Do direito nazifascista ao “neo”constitucionalismo à brasileira: método jurídico, não-direito e outras reflexões
DOI:
https://doi.org/10.5380/rinc.v10i1.86042Keywords:
método jurídico, antiformalismo, neoconstitucionalismo, direito Nazifascista, não-direitoAbstract
Não é raro se encontrar no discurso teórico-dogmático brasileiro certa tentativa de relacionar o positivismo jurídico com regimes autoritários, especialmente com o nazismo. Essa argumentação muitas vezes é utilizada com a intenção de justificar posturas antiformalistas, várias delas autoidentificadas como neoconstitucionalistas, que são, pelo menos em tese, metodologicamente marcadas por forte comprometimento valorativo, pela prevalência de normas do tipo princípios e por certa fluidez na aplicação do Direito. Contudo, a historiografia do direito contemporânea aponta no sentido de que a pretensa identificação entre a experiência normativa nazista com algum formalismo jurídico é, no mínimo, imprecisa, como imprecisa é também a própria definição de neoconstitucionalismo. O presente trabalho é fruto de uma pesquisa teórica e tem o objetivo de dialogar criticamente com alguns dos argumentos que se pretendem justificadores de posturas autodenominadas neoconstitucionalistas, sobretudo no quadro brasileiro. Para tanto, primeiro se atentará para o que diz a historiografia do direito contemporânea sobre a relação entre experiência normativa do nazifascismo e o método jurídico; para na sequência voltar os olhos a alguns problemas das posturas identificadas com o neoconstitucionalismo e sua relação com certo déficit de controlabilidade das racionalidades decisórias e seus os riscos.
References
ADEODATO, João Maurício. Ética e retórica: para uma teoria da dogmática jurídica. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
ARENDT, Hannah. Eichman em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
ÁVILA, Humberto. “Neoconstitucionalismo”: entre a “ciência do direito” e o “direito da ciência”. Revista Eletrônica de Direito do Estado (REDE), Salvador, n. 17, p. 1-19, jan./mar. 2009. Disponível em: <https://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/viewFile/836/595>. Acesso em: 29/07/2021.
BARBERIS, Mauro. ¿Existe el neoconstitucionalismo? In: FABRA ZAMORA, Jorge Luis; GARCÍA JARAMILLO, Leonardo (orgs.). Filosofía del derecho constitucional: Cuestiones fundamentales. México: UNAM, p. 455-478, 2015. Disponível em: <https://archivos.juridicas.unam.mx/www/bjv/libros/9/4052/21.pdf>. Acesso em: 29/07/2021.
BARROSO, Luís Roberto. Fundamentos teóricos e filosóficos do novo direito constitucional brasileiro. (Pós-modernidade, teoria crítica e pós-positivismo). Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, n. 225, p. 5-37, jul./set. 2001. Disponível em: <https://doi.org/10.12660/rda.v225.2001.47562>. Acesso em: 29/07/2021.
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do direito (O triunfo tardio do direito constitucional no Brasil). Quaestio Iuris, Rio de Janeiro, v. 02, n. 01, p. 1-48, 2006, p. 5-10. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/quaestioiuris/article/view/11641>. Acesso em: 29/07/2021.
BARROSO, Luís Roberto; BARCELLOS, Ana Paula de. O começo da história: a nova interpretação constitucional e o papel dos princípios no direito brasileiro. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, n. 232, p. 141-176, abr./jun. 2003. Disponível em: <https://doi.org/10.12660/rda.v232.2003.45690>. Acesso em: 29/07/2021.
BELLEAU, Marie-Claire. Les juristes inquiets: classicisme juridique et critique du droit au début du XXe siècle en France. Cahiers de droit, v. 40, n. 3, p. 507-544, 1999. Disponível em: <https://www.erudit.org/fr/revues/cd1/1999-v40-n3-cd3819/043560ar/>. Acesso em: 29/07/2021.
BOBBIO, Norberto. O positivismo jurídico: lições de filosofia do direito. Trad. Márcio Pugliesi, Edson Bini e Carlos E. Rodrigues. São Paulo: Ícone, 1999.
CAMPOS, Ricardo. Prefácio à edição brasileira: o direito na história e o (neo)constitucionalismo tupiniquim. In: STOLLEIS, Michael. O Direito Público na Alemanha: uma introdução a sua história do século XVI ao XXI. São Paulo: Saraiva, p. 13-20, 2018.
CARBONELL, Miguel (ed.). Neoconstitucionalismo(s). 4 ed. Madri: Editorial Trotta, 2009.
CURRAN, Vivian G. Fear of Formalism: Indications from the Fascist Period in France and Germany of Judicial Methodology’s Impact on Substantive Law. Cornell International Law Journal, Ithaca, v. 35, n. 1, p. 101-187, 2001. Disponível em: <https://scholarship.law.cornell.edu/cilj/vol35/iss1/3>. Acesso em: 29/07/2021
CURRAN, Vivian Grosswald. Formalism and anti-formalism in french and german judicial methodology. In: JOERGES, Christian; GHALEIGH, Navraj Singh (eds.). Darker Legacies of Law in Europe: the shadow of National Socialism and Fascism over Europe and its legal traditions. Oxford/Portland: Hart, p. 205-228, 2003.
