Capitalismo de Vigilância e o Facebook

Coleta de dados dos usuários e o papel das redes sociais na eleição presidencial estadunidense de 2016

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/cg.v14i3.100005

Palavras-chave:

Capitalismo de Vigiância, Facebook, Fake News, Eleições

Resumo

As redes sociais digitais têm transformado a comunicação política contemporânea, especialmente por operarem sob a lógica do capitalismo de vigilância, isto é, um modelo econômico baseado na coleta e comercialização de dados pessoais. Este artigo analisa o papel do Facebook na eleição presidencial dos Estados Unidos em 2016, com foco na campanha de Donald Trump. O objetivo é investigar como a plataforma, inserida nesse modelo, pode ter influenciado o comportamento eleitoral dos usuários por meio de algoritmos, segmentação psicométrica e disseminação de desinformação. Desse modo, a metodologia combina revisão bibliográfica e documental e examina o uso de dados, por parte da Cambridge Analytica, o emprego de fake news e dark posts e a formação de câmaras de eco que reforçaram convicções políticas pré-existentes nos usuários. Os resultados mostram que o Facebook pode ter contribuído para a polarização política desses, oferecendo conteúdo personalizado que limitou o acesso a informações divergentes. Além disso, a pesquisa evidencia como o capitalismo de vigilância ultrapassa o âmbito econômico, afetando também a comunicação política e a integridade democrática. Destaca-se, assim, a importância de se discutir regulação digital e formas de combater a disseminação de conteúdos inapropriados em ambientes democráticos.

Biografia do Autor

Letícia Biagi Martins, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Graduada em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). E-mail: leticiabm402@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0009-0005-1290-2380.

Augusto Leal Rinaldi, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e professor nos cursos de graduação em Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Professor-pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-INEU) e do Grupo de Estudos sobre Ásia do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (GEASIA-NUPRI). Membro do Núcleo de Estudos em Relações Internacionais da PUC-SP (NERI). Em 2019, fui "Visiting Ph.D. Researcher" no Leibniz-Institut für Globale und Regionale Studien (GIGA). Autor do livro: "O BRICS nas Relações Internacionais Contemporâneas: alinhamento estratégico e balanceamento de poder global". Interesses de pesquisa: BRICS; potências emergentes; reconfiguração do poder global; política externa brasileira; política externa chinesa; diplomacia da vacina.

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Publicado

2025-12-09

Como Citar

Biagi Martins, L., & Leal Rinaldi, A. (2025). Capitalismo de Vigilância e o Facebook: Coleta de dados dos usuários e o papel das redes sociais na eleição presidencial estadunidense de 2016. Conjuntura Global, 14(3). https://doi.org/10.5380/cg.v14i3.100005

Edição

Seção

Artigos de Fluxo Contínuo