QUE TIPO DE SABER É O DIREITO? ENTRE A CIÊNCIA, A PRUDÊNCIA E A TÉCNICA
Resumo
A filosofia aristotélica divide os saberes, ou virtudes intelectuais, em cinco classes: as ciências, a sabedoria, a inteligência, as técnicas e a prudência. Neste artigo, busca-se explicar esses tipos de saberes e verificar em qual deles o direito seria mais bem classificado. A importância de tal estudo é que cada uma das virtudes intelectuais detém características próprias, que determinam a maneira de adquiri-las e desenvolvê-las, bem como quais são suas finalidades. Por isso, o modo como tratamos o direito depende diretamente de como definimos o seu estatuto epistemológico. A ciência e a sabedoria são virtudes intelectuais teóricas, com pretensões a alcançar o universal e necessário, enquanto a técnica e a prudência são práticas, voltadas para o individual e contingente. A prudência abrange as ações humanas responsáveis, influenciadas pelos apetites do agente, enquanto a técnica diz respeito ao produto de um fazer. Nesse quadro, o direito encaixa-se principalmente como uma técnica ou arte, pois seu objeto é a realidade humana concreta, com sua precariedade e contingência. Tal foi o entendimento dos juristas romanos e medievais, e segue defensável nos dias de hoje.
Palavras-chave
Texto completo:
PDFReferências
ABBÀ, Giuseppe. Felicità, vita buona e virtù: saggio di filosofia morale. 2. ed. Roma: LAS, 1995. 358 p.
ABBÀ, Giuseppe. Lex et virtus: studi sull’evoluzione della dottrina morale di San Tommaso d’Aquino. Roma: Fontana di Trevi Edizioni, 2010. 296 p.
ARISTÓTELES. Aristoteles graece: ex recensione Immanueles Bekkeri. Berolini: Academia Regia Borussica, 1831. volumen alterum. 676 p.
ARISTÓTELES. Metafísica: ensaio introdutório. Texto grego com tradução e comentário de Giovanni Reale. Tradução Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2002. 696 p.
ARISTÓTELES. The complete works of Aristotle: The revised Oxford translation. Edited by BARNES, Jonathan. Princeton: Princeton University Press, 1991. t. 1: 1757 p.; t. 2: 1644 p.
AUBENQUE, Pierre. La prudencia en Aristóteles. Tradução María José Torres Gómez-Pallete. Barcelona: Crítica, 1999. 250 p.
BARZOTTO, Luis Fernando. O positivismo jurídico contemporâneo: uma introdução a Kelsen, Ross e Hart. São Leopoldo: Unisino, 1999. 152 p.
BERTI, Enrico. Aristóteles no século XX. Tradução Dion Davi Macedo. São Paulo: Loyola, 1997. 334 p.
BERTI, Enrico. Novos estudos aristotélicos III: filosofia prática. Tradução Élcio de Gusmão Verçosa Filho. São Paulo: Loyola, 2014. 334 p.
BOBBIO, Norberto. Teoria generale del diritto. Torino: Giappichelli, 1993. 298 p.
BROADIE, Sarah. Ethics with Aristotle. Oxford: Oxford University Press, 1991. 462 p.
CARBONNIER, Jean. Flexible droit: pour une sociologie du droit sans rigueur. 10. ed. Paris: LGDJ, 2001. 494 p.
DEVITT, Michael. Realism/Anti-realism. In: PSILLOS, Stathis; CURD, Martin (Ed.). The Routledge companion to philosophy of science. London: Routledge, 2008. p. 224-235.
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2015. 340 p.
FESER, Edward. Philosophy of mind: A beginner’s guide. Oxford: Oneworld, 2006. 268 p.
FINNIS, John. Philosophy of law: Collected essays, v. 4. Oxford: Oxford Press, 2011. 510 p.
GILSON, Etienne. The unity of philosophical experience. New York: Charles Scribner’s Sons, 1950. 334 p.
HEIDEGGER, Martin. The question concerning technology and other essays. Tradução e introdução William Lovitt. New York: Garland Publishing, 1977. 184 p.
