A inconstitucionalidade da criminalização da assistência ao suicídio e o teste da proporcionalidade: uma perspectiva comparada de cortes constitucionais
DOI:
https://doi.org/10.5380/rinc.v11i2.93413Palavras-chave:
assistência ao suicídio; dignidade humana; autonomia; teste de proporcionalidade; inconstitucionalidade.Resumo
O presente texto pretende analisar, desde a perspectiva do teste da proporcionalidade, a punição da assistência ao suicídio estabelecida pelo legislador brasileiro, procurando-se demonstrar, com base num diálogo das fontes constitucionais, que o marco punitivo é inconstitucional, por violar o princípio da autonomia individual e, pois, a dignidade da pessoa humana do paciente que se encontra em estado terminal e, por isso, decide pôr termo à sua existência. Será que um paciente gravemente enfermo – padecendo de intenso sofrimento – não possui autonomia para decidir não continuar vivendo? Todo e qualquer auxílio a ele prestado constitui delito, uma modalidade de assistência delitiva, na forma do art. 122, caput, da CPB? Não há uma restrição excessiva aos direitos de liberdade e de autonomia? Questões que irão nortear o artigo e que auxiliarão na elaboração das possíveis respostas serão desenvolvidas no corpo do trabalho. Para tanto, primeiro, revisita-se o princípio da dignidade da pessoa humana, em seguida analisa-se as decisões dos tribunais constitucionais de diversos países sobre o tema. Por último, submete-se o marco punitivo ao teste da proporcionalidade. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e jurisprudencial comparativa, desenvolvida com base no método dedutivo e exploratório.
Referências
ALEMANHA, Tribunal Constitucional Federal, BVerfGE 90, 145, 1994.
ALEMANHA, Tribunal Constitucional Federal, BverfGE 30, 292, 1971.
ALEMANHA, Tribunal Constitucional Federal, BVergGE 153, 182, 2020.
ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2002.
ALEXY, Robert. A fórmula peso. In ALEXY, Robert. Constitucionalismo discursivo. Trad. Luís Afonso Heck. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2007.
ÁUSTRIA, Tribunal Constitucional Federal, VfGH, G 139/2019, 2020.
BARROSO, Luís Roberto; MARTEL, Letícia de Campos Velho. A morte como ela é: dignidade e autonomia individual no final da vida. In: Os constitucionalistas. [S. l.], 16 out. 2021. p. 02-43. Disponível em: <http://www.osconstitucionalistas.com.br/. Acesso em: 20 dez. 2022.>
BERNAL PULIDO, Carlos. El principio de proporcionalidad y los derechos fundamentales: el principio de proporcionalidad como criterio para determinar el contenido de los derechos fundamentales vinculantes para el legislador. 4. ed. Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2014.
BEYLEVELD, Deryck; BROWSWORD, Roger. Human Dignity, Human Rights, and Human Genetics. Modern Law Review, vol. 61, n. 5, p. 661-680, Sept. 1998.
CANADÁ, Suprema Corte, Rodriguez v. British Columbia (Attorney General), 85 C.C.C. (3d) 15: (1993) 3 S.C.R. 519, 1993.
CANADÁ, Suprema Corte, Carter v. Canada (Attorney General), 2015 SCC 5, 1 SCR 331, 2015.
CHANDRA, Aparna. Limitation Analysis by the Indian Supreme Court. In: KREMNITZER, Mordechai; STEINER, Talya, LANG, Andrej (org.). Proportionality in action. Cambridge: Cambridge University Press, 2020. p. 458-541.
COLÔMBIA, Corte Constitucional, Sentencia C-239/97, 1997.
COLÔMBIA, Corte Constitucional, Sentencia C-233/21, 2021.
COLÔMBIA, Corte Constitucional, Sentencia C-164/22, 2022.
CONSELHO DA EUROPA, Tribunal Europeu de Direitos Humanos, Pretty v. United Kingdom, 2346/02, 35, 1, 2002.
CONSELHO DA EUROPA, Tribunal Europeu de Direitos Humanos, Haas v. Switzerland, 31322/07, 53, 1, 2011.
CONSELHO DA EUROPA, Tribunal Europeu de Direitos Humanos, Koch v. Germany, 497/09, 55, 2, 2012.