DAWSON, J. P. Specific Performance in France and Germany. Michigan Law Review, Ann Arbor, v. 57, n. 4, p. 495-538, 1959. Disponível em: <https://repository.law.umich.edu/mlr/vol57/iss4/6>. Acesso em: 29/07/2021
DIMOULIS, Dimitri. Positivismo jurídico: introdução a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo jurídico-político. São Paulo: Método, 2006.
DYZENHAUS, David. Law as justification: Etienne Mureinik’s conception of legal culture. South African Journal On Human Rights, Johannesburg, n. 14, p. 11-37, 1998. Disponível em: <https://doi.org/10.1080/02587203.1998.11834966>. Acesso em: 29/07/2021
GARCÍA AMADO, Juan Antonio. Nazismo, Derecho y Filosofía del Derecho. Anuario de Filosofia del Derecho, n. 8, p. 341-364, 1991. Disponível em: <https://www.boe.es/publicaciones/anuarios_derecho/articulo.php?id=ANU-F-1991-10034100364>. Acesso em: 29/07/2021.
GARCÍA AMADO, Juan Antonio. Sobre el neoconstitucionalismo y sus precursores. In: MANTILLA ESPINOSA, Fabricio (coord.). Controversias constitucionales. Bogotá: Editorial Rosário, p. 24-69, 2009.
GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes. A germanística jurídica e a metáfora do dedo em riste no contexto explorativo das justificativas da dogmática dos direitos fundamentais. Revista Brasileira de Políticas Públicas, Brasília, v. 5, Número Especial, p. 451-478, 2015. Disponível em: <https://www.publicacoes.uniceub.br/RBPP/article/view/3172>. Acesso em: 29/07/2021.
GUASTINI, Riccardo. A propósito del neoconstitucionalismo. Gaceta Constitucional, Lima, n. 67, p. 231-240, 2013.
HELLER, Hermann. ¿Estado de Derecho o Dictadura? In: HELLER, Hermann. Europa y el Fascismo. Tradução Francisco J. Conde. Granada: Comares, p. 117-135, 2006.
HELLER, Herman. Teoría del Estado. Tradução Luís Tobio. Cidade do México: FCE, 1998.
JACOBSON, Arthur; SCHLINK, Bernhard (org.). Weimar: a jurisprudence of crisis. Berkley: University of California Press, 2002.
LOCHAK, Danièle. La doctrine sous Vichy ou les mésaventures du positivisme. In: LOCHAK, Danièle. (ed). Les usages sociaux du droit. Paris: Presses universitaires de France, 1989. Disponível em: <http://www.anti-rev.org/textes/Lochak89a/>. Acesso em: 20/06/2019.
LOUGHLIN, Martin. Foundations of Public Law. Oxford: Oxford University Press, 2010.
LUCAS VERDÚ, Pablo. Lugar de la teoria de la constitución en el marco del derecho político. Revista de Estudios Políticos, Madri, vol. 188, p. 5-20, mar./abr. 1973. Disponível em: <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=1710417>. Acesso em: 29/07/2021.
MARMELSTEIN, George. Curso de Direitos Fundamentais. 7 ed. São Paulo, 2018.
MARTINS, Ricardo Marcondes. Neoconstitucionalismo. In: CAMPILONGO, Celso Fernandes; GONZAGA, Alvaro de Azevedo; FREIRE, André Luiz (coords.). Enciclopédia jurídica da PUC-SP. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017. Tomo: Direito Administrativo e Constitucional. Disponível em: <https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/134/edicao-1/neoconstitucionalismo>. Acesso em: 29/07/2021.
MATOS, Andityas S. M. C.; MILÃO, Diego A. P. Decisionismo e Hermenêutica Negativa: Carl Schmitt, Hans Kelsen e a afirmação do poder no ato interpretativo do direito. Seqüência, Florianópolis, n. 67, p. 111-137, dez. 2013. Disponível em: <https://doi.org/10.5007/2177-7055.2013v34n67p111>. Acesso em: 29/07/2021.
MATOS, Andityas S. M. C.; SOUZA, Joyce K. S. Sobrevivências do nazifascismo na teoria jurídica contemporânea e seus reflexos na interpretação judicial brasileira. Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito (RECHTD), v. 9, n. 3, p. 295-310, 2017. Disponível em: <https://doi.org/10.4013/rechtd.2017.93.08>. Acesso em: 29/07/2021.
MERRYMAN, J. H. The French Deviation. The American Journal of Comparative Law, v. 44, n. 1, p. 109-119, 1996. Disponível em: <https://doi.org/10.2307/840522>. Acesso em: 29/07/2021.
MORA SIFUENTES, Francisco M. Contra el neoconstitucionalismo y otros demonios. Entrevista a Juan Antonio García Amado. Ciencia Jurídica, a. 5, n.10, p. 259-276, 2016. Disponível em: <http://www.cienciajuridica.ugto.mx/index.php/CJ/article/view/200>. Acesso em: 29/07/2021.
