Aspectos biopolíticos e interseccionais da condenação do Brasil perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso da explosão da fábrica de fogos em Santo Antonio de Jesus, Bahia

Autores

  • Flávia de Ávila Universidade Federal de Sergipe
  • Natália Nunes Chagas Universidade Federal de Sergipe
  • Matheus Macedo Lima Porto Universidade Federal de Sergipe

DOI:

https://doi.org/10.5380/rfdufpr.v69i2.88217

Palavras-chave:

Biopolítica. Caso Empregados da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus vs. Brasil. Interseccionalidade. Vida nua. Vulnerabilidade.

Resumo

Neste trabalho são analisados os aspectos biopolíticos envolvidos no Caso Empregados da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus vs. Brasil, no qual o Estado foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (CtIDH). Primeiramente, a pesquisa descreve o arcabouço teórico do biopoder, com ênfase nas lições de Giorgio Agamben, apresentando as categorizações de vida nua, poder soberano e estado de exceção, com o intuito de demonstrar a correlação entre o caso e a interseccionalidade proposta por Kimberlé Crenshaw. O objetivo é discorrer sobre a relação do homo sacer de Agamben com a teoria de Crenshaw, evidenciando como a vida nua se encontra submetida a diversas vulnerabilidades sociais e econômicas que se sobrepõem, tornando o ser humano cada vez mais exposto aos abusos do poder soberano. Na sequência, o estudo explora as peculiaridades decorrentes da explosão que culminou na tragédia em Santo Antônio de Jesus, Bahia, e como esses fatores se tornaram relevantes para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), evoluindo para a condenação do Brasil pela CtIDH. Nesse sentido, a pesquisa desenvolve-se por meio de uma abordagem exploratória, fundamentada nas doutrinas do biopoder, na interseccionalidade dos autores mencionados e na jurisprudência internacional sobre o tema. Por fim, demonstra-se a conexão entre as características das vítimas do desastre e as chaves de leitura apresentadas previamente, evidenciando que se trata de vidas nuas brasileiras, mais expostas a uma maior vulnerabilidade devido ao acúmulo de marcadores sociais, como pobreza, gênero, cor e faixa etária.

Biografia do Autor

Flávia de Ávila, Universidade Federal de Sergipe

Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, especialista em Direito e Processo do Trabalho pelo Instituto Brasileiro de Estudos Jurídicos, especialista em Direito e Negócios Internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Direito e Relações Internacionais também pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Direito Público pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Atualmente é professora do Departamento de Relações Internacionais (DRI) da Universidade Federal de Sergipe e do Programa de Pós-Graduação em Direito (PRODIR) da mesma instituição. É membro da diretoria do ramo brasileiro da International Law Association (ILA). Tem experiência na área de Direito e Relações Internacionais, com ênfase em Direito Internacional e Direito do Trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: direito internacional público, direito internacional privado, direitos humanos, direito do trabalho, direito da integração, trabalhador estrangeiro e relações internacionais.


http://lattes.cnpq.br/8985849673523090

Natália Nunes Chagas, Universidade Federal de Sergipe

Mestra em Direito pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Graduada em Direito pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Advogada. Bolsista Capes.

http://lattes.cnpq.br/8302756329896312

Matheus Macedo Lima Porto, Universidade Federal de Sergipe

Mestre em Direito na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Possui graduação em Direito pela Universidade Tiradentes (UNIT) e graduação em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Advogado.

http://lattes.cnpq.br/6246126692760762

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Publicado

2024-08-28

Como Citar

Ávila, F. de, Chagas, N. N., & Porto, M. M. L. (2024). Aspectos biopolíticos e interseccionais da condenação do Brasil perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso da explosão da fábrica de fogos em Santo Antonio de Jesus, Bahia. Revista Da Faculdade De Direito UFPR, 69(2), 11–28. https://doi.org/10.5380/rfdufpr.v69i2.88217

Edição

Seção

Artigos