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n. 43 - BUROCRACIA EDUCACIONAL EM INTERAÇÃO COM AS FAMÍLIAS NOS PROCESSOS DE MATRÍCULA ESCOLAR NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Rodrigo Rosistolato, Ana Pires do Prado, Maria Comes Muanis, Diana Gomes da Silva Cerdeira

Resumo


O trabalho apresenta os resultados de uma investigação sobre as relações entre a burocracia escolar e as famílias dos estudantes durante os processos de matrícula na rede municipal do Rio de Janeiro. Nela, há escolas com diferentes desempenhos e reputações; por isso, há diferenças de demanda pelas vagas oferecidas. Embora exista legislação específica para a matrícula que inclui, inclusive, regras para desempate entre famílias no caso de maior demanda do que oferta, nossos dados permitem afirmar que existem diferentes estratégias utilizadas pelas famílias para escolher e acessar as melhores escolas, ora regidas exclusivamente pelo acompanhamento das regras e normas da regulamentação de matrícula, ora através do contato pessoal com profissionais da burocracia estatal e/ou com pessoas conectadas a eles. A análise desse cenário de escolha e acesso às escolas revela um conjunto de sociabilidades entre as famílias e o Estado. Nosso objetivo é descrever e analisar esse cenário e os resultados objetivos das ações empreendidas pelas famílias e pelos profissionais da escola. Concluímos que as famílias que estabelecem contatos pessoais diretos ou indiretos com a burocracia escolar têm maiores chances de acessar as vagas nas escolas mais disputadas. Isso ocorre porque as ações discricionárias da burocracia, em conjunto com as ações familiares, definem as trajetórias dos estudantes com base em critérios por vezes antagônicos à lógica republicana que deveria organizar a distribuição de vagas em escolas.

 


Palavras-chave


educação, política educacional, matrícula escolar, escolha escolar

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/jpe.v13i0.68554