Open Journal Systems

Humanidade e animalidade nas artes marciais chinesas

Gabriel Guarino SantAnna Lima Almeida

Resumo


O que é aprender com os animais nas artes marciais chinesas? Qual o status da relação humanidade/animalidade nos cosmos chinês? Para responder estas questões, divido este ensaio em três partes. Primeiro, especifico o problema de investigação a partir de situações como aprendiz de kung fu Garra de Águia e de notas de minha etnografia da performance do Chen taijiquan. Segundo, abordo o problema da humanidade/animalidade na perspectiva de Tim Ingold para investigar como (e se) opera tal distinção na cosmologia correlativa chinesa, como apresentada por Anne Cheng. Terceiro, para elucidar o caráter da animalidade no aprendizado de arte marcial, conecto o debate de Ingold com a questão dos modos de conhecimento e da cosmotécnica na filosofia de Yuk Hui. Em conclusão, argumento que os padrões animais na arte marcial chinesa não são imitativos, mas sim emulativos dos mesmos princípios que operam o cosmos chinês, numa via de integração.

Palavras-chave


Artes marciais chinesas; relações multiespecíficas; animalidade; técnicas do corpo; cosmotécnica.

Texto completo:

PDF

Referências


Allan, S. (1997). The way of the water and the sprouts of virtue. Albany: State University of New York Press.

Allan, S. (2000). Yin 陰, Yang 陽, and Qi 氣 before Yinyang Theory: The Role of Metaphor in the Formation of a Correlative System [Palestra]. Berkeley Center for Chinese Studies, University of California.

Apolloni, R. W. (2018). A Suprema Cumeeira: considerações de Sunlutang sobre o Tàijíquán (Tai-chi-chuan). REVER: Revista de Estudos em Religião, 18(1), 209-236. https://doi.org/10.23925/1677-1222.2018vol18i1a11

Bateson, G. (1986). Mente e Natureza. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora.

Bateson, G. (1999). Steps to an ecology of mind. Chicago: Chicago University Press.

Chauí, M. (2011). Desejo, ação e paixão na Ética de Espinoza. São Paulo: Editora Schwarz.

Chan, T. (1984). The Essentials of Eagle Claw 鷹爪翻子拳術摘要. Beijing: People’s Sports Publishing.

Chen, M. (2019). Chen Style Taijiquan Collected Masterworks. The history of a martial art. California: Blue Snake Books.

Chen, Z. (2020). Taijiquan da Família Chen. Livro 1: origem e fundamentos. São Paulo: Escola de Taijiquan de Chenjiagou BR.

Cheng, A. (2008). História do Pensamento Chinês. Tradução de Gentil Avelino Titton. Petrópolis: Editora Vozes.

Chiesa, G. R. (2017). À procura da vida: pensando com Gregory Bateson e Tim Ingold a respeito de uma percepção sagrada do ambiente. Revista de Antropologia, 60(2), 410-435. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2017.137315

Confúcio. (2012). Os Analectos: tradução, comentários e notas de Giorgio Sinedino. São Paulo: Editora UNESP.

Cusicanqui, S. R. (2018). Un mundo ch’ixi es posible. Ensayos desde un presente en crisis. Buenos Aires: Tinta Limón.

Deleuze, G., &; Guattari, F. (1997). Mil platôs - capitalismo e esquizofrenia. vol. 4. Tradução de Suely Rolnik. São Paulo: Editora 54.

Deleuze, G., & Parnet, C. (1995). Abecedário de Gilles Deleuze. Éditions Montparnasse, Paris.

Descola, P. (2016). Outras Naturezas, outras culturas. São Paulo: Editora 34.

Durkheim, É. (2008). The Elementary Forms of Religious Life. New York: Oxford University Press

Espinosa, B. de. (2018). Ética. São Paulo: Edusp.

Fanon, F. (2020). Pele negra, máscaras brancas. São Paulo: Ubu Editora.

Farrer, D. S. (2011). Coffee-Shop Gods: Chinese Martial Arts and the Singapore Diaspora. In D. S. Farrer & J. Whalen-Brigde. Martial Arts as Embodied Knowledge: Asian Traditions in a Transnational World (pp. 203-238). Albany: State University of New York Press.