CONSELHO DA EUROPA, Tribunal Europeu de Direitos Humanos, Gross v. Switzerland, 67810/10, 57, 1, 2014.
CONSELHO DA EUROPA, Tribunal Europeu de Direitos Humanos, Lambert and Others v. France, 46043/14, 60, 2, 2015.
DWORKIN, Ronald. Justice for Hedgehogs. Cambridge: Harvard University Press, 2011.
DWORKIN, Ronald; NAGEL, Thomas; NOZICK, Robert; RAWLS, John; SCANLON, T. M; THOMSON, Judith Jarvis. Assisted Suicide: The Philosopher’s Brief. The New York Review Books, 27, p. 2-17, 1997.
DWORKIN, Ronald. Dominio de la vida. Trad. Ricardo Caracciolo y Victor Ferreres. Barcelona: Ariel, 1998.
DIAS, Jorge de Figueiredo. Ajuda à morte: uma consideração jurídico-penal. Revista de Legislação e Jurisprudência. Secção de Doutrina, Coimbra, ano 137, n. 3949, mar. /abr. 2008.
ESTADOS UNIDOS, Suprema Corte, Cruzan v. Missouri Department of Health, 497 US 261, 1990.
ESTADOS UNIDOS, Suprema Corte, Washington v. Glucksberg, 117 S Ct. 2258, 1997.
FONSECA, Anna Karoliny Alexandre; ZAGANELLI, Margareth Vetis. Eutanásia ativa e suicídio assistido: a decisão. Derecho y Cambio Social, [S. l.], n. 61, p. 01-14, jul. / set. 2020.
FRANÇA, Comité Consulatif National d’Ethique. Opinion 139 Ethical Issues Relating to End-of-Life Situations: Autonomy and Solidarity, Paris, 2022. Disponível em: www.ccne-ethique.fr. Acesso em: 02 jun. 2023.
FRANÇA, Conseil économique social et environnemental. Rapport de la Convention Citoyenne sur la fin de vie, Paris, 2023. Disponível em: . Acesso em: 30 mai. 2023.
GAVIÃO FILHO, Anizio Pires; LYRA, José Francisco Dias da Costa. A força do teste de proporcionalidade no direito penal: ou a proporcionalidade como limite constitucional ao programa de política criminal estatal. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, n. 182, p. 69-103, ago. 2021.
GAVIÃO FILHO, Anizio Pires; CAYE, Ana Adelaide Brasil. Proporcionalidade em Ação nos Tribunais: o Tribunal Constitucional Federal Alemão e o Supremo Tribunal Federal Brasileiro. Revista de Direito Público, Brasília, vol. 19, n. 103, 318-336, jul./set. 2022.
HASSEMER, Winfried. El principio de proporcionalidad como límite de las intervenciones jurídico-penales. In: HIRSCH, Andrew von; SEELMANN, Kurt; WOHLERS, Wolfgang (Org.). Límites al derecho penal: princípios operativos en la fundamentación del castigo. Barcelona: Atelier, p. 193-200, 2012.
HIRSCH, Andrew von; SEELMANN, Kurt; WOBLERS, Wolfgang. Introducción. Que son mediating principles? In: HISRCH, Andrew von; SEELMANN, Kurt; WOHLERS, Wolfgang. Límites al derecho penal: principios operativos en la fundamentación del castigo. Barcelona: Atelier, 2012. p. 55-61.
ÍNDIA, Suprema Corte, Gian Kaur v State of Punjab, 2 SCC 648, 1996.
ÍNDIA, Suprema Corte, Common Cause v. Union of India, Writ Petition (Civil), n. 215 of 2005, 2018.
ÍNDIA, Suprema Corte, Aparna Ajinkya Firodia v. Ajinkya Arun Firodia, n. 9855 of 2022, 2023.
ITÁLIA, Corte Constitucional, Sentenza 242, 2019.
JONES, David A. Is dignity Language Useful in Bioethical Discussion of Assisted Suicide and Abortion? In: McCRUDDEN, Christopher (Ed.) Understanding Human Dignity. Oxford: Oxford University Press, 2014, p. 528-531.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 2007.
KLATT, Matthias; MEISTER, Moritz. The Constitutional Structure of Proportionality. Oxford: Oxford University Press, 2012.