MÜLLER, Ingo. Los juristas del horror: la 'justicia' de Hitler: el pasado que Alemania no puede dejar atrás. Caracas: Editorial ACTUM, 2006.
MUREINIK, Etienne. A bridge to where? Introducing the interim Bill of Rights. South African Journal on Human Rights, Johannesburg, n. 10, p. 31-48, 1994. Disponível em: <https://doi.org/10.1080/02587203.1994.11827527>. Acesso em: 29/07/2021.
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 36 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
NEUMANN, Franz. A mudança de função da lei no direito da sociedade burguesa. Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 109, p. 13-87, jul./dez. 2014. Disponível em: <https://doi.org/10.9732/P.0034-7191.2014v109p13>. Acesso em: 29/07/2021.
NEUMANN, Franz. Behemoth: the Structure and Practice of National Socialism 1933-1944. Chicago: Ivan R. Dee, 2009.
POZZOLO, Susanna. Apuntes sobre “neoconstitucionalismo”. In: ZAMORA, Jorge Luis Fabra; VAQUERO, Álvaro Núnez. Enciclopedia de filosofía y teoría del derecho. Cidade do México: Unam, p. 363-405. 2015.
POZZOLO, Susanna. Neoconstitucionalismo y especificidad de la interpretación constitucional. Doxa, Alicante, n. 21, v. 2, p. 339-353, 1998. Disponível em: <https://doi.org/10.14198/DOXA1998.21.2.25>. Acesso em: 29/07/2021.
RADBRUCH, Gustav. Cinco minutos de Filosofia do Direito. Publicações da Escola da AGU, n. 17, p. 261-263, 2012. Disponível em: <https://seer.agu.gov.br/index.php/EAGU/article/view/1620/1307>. Acesso em: 29/07/2021.
RADBRUCH, G. Gesetzliches Unrecht und übergesetzliches Recht. Süddeutsche Juristen-Zeitung, v. 1, n. 5, p. 105-108, 1946.
RODRIGUEZ, José Rodrigo. As figuras da perversão do direito: para um modelo crítico de pesquisa jurídica empírica. Revista Prolegómenos Derechos y Valores, v. 19, n. 37, 99-124, jan./jun. 2016. Disponível em: <https://doi.org/10.18359/prole.1682>. Acesso em: 29/07/2021.
RODRIGUEZ, José Rodrigo. Como decidem as cortes? Para uma crítica do direito brasileiro. Rio de Janeiro: FGV, 2013.
RÜTHERS, Bernhard. Derecho degenerado. Teoría jurídica y juristas de câmara em el Tercer Reich. Madri: Marcial Pons, 2016.
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
SARMENTO, Daniel. O Neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: <http://www.dsarmento.adv.br/content/3-publicacoes/15-o-neoconstitucionalismo-no-brasil-riscos-e-possibilidades/o-neoconstitucionalismo-no-brasil.riscos-e-possibilidades-daniel-sarmento.pdf>. Acesso em: 20/06/2019.
SCHUARTZ, Luis Fernando. Consequencialismo Jurídico, Racionalidade Decisória e Malandragem. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 248, p. 130-158, mai./ago. 2008. Disponível em: <https://doi.org/10.12660/rda.v248.2008.41531>. Acesso em: 29/07/2021.
STOLLEIS, Michael. A history of public law in Germany 1914-1945. Tradução Thomas Dunlap. Oxford: Oxford University Press, 2004.
STOLLEIS, Michael. The law under the swastika: studies on legal history in Nazi Germany. Chicago: University of Chicago Press, 1998.
STRECK, Lênio. Contra o neoconstitucionalismo. Constituição, Economia e Desenvolvimento: Revista da Academia Brasileira de Direito Constitucional, Curitiba, n. 4, p. 9-27, jan./jun. 2011. Disponível em: <http://www.abdconst.com.br/revista5/Streck.pdf>. Acesso em: 29/07/2021.
STRECK, Lênio. Uma leitura hermenêutica das características do neoconstitucionalismo. Observatório da Jurisdição Constitucional, Brasília, a. 7, n. 2, p. 25-48, jul./dez. 2014. Disponível em: <https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/observatorio/article/view/1043/672>. Acesso em: 29/07/2021.
SILVA, Virgílio Afonso. Interpretação constitucional e sincretismo metodológico. In: SILVA, Virgílio Afonso (org.). Interpretação constitucional. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 115-143.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Authors who publish in this Journal agree to the following terms:
- Authors retain copyright and grant the Journal of Constitutional Research the right of first publication with the article simultaneously licensed under the Creative Commons - Attribution 4.0 International which allows sharing the work with recognition of the authors and its initial publication in this Journal.
- Authors are able to take on additional contracts separately, for non-exclusive distribution of the version of the paper published in this Journal (eg.: publishing in institutional repository or as a book), with a recognition of its initial publication in this Journal.
- Authors are allowed and encouraged to publish their work online (eg.: in institutional repositories or on their personal website) at any point before or during the submission process, as it can lead to productive exchanges, as well as increase the impact and the citation of the published work (see the Effect of Open Access).




