Farrer, D. S. (2013). Becoming animal in the Chinese Martial Art. In P. Dransart (ed). Living beings. Perspectives on Interspecies Engagements (pp. 9-28). London: Bloomsbury Academic.

Farrer, D. S. (2015). Efficacy and Entertainment in Martial Arts Studies: Anthropological Perspectives. Martial Arts Studies, 1, 34-45. https://doi.org/10.18573/j.2015.10017

Farrer, D. S. (2018). Performance Ethnography. In P. Bowman. Martial Arts Studies: A Reader (pp. 137-153). Lanham: Rowman & Littlefield.

Farrer, D. S., & Whalen-Brigde, J. (2011). Introduction: Martial Arts, Transnationalism, and Embodied Knowledge. In D. S. Farrer & J. Whalen-Brigde. Martial Arts as Embodied Knowledge: Asian Traditions in a Transnational World (pp. 1-20). Albany: State University of New York Press.

Feuchtwang, S. (2014). Coordinates of body and place: Chinese practices of centring. In A. Abramson & M. Holbraad (eds.). Framing cosmologies: The anthropology of worlds (pp. 116–134). Manchester University Press. https://doi.org/10.7765/9781847799098

Feuchtwang, S., & Rowlands, M. (2010). Re-evaluating the long term: civilisation and temporalities. In D. Garrow & T. Yarrow (eds). Archaeology and Anthropology: Understanding Similarities, Exploring Differences (pp. 117-136). Oxford and Oakville: Oxbow Books.

Gell, A. (2018). Arte e agência: uma teoria antropológica. São Paulo: Ubu Editora.

González, L. (2020). Por um feminismo afro latino americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar.

Graham, Angus. (1986) The Yin-Yang and the nature of correlative thinking. Cingapura: Institute of East Asian Philosophies.

Greiner, C. (2017). Leituras do Corpo no Japão. São Paulo: n-1 Edições.

Haibara, A., & Santos, V. O. (2016). As técnicas do corpo. Enciclopédia de Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia. Recuperado de http://ea.fflch.usp.br/obra/técnicas-do-corpo

Heidegger, M. (1977). The question concerning technology and other essays. New York: Garland.

Henare, A., Holbraad, M. & Wastell, S. (2007). Thinking through things: theorising artefacts ethnographically. Londres, Routledge.

Hui, Y. (2016). The Question Concerning Technology in China: an essay in cosmotechnics. Falmouth: Urbanomic Media.

Hui, Y. (2020). Tecnodiversidade. São Paulo: Ubu Editora.

Ingold, T. (1995). Humanidade e Animalidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 10 (28).

Ingold, T. (2000). The Perception of the environment: Essays on livelihood, dwelling and skill. Routledge: London.

Ingold, T. (2010) Da transmissão de representações à educação da atenção. Educação, 33(1), 6-25. https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/view/6777

Ingold, T. (2012). Trazendo as coisas de volta à vida: emaranhados criativos num mundo de materiais. Horizontes Antropológicos, 18(37), 25-44. https://doi.org/10.1590/S0104-71832012000100002

Ingold, T. (2013). Anthropology Beyond Humanity. Edward Westermarck Memorial Lecture. Suomen Antropologi: Journal of the Finnish Anthropological Society, 38(3), 5-23. https://www.waunet.org/downloads/wcaa/dejalu/feb_2015/ingold.pdf

Ingold, T. (2014). Anthropology and Philosophy or the Problem of Ontological Symmetry, La Clédes Langues. Recuperado de http://cle.ens-lyon.fr/anglais/litterature/entretiens-et-textes-inedits/anthropology-and-philosophy-or-the-problem-of-ontological-symmetry Acesso em 19/01/2021.

Ingold, T. (2015). Estar vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Petrópolis: Editora Vozes.

Ingold, T. (2020). Antropologia e/como Educação. Petrópolis: Vozes.

Javary, C. (2001). I Ching. O Livro do yin e do yang. São Paulo: Pensamento.

Javary, C. (2014). 100 palabras para entender a los chinos. México: Siglo XXI Editores.

Judkins, B. (2014) Inventing Kung Fu. JOMEC Journal, (5). https://doi.org/10.18573/j.2014.10272

Jullien, F. (1997). Figuras da Imanência: para uma leitura filosófica do I Ching, o Clássico da Mutação. São Paulo: Editora 34.

