O sumo bem imanente e transcendente na filosofia de Kant

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/sk.v23i1.96500

Palavras-chave:

virtude, felicidade, imortalidade, Deus, sumo bem.

Resumo

A doutrina do sumo bem tem levantado inúmeras controvérsias. Com efeito, diversas interpretações divergentes apareceram na literatura mais recente. Dentre essas interpretações, uma corrente, a qual chamarei interpretação transcendente, defende que o sumo bem deve ser compreendido de uma perspectiva individual, transcendente e religiosa, que enfatiza a imortalidade da alma e a existência de Deus. Uma interpretação concorrente, a qual chamarei interpretação imanente, acredita que a doutrina do sumo bem deve ser interpretada de uma perspectiva coletiva e imanente, que atribui um papel central à dimensão histórica e política. Segundo essa linha de interpretação, a ênfase concedida ao conceito de “sumo bem no mundo”, nos escritos dos anos de 1790, marca uma mudança de perspectiva sobre a doutrina do sumo bem, na qual a posição transcendente da década anterior teria sido abandonada por Kant a favor de uma perspectiva imanente. Meu objetivo é apresentar, de modo geral, o status da questão. Argumento que, na década de 1790, Kant assume uma perspectiva imanente do sumo bem, mas não abandona a sua dimensão transcendente. Defendo que, de uma perspectiva sistemática, a perspectiva imanente é problemática e, portanto, a perspectiva transcendente precisa continuar sendo considerada a base da doutrina do sumo bem.

 

Biografia do Autor

Bruno Cunha, UFSJ

Professor adjunto na Universidade Federal de São João Del-Rei. Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal de São João Del-Rei (2008), mestrado em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2011) e doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2016) com período sanduíche (CAPES - PDSE) na Johannes Gutenberg Universität - Alemanha.

Referências

BADER, R. M.. Kant’s theory of the highest good. In: AUFDERHEIDE, J. e BADER, R. (Eds.). The highest good in Aristotle and Kant. Oxford: Oxford University Press, p. 183-213, 2015.

BECK, L. A Commentary on Kant’s Critique of Practical Reason. Chicago, Chicago University Press, 1960.

COHEN, H. Kants Begründung der Ethik, nebst ihren Anwendungen auf Recht, Religion und Geschichte. Berlim, 1910.

CUNHA, B. A gênese da Ética de Kant: o desenvolvimento moral pré-crítico em relação com a teodiceia. São Paulo: LiberArs, 2017.

CUNHA, B. A Teodiceia de Kant em À Paz Perpétua. Cadernos de Filosofia Alemã, v. 30, n .2, 2025 (no prelo).

CUNHA, B. Kant e a defesa da causa de Deus: algumas considerações acerca do opúsculo kantiano sobre a teodiceia. Ética e Filosofia Política v. 1, n. 21, p. 5-21, 2018.

CUNHA, B. Kant e Leibniz sobre o problema da teodiceia. In: CUNHA, B. e FELDHAUS, C. (Eds.). Kant Em Diálogo. Londrina: Engenho das Letras, p. 164-209, 2024.

DENIS, L. Autonomy and the Highest Good. Kantian Review, v. 10, p. 33-59, 2006.

DUSING, K. Das problem des höchsten Gutes in Kants praktischer Philosophie. Kant-Studien, v. 62, p. 5-42, 1971.

GUYER, P. Virtues of Freedom: Selected Essays on Kant. Oxford: Oxford University Press, 2016.

HAMM, C. O lugar sistemático do Sumo Bem em Kant. Studia Kantiana, v. 9, n. 11, p. 41–55, 2011.

KANT, I. A religião nos limites da simples razão. Traduzido por Bruno Cunha. Petrópolis: Vozes, 2024.

KANT, I. Crítica da faculdade de julgar. Traduzido por Fernando C. Matos. Petrópolis: Vozes/São Francisco, 2016.

KANT, I. Crítica da razão prática. Traduzido por Monique Hulshof. Petropólis: Vozes/São Francisco, 2016.

KANT, I. Crítica da razão pura. Traduzido por Fernando C. Matos. Petrópolis: Vozes/São Francisco, 2012.

KANT, I. Gesammelte Schriften. v. I-XXI, Edited by the Akademie der Wissenschaften. Berlin: Reimer (DeGruyter), 1910.

KANT, I. Lições de metafísica. Traduzido por Bruno Cunha. Petrópolis: Vozes/São Francisco, 2022.

KANT, I. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Traduzido por Bruno Cunha. Petrópolis: Vozes/São Francisco, 2019.

KANT, I. Sobre a expressão corrente: isto pode ser correcto na teoria, mas nada vale na prática. In: À paz perpétua e outros opúsculos. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1988.

KLEIN, J. Kant e a Ideia de uma História Universal. São Paulo: Edições Loyola, 2016.

KLEINGELD, P. What do the virtuous hope for? Re-Reading Kant’s doctrine of the highest good. In: ROBINSON, H. (Ed.). The proceedings of the eight international Kant congress. 1995, p. 91–113.

MARIÑA, J. Making sense of Kant’s highest good. Kant-Studien, v. 91 n. 3, p. 329–355, 2009.

MORAN, K. Community and progress in Kant’s moral philosophy. Washington: The Catholic University of America Press, 2012.

O’CONNELL, E. Happiness proportioned to virtue: Kant and the highest good. Kantian Review, v. 17, n. 2, p. 257-279, 2012.

PASTERNACK, L. Restoring Kant’s Conception of the Highest Good. Journal of the History of Philosophy, v. 55, n. 3, p. 435-468, 2017.

PAULSEN, F. Immanuel Kant. Sein Leben und seine Lehre. Stuttgart, 1924.

RAWLS, J. Lectures on the History of Moral Philosophy. Harvard: Harvard University Press, 2000.

REATH, A. Two Conceptions of the Highest Good in Kant. Journal of the History of Philosophy, v. 26, p. 593-619, 1988.

SILBER, J. R. Kant’s Conception of the Highest Good as Immanent and Transcendent. Philosophical Review, v. 68, n. 4, p. 469-492, 1959.

VATANSEVER, S. Kant’s coherent theory of the highest good. International Journal for Philosophy of Religion, n. 89 v. 3, p. 263-283, 2020.

VILLARÁN, A. Overcoming the Problem of Impossibility in Kant’s Idea of the Highest Good. Journal of Philosophical Research, v. 38, p. 27-41, 2013.

YOVEL, Y. Kant and the Philosophy of History. Princeton University Press, 1980.

Downloads

Publicado

2025-04-30 — Atualizado em 2025-05-04

Versões

Como Citar

Cunha, B. (2025). O sumo bem imanente e transcendente na filosofia de Kant. Studia Kantiana, 23(1), 29–45. https://doi.org/10.5380/sk.v23i1.96500 (Original work published 30º de abril de 2025)

Edição

Seção

Artigos