Carlo Ginzburg, leitor de Ernesto De Martino: aproximações e distanciamentos
DOI:
https://doi.org/10.5380/cra.v24i1.86092Palavras-chave:
História das Religiões, Ginzburg, De Martino, Xamanismo, TarantismoResumo
O artigo propõe uma comparação entre as perspectivas teórico-metodológicas do historiador italiano Carlo Ginzburg e do etnólogo e seu conterrâneo Ernesto De Martino. Em diversas ocasiões, o historiador reconheceu a relevância do etnólogo em seu percurso intelectual, valendo-se da leitura de sua obra para traçar uma história genealógica do xamanismo. Outra aproximação entre os dois autores é que ambos produziram uma importante reflexão antirrelativista, embora fundada nos limites epistemológicos do etnocentrismo. Contudo, apesar dessas aproximações, os autores divergem radicalmente em aspectos sensíveis de suas reflexões, especificamente no que concerne a realidade e o sentido histórico dos poderes mágicos. A partir dessas diferenças, concluo argumentando que a obra de De Martino pode contribuir ao estudo das religiões no Brasil trazendo um aporte teórico-metodológico focado na importância das práticas rituais para a compreensão das religiões populares.
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