Jullien, F. (2017). A propensão das coisas: por uma história da eficácia na China. São Paulo: Editora Unesp.

Kilomba, G. (2019). Memórias de plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó.

Krenak, A. (2019). Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras.

Kuriyama, S. (1999). The expressiveness of the body and divergence of Greek and Chinese medicine. New York: Zone Books.

Lau, L. (2007). Grandmaster Lily Lau's Eagle Claw. Performance no Annual International Open Traditional Kung-Fu Wushu Championship [Vídeo]. Oakland, CA. 11 ago. 2007. Recuperado de https://youtu.be/G08FY_x7oSQ

Lazzari, F. de. (2017). Tai Chi Chuan: saúde e equilíbrio. Ribeirão Preto: Equilibrius.

Mauss, M. (2003). Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac Naify.

Morz, D. (2017). Taolu: Credibility and Decipherability in the Practice of Chinese Martial Movement. Martial Arts Studies, 3, 38-50. http://doi.org/10.18573/j.2017.10094

Morz, D. (2020). Tàolù: the mastery of space. Martial Arts Studies, 10, 9-22. https://doi.org/10.18573/mas.111

Preciado, B. (2014). Manifesto Contrassexual. São Paulo: n-1 edições.

Rente, M. A. de M., & Merphy, E. E. (2020). Modos outros de viver. Luto e não-violência em tempos de pandemia: precariedade, saúde mental e modos outros de viver. Psicologia & Sociedade, 32, 1-17. http://dx.doi.org/10.1590/1807-0310/2020v32240329

Robinet, Isabelle. (2008). Shangqing. In F. Pregadio. The Encyclopedia of Taoism (pp. 858-866). New York: Routledge.

Schiller, M. (2016). Masters of Eagle Claw - The Legacy of Grandmaster Leung Shum’s Ying Jow Pai [Documentário]. Recuperado de https://youtu.be/0KmFI_VXAIk

Süssekind, F. (2018). Sobre a vida multiespécie. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, 69(174), 159-178. https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v0i69p159-178

Thompson, W. I. (2014). Gaia - uma teoria do conhecimento. São Paulo: Editora Gaia.

Toren, C. (1999). Mind, Materiality and History: Explorations in Fijian Ethnography. London & New York: Routledge.

Tzu, C. (2000). Ensinamentos essenciais. São Paulo: Editora Cultrix.

Viveiros de Castro, E. B. (2003). Anthropology and Science. Manchester Papers in Social Anthropology, 7. Manchester: Manchester University Press.

Viveiros de Castro, E. B. (2014). A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac Naify.

Velho, O. (2001). De Bateson a Ingold: passos na constituição de um paradigma ecológico. Mana, 7(2), 133-140. https://doi.org/10.1590/S0104-93132001000200005

Wacquant, L. (2002). Corpo e alma. Notas etnográficas de um aprendiz de boxe. Rio de Janeiro: Relume-Dumará.

Wang, M. (2012). All under heaven (tianxia). Cosmological perspectives and political ontologies in pre-modern China. HAU: Journal of Ethnographic Theory, 2(1), 337–383. https://doi.org/10.14318/hau2.1.015

Wile, D. (1999). T'ai Chi's Ancestors: the making of an internal art. New City: Sweet Ch'i Press.

Wile, D. (2016). Fighting words. Four new document finds reignite old debates in Tàijíquán historiography. Martial Arts Studies, 4, 17-33. https://doi.org/10.18573/j.2017.10184

Wile, D. (2020). Marx, Myth and Metaphysics: China Debates the Essence of Taijiquan. Martial Arts Studies, 10, 23-39. https://doi.org/10.18573/mas.118

Wong, L. (2015). 行拳(第一路)Hang Kuen (1st section) [Blog]. 鷹爪圖書館 (Eagle Claw Library). Recuperado de https://eagleclawlibrary.blogspot.com/2015/05/hang-kuen-1st-section.html.

Youlan, F. (2015). A Short History of Chinese Philosophy. Beijing: Foreign Languages Press.




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cra.v23i1.81712

Apontamentos

  • Não há apontamentos.