Open Journal Systems

O critério convencional como pressuposto teórico para a pesquisa em história do direito: o caso do ius commune

Francisco Tarcísio Rocha Gomes Júnior, Gustavo César Machado Cabral

Resumo


O debate em teoria do direito é de extrema importância para a pesquisa em história do direito. O ius commune é um exemplo para demonstrar a relação saudável entre essas duas vertentes científicas. Sendo uma experiência jurídica medieval, o ius commune tem como característica principal a pluralidade de fontes. Como o modelo de direito dominante nos debates em teoria do direito é baseado no monismo estatal, ele é completamente inviável como instrumento teórico para uma pesquisa sobre o direito na Idade Média. O objetivo deste artigo é defender a insuficiência do modelo estatal como critério de identificação do direito na pesquisa histórica, indicar problemas nas propostas teóricas contemporâneas de direito, propor o critério convencional como alternativa para a pesquisa em história do direito e demonstrar a incapacidade do modelo tradicional em explicar o instituto da excomunhão no Manual de Confessores do teólogo medieval Martin de Azpilcueta Navarro, no contexto do ius commune. Por meio de pesquisa bibliográfica, é alcançada a conclusão de que o modelo convencional de direito proposto por Brian Z. Tamanaha é uma opção viável a explicar historicamente experiências jurídicas como o ius commune. O critério convencional se define, em poucas palavras, por considerar o que a população sob estudo considera convencionalmente como direito. Essa estrutura teórica é funcional porque é aberta o bastante para propiciar o estudo histórico do direito em diferentes perspectivas, sejam estatais ou não.

Palavras-chave


Critério convencional. Ius commune. Direito estatal.

Texto completo:

PDF

Referências


BENTON, Lauren. Law and Colonial Cultures. Legal Regimes in World History 1400-1900. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.

BRAGAGNOLO, Manuela. Managing legal knowledge in Early Modern Times. Martín de Azpilcueta’s Manual for Confessors and the Phenomenon of “Epitomisation”. In: DUVE, Thomas; DANWERTH, Otto (ed.). Knowledge of the Pragmatici. Legal and Moral Theological Literature and the Formation of Early Modern Ibero-America. Leiden, Boston: Brill | Nijhoff, 2020. p. 187-242.

CABRAL, Gustavo César Machado. Ius Commune. Uma introdução à história do direito comum do Medievo à Idade Moderna. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2019.

CABRAL, Gustavo César Machado. Literatura Jurídica na Idade Moderna. As decisiones no Reino de Portugal (séculos XVI e XVII). Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017.

DECOCK, Wim. Collaborative Legal Pluralism. Confessors as Law Enforcers in Mercados’s Advice on Economic Governance (1571). Rechtsgeschichte – Legal History, Leuven, Rg 25, p. 103-114, 2017.

DECOCK, Wim. Theologians and Contract Law. The Moral Transformation of the Ius Commune (ca. 1500-1650). Leiden, Boston: Martinis Nijhoff Publishers, 2013.

GARDNER, John. Law as a Leap of Faith. Oxford: Oxford University Press, 2012.

GOMES JÚNIOR, Francisco Tarcísio Rocha. A questão da generalidade da teoria do direito na obra The Concept of Law de Herbert Hart. Congresso Internacional de Interpretação e Decisão Judicial, 1., 2021, Fortaleza. Anais […]. Fortaleza: Mucuripe, 2021. 290 p. p. 290-309. Disponível em: https://bit.ly/3zMtw3f. Acesso em: 17 jun. 2022.

GOMES JÚNIOR, Francisco Tarcísio Rocha. O imperativismo na sua melhor forma: esclarecimentos e problematizações sobre a generalidade do direito em Hart. In: MATOS, Saulo Monteiro Martinho de; COELHO, Andre Luiz Souza; BUSTAMANTE, Thomas da Rosa (org.). Interpretando o Conceito do Direito. Belo Horizonte: Conhecimento, [2022?]. No prelo.

GOMES JÚNIOR, Francisco Tarcísio Rocha. O Manual de Confessores de Martin de Azpilcueta Navarro como elemento do pluralismo jurídico de ius commune: o exemplo do instituto da excomunhão. Congresso Brasileiro de História do Direito, 10., 2018, São Paulo. Anais […]. São Paulo: USP, 2018.

HART, Herbert. The Concept of Law. Oxford: Oxford University Press, 1994.

HESPANHA, António Manuel. Como os juristas viam o mundo. 1550-1750. Direitos, estados, pessoas, coisas, contratos, ações e crimes. Lisboa: António Manuel Hespanha, 2015.

HESPANHA, António Manuel. Poder e instituições na Europa do Antigo Regime. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982.

HIMMA, Kenneth Einar. Do Philosophy and Sociology Mix? A Non-Essentialist Socio-Legal Positivist Analysis of the Concept of Law. Oxford Journal of Legal Studies, Oxford, v. 24, n. 4, p. 717-738, 2004.

LACEY, Nicola. Analytical Jurisprudence Versus Descriptive Sociology Revisited. Texas Law Review, Austin, v. 84, n. 4, p. 945-982, 2006.

NAUARRO, Martin de Azpilcueta [= Martin de Azpilcueta Navarro]. Manval de Confessores y penitentes, que clara y brevemente contiene, la vniversal y particvlar decision de qvasi todas las dvdas, que en las confessiones suelen occurrir de los pecados, absoluciones, restituciones, censuras, y irregularidades. Toledo: [s. n.], 1554.

OLIVEIRA, Felipe de Sousa. The realism of Brian Tamanaha’s realistic theory of law. Jurisprudence. An International Journal of Legal and Political Thought, [s. l.], v. 9, n. 2, p. 438-447, 2018.

RAZ, Joseph. Why the State? In: ROUGHAN, Nicole; HALPIN, Andrew (ed.). In Pursuit of Pluralist Jurisprudence. Cambridge: Cambridge University Press, 2017. p. 136-162.

TAMANAHA, Brian Z. A General Jurisprudence of Law and Society. Oxford: Oxford University Press, 2001a.

TAMANAHA, Brian Z. A Realistic Theory of Law. Cambridge: Cambridge University Press, 2017.

TAMANAHA, Brian Z. Socio-Legal Positivism and a General Jurisprudence. Oxford Journal of Legal Studies, Oxford, v. 21, n. 1, p. 1-32, 2001b.

TAMANAHA, Brian Z. The Promise and Conundrums of Pluralist Jurisprudence. Legal Studies Research Paper Series, Washington, Research Paper 19-03-03, p. 1-34, março 2019.

TWINING, William. General Jurisprudence. Anales de la Cátedra Francisco Suárez, Granada, n. 39, p. 645-688, 2005b.

TWINING, William. Have concepts, will travel: analytical jurisprudence in a global context. International Journal of Law in Context, Cambridge, v. I, n. I, p. 5-40, 2005a.

WALDRON, Jeremy. International Law: ‘A Relatively Small and Unimportant’ Part of Jurisprudence? In: D’ALMEIDA, Luís Duarte (ed.). Reading HLA Hart’s The Concept of Law. Oxford: Hart Publishing, 2013.




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/rfdufpr.v67i2.85503