Fichte’s Materialism. In: BUSCH, Hans-Cristoph Schmidt am; ZURN, Cristopher F. The Philosophy of Recognition: Historical and Contemporary Perspectives. Plymouth: Lexington Books, 2013.
BERNSTEIN, Jay M. Rights. In: Political Concepts: a critical lexicon. 2018b. v 4. Disponível em: https://tinyurl.com/47m74x6r. Acesso em: 21 mar. 2022.
BERNSTEIN, Jay M. Rule of Law. In: BERNSTEIN, Jay M.; OPHIR, Adir; STOLER, Ann Laura. Political Concepts: A Critical Lexicon. Nova Iorque: Fordham University Press, 2018a.
BERNSTEIN, Jay M. Suffering Injustice: Misrecognition as Moral Injury in Critical Theory. International Journal of Philosophical Studies, v. 13, n. 3, p. 303-324, 2005.
BERNSTEIN, Jay M. Torture and Dignity: An Essay on Moral Injury. Chicago: The University of Chicago Press, 2015.
BRANDOM, Robert B. The Structure of Desire and Recognition. Philosophy & Social Criticism, v. 33, n. 1, p. 125-148, 2007.
COHEN, Joshua. Minimalism About Human Rights: The Most We Can Hope For? Journal of Political Philosophy, v. 12, n. 2, p. 190-213, 2004.
ETINSON, Adam; LIAO, Matthew. Political and Naturalistic Conceptions of Human Rights: A False Polemic? Journal of Moral Philosophy, v. 9, n. 3, p. 327-352, 2012.
FOLLESDAL, Andreas. Theories of Human Rights: Political or Orthodox – Why It Matters. In: MALIKS, Reidar; SCHAFFER, Johan (org.). Moral and political conceptions of human rights: implications for theory and practice. Nova Iorque: Cambridge University Press, 2017.
GRIFFIN, John. On human rights. Oxford: Oxford University Press, 2010.
LUBAN, David. Human Rights Pragmatism and Human Dignity. In: CRUFT, Rowan; LIAO, S. Matthew; RENZO, Massimo (ed.). Philosophical foundations of human rights. 1. ed. Oxford: Oxford University Press, 2015.
RAZ, Joseph. On Waldron’s Critique of Raz on Human Rights. In: ETINSON, Adam (ed.). Human Rights: Moral or Political? Oxford: Oxford University Press, 2018. p. 139-144. DOI: https://doi.org/10.1093/oso/9780198713258.003.0008.
RODRIGUES, Gabriel C. V. Os direitos humanos no pensamento de James Griffin. Revista Direito GV, São Paulo, v. 18, n. 1, e2212, 2022.
TASIOULAS, John. Are Human Rights Essentially Triggers for Intervention? Philosophy Compass, v. 4, n. 6, p. 938-950, 2009.
TASIOULAS, John. Human Dignity and the Foundations of Human Rights. In: MCCRUDDEN, Christopher (ed.). Understanding human dignity. Oxford: Oxford University Press, 2014.
TASIOULAS, John. Taking Rights out of Human Rights. Ethics, v. 120, n. 4, p. 647-678, 2010.
TRIVISONNO, Alexandre T. G.; RODRIGUES, Gabriel C. V. O conceito de direitos humanos: ortodoxo ou político? Espaço Jurídico Journal of Law [EJJL], v. 19, n. 3, p. 703-730, 2019.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Saulo Monteiro Martinho de Matos, Arthur Pedroso de Almeida

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os autores que publicam na Revista concordam com os seguintes termos:
– os autores mantêm os direitos autorais e transferem à Revista o direito de primeira publicação, com o trabalho licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, permitido o compartilhamento do trabalho desde que com reconhecimento da autoria e da publicação inicial na Revista;
– os reutilizadores devem dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia o reutilizador ou a reutilização;
– os reutilizadores não podem aplicar restrições adicionais, termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita;
– os reutilizadores devem atribuir crédito ao criador e permitir que outros distribuam, remixem, adaptem e desenvolvam o material em qualquer meio ou formato, exclusivamente para fins não comerciais e desde que sob os mesmos termos, respeitados a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, e outros normativos vigentes.