HOLMES JR., Oliver Wendell. The path of law. Auckland: The floating press, 2009. 41 p.
IRWIN, Terence. Aristotle’s first principles. Oxford: Oxford University Press, 1988. 702 p.
KAUFMANN, Arthur. A problemática da filosofia do direito ao longo da história. In: KAUFMANN, Arthur; HASSEMER, Winfried (Org.). Introdução à filosofia do direito e à teoria do direito contemporâneas. Tradução Marcos Keel. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2002. p. 57-208.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução João Baptista Machado. 8. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009. 428 p.
KINCAID, Harold. Social sciences. In: PSILLOS, Stathis; CURD, Martin (Ed.). The Routledge companion to philosophy of science. London: Routledge, 2008. p. 594-604.
KIRSTE, Stephan. Introdução à filosofia do direito. Tradução Paula Nasser. Belo Horizonte: Fórum, 2013. 200 p.
LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. Tradução José Lamego. 3. ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1997. 728 p.
LEITER, Brian. American legal realism. In: GOLDING, Martin P.; EDMUNDSON, William A. The Blackwell guide to the philosophy of law and legal theory. Oxford: Blackwell, 2005. p. 50-66.
MACINTYRE, Alasdair. After virtue: A study in moral theory. 3. ed. Notre Dame: University of Notre Dame Press, 2007. 288 p.
NEUMANN, Ulfrid. Teoria científica da ciência do direito. In: KAUFMANN, Arthur; HASSEMER, Winfried (Org.). Introdução à filosofia do direito e à teoria do direito contemporâneas. Tradução Marcos Keel. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2002. p. 463-480.
NIETZSCHE, Friedrich. The gay science. Tradução Walter Kaufmann. New York: Vintage Books, 1974. 398 p.
ORREGO SÁNCHEZ, Cristóbal. Analítica del derecho justo: la crisis del positivismo jurídico y la crítica del derecho natural. México: UNAM, 2005. 218 p.
OWENS, Joseph. Aristotle: The collected papers of Joseph Owens. Albany: State University of New York Press, 1981. 264 p.
PIEPER, Joseph. Leisure: The basis of culture. Tradução Alexander Dru. Introdução de T. S. Eliot. New York: New American Library, 1963. 128 p.
PIEPER, Joseph. The four cardinal virtues. Notre Dame: University of Notre Dame Press, 1966. 234 p.
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado. Atualizado por Otávio Luiz Rodrigues Júnior, Tilman Quarch, Jefferson Carús Guedes. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. t. 6. 830 p.
PORTIDES, Demetris. Models. In: PSILLOS, Stathis; CURD, Martin (Ed.). The Routledge companion to philosophy of science. London: Routledge, 2008. p. 385-395.
POSTEMA, Gerald J. Legal philosophy in the twentieth century: The common law world. New York: Springer, 2011. 618 p.
REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 750 p.
ROTHBARD, Murray. Making economic sense. Auburn: Ludwig von Mises Institute, 1995. 380 p.
SCHULZ, Fritz. History of Roman legal science. Oxford: Oxford University Press, 1946. 360 p.
SCHULZ, Fritz. Principles of Roman law. Oxford: Oxford University Press, 1936. 270 p.
SCHUMPETER, Joseph A. History of economic analysis. London: Routledge, 2006. 1284 p.
SHECAIRA, Fábio Perin. Legal Scholarship and the subject matter of jurisprudence. Archiv für Rechts- und Sozialphilosophie, Stuttgart, v. 101, n. 3, p. 411-427, 2015.
STRAUSS, Leo. Natural right and history. Chicago: The University of Chicago Press, 1992. 326 p.
TOMÁS DE AQUINO. Suma teológica. São Paulo: Loyola, 2001-2006. 9 v.
WIEACKER, Franz. História do direito privado moderno. Tradução A. M. Botelho Hespanha. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1980. 770 p.
DOI: http://dx.doi.org/10.5380/rfdufpr.v62i1.47451