LANG, Andrej. Proportionality analysis by the German Constitutional Court. In: KREMNITZER, Mordechai; STEINER, Talya; LANG, Andrej Lang. Proportionality in action. Cambridge: Cambridge University Press, p. 22-233, 2020.
MACKLIN, Ruth. Dignity is a useless concept. British Medical Journal, 327, 1419-20, 2004.
MARTINELLI, João Paulo Orsini. Paternalismo jurídico-penal: limites da intervenção do Estado da liberdade individual por meio de normas penais. São Paulo: LiberArs, 2015.
MILLNS, Susan. Death, Dignity and Discrimination: The Case of Pretty v. United Kingdom, German Law Journal, vol. 3, 2002.
MIR PUIG, Santiago. El principio de proporcionalidade como fundamento constitucional de limites materiales del derecho penal. In: CARBONELL MATEU, Juan Carlos; GONZÁLEZ CUSSAC, José Luis; ORTS BERENGUER, Enrique (Coord.). Constitución, derechos fundamentales y sistema penal (Semblanzas y estudios con motivo del setenta aniversario del profesor Tomás Salvador Vives Antón). Valencia: Tirant lo Blanch, 2009, p. 1357-1382.
NAVARRO FRÍAS, Irene. El principio de proporcionalidad en sentido estricto: principio de proporcionalidad entre el delito y la pena o balance global de costes y beneficios? InDret: Revista para el Análisis del Derecho, Barcelona, p. 02-33, abr. 2010.
NEGRI, Stefania. Ending Life and Death. In: DEN EXTER, Andre (Eds.). European Health Law, Maklu Publishers, 2017, p. 241.
NEUMANN, Ulfrid. El principio de proporcionalidad como principio limitador de la pena. In: VON HIRSCH, Andrew; SEELMANN, Kurt; WOHLERS, Wolfgang (org.). Límites al derecho penal: principios operativos en la fundamentación del castigo. Barcelona: Atelier, 2012.
OLIVETTI, Marco. O princípio da autodeterminação ao final da vida humana na ordem constitucional italiana: da renúncia ao tratamento ao suicídio assistido. In: ROTHENBURG, Walter Claudius (org.). Direitos fundamentais, dignidade, Constituição: Estudos em homenagem a Ingo Wolfgang. Londrina: Thoth, 2021.
PINKER, Steven. The Better Angels of Our Nature: Why Violence Has Declined. Nova Iorque: Penguin, 2011.
PORTUGAL, Tribunal Constitucional, Acordão do Tribunal Constitucional 05/2023, 2023.
PIEROTH, Bodo; SCHLINK, Bernhard. Direitos fundamentais. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2019, p. 197.
REINO UNIDO, Câmara dos Lordes, Pretty v. Director of Public Prosecutions, 2001 3 WLR 1598, 2002.
REINO UNIDO, Câmara dos Lordes, Airedale NHS Trust v. Bland, All ER 821, 1993.
ROSEN, Michael. Dignity: The Case Against. In: McCRUDDEN, Christopher (Ed.) Understanding Human Dignity. Oxford: Oxford University Press, p. 143-154, 2014.
ROXIN, Claus. A apreciação jurídico-penal da eutanásia. Revista dos Tribunais, São Paulo, vol. 2, p. 57-90, 2013.
SÁNDOR, Judit. Bioethics and Basic Rights: persons, humans, and boundaries of life. In: ROSENFELD, Michel; SAJÓ, András (org.). The Oxford Handbook of Comparative Constitutional Law. Oxford: Oxford University Press, 2012. p. 1142-1161.
SCANLON, T. M. What We Owe to Each Other. Cambridge: Harvard University Press, 1998, p.104-105.
SIQUEIRA, Flávia. Autonomia, consentimento e Direito Penal da Medicina. Rio de Janeiro: Marcial Pons Brasil, 2019.
WALDRON, Jeremy. Dignity, Rank, and Rights. Oxford: Oxford University Press, 2012.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 ANIZIO PIRES GAVIAO FILHO, JOSÉ FRANCISCO DIAS DA COSTA LYRA

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License. Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).




















