O sumo bem imanente e transcendente na filosofia de Kant
DOI:
https://doi.org/10.5380/sk.v23i1.96500Palavras-chave:
virtude, felicidade, imortalidade, Deus, sumo bem.Resumo
Dentro da literatura secundária, a doutrina do sumo bem tem levantado inúmeras controvérsias. Muitos têm apontado a dificuldade de se assumir a doutrina do sumo bem como consistente com a doutrina do imperativo categórico ou mesmo com o próprio sistema da filosofia crítico-transcendental. Devido a sua profunda ambiguidade, diversas interpretações divergentes apareceram na literatura mais recente. Dentre essas interpretações, uma corrente defende que o sumo bem deve ser compreendido de uma perspectiva individual, transcendente e religiosa, segundo a qual a conexão entre virtude e felicidade é pensável sob as condições conjuntas da imortalidade da alma e da existência de Deus. Essa posição é observada, sobretudo, nos escritos da década de 1780. Outra linha de interpretação acredita que a doutrina do sumo bem só se torna coerente quando concebida de uma perspectiva coletiva e imanente, a partir da qual se atribui um papel central à sua dimensão histórica e política. Os escritos dos anos 90 são tomados como base dessa linha de interpretação. Segundo alguns comentadores, a ênfase dada em tais escritos ao conceito de “sumo bem no mundo” marca uma mudança de perspectiva sobre a doutrina do sumo bem, na qual a posição transcendente da década anterior teria sido abandonada por Kant a favor de uma perspectiva imanente. Meu objetivo é apresentar, de modo geral, o status da questão, bem como alguns argumentos a favor de uma tese compatibilista. Argumento que, na década de 1790, Kant assume uma perspectiva imanente do sumo bem, mas não abandona a sua dimensão transcendente. Defendo que, de uma perspectiva sistemática, a perspectiva imanente é problemática e, portanto, a perspectiva transcendente precisa continuar sendo considerada a base da doutrina do sumo bem.
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