SAÚDE MENTAL E ABORTO DECORRENTE DE VIOLÊNCIA SEXUAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/diver.v16i2.92841

Resumo

O estigma e a discriminação ligados ao aborto, juntamente com políticas restritivas de acesso, a falta de autonomia sobre o próprio corpo, a submissão das mulheres aos seus parceiros e a negligência do Estado em relação à gravidez resultante de violência sexual, são fatores que impactam de forma direta quem busca o procedimento de aborto legal. Este estudo tem como objetivo aprofundar a compreensão dos aspectos que podem desencadear sofrimento psíquico no processo de busca pelo aborto em casos de violência sexual. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com busca em cinco bases de dados, cuja estratégia de busca recuperou 21 artigos que atendendo aos critérios foram analisados. Para a análise, os principais tópicos foram divididos em seis categorias, sendo elas: motivos e contextos psicossociais para a interrupção da gestação decorrente de uma violência sexual; sofrimento relacionado ao estigma social do aborto e aos papeis de gênero; os riscos potenciais ou danos à saúde mental pela tendência da patologização do aborto; sofrimento envolvendo as barreiras de acesso aos serviços de aborto; redes de apoio psicossocial que amenizam o sofrimento e auxiliam na efetivação do aborto seguro; políticas e programas de saúde sexual e reprodutiva efetivam direitos e protegem a saúde mental.

Palavras-chave: Aborto legal; Sofrimento psíquico; Abuso Sexual; Estigma; Determinação social da saúde; Saúde Sexual e Reprodutiva.


Biografia do Autor

Victória de Biassio Klepa, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, Paraná

Mestranda em Saúde Coletiva (UFPR). Pós-graduanda da especialização em Direitos Humanos e Saúde (DIHS/ENSP/FIOCRUZ). Graduada em Psicologia (UFPR-2022). É pesquisadora CAPES na Clínica de Direitos Humanos (CDH/UFPR/PPGD). Áreas de pesquisa: determinação social do processo saúde-doença mental, psicologia histórico-cultural, processos migratórios e direitos humanos, direitos sexuais e reprodutivos, gênero e sexualidade.

Livia Meira Lima Paiva, Instituto Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ.

Doutora e Mestre em Direito na linha de pesquisa Direitos Humanos, Sociedade e Arte, ambos na UFRJ (PPGD/UFRJ) com período de pesquisa doutoral no Instituto de Investigaciones Juridicas da UNAM/México. Professora efetiva do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ). Graduada em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013). Membro do Fórum Permanente de Direitos Humanos da EMERJ e pesquisadora do NUPEGRE (Núcleo de Pesquisa em Gênero, Raça e Etnia) na mesma instituição. Foi professora substituta na Faculdade Federal do Rio de Janeiro nas disciplinas Direitos Humanos, Teoria do Direito e Filosofia do Direito (2016 a 2017). Autora dos livros "Lei Maria da Penha na Prática" (Editora Thompson Reuters, 2019, 2021 e 2022), "Feminicídio: discriminação de gênero e sistema de justiça criminal" (Editora Thompson Reuters, 2022) e "Direitos Humanos e Processo Penal" (Editora DPlácido, 2018). Docente na especialização de Direito e Gênero da EMERJ. Possui curso de extensão na Université Paris VIII (2011) em cultura e organizações internacionais e Université Paris- Dauphine (2011) em literatura francesa. Desenvolve pesquisa nas áreas de direitos humanos, teoria do direito, direito penal, violência de gênero e violência doméstica.

Renata Bellenzani, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, Paraná

Doutora em Saúde Coletiva (USP-2014). Mestre em Psicologia Social e do Trabalho (USP-2008), Graduação em Psicologia (UFSCar-2002). Docente do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná (Medicina e Pós-Graduação em Saúde Coletiva). Colaboradora do Mestrado em Psicologia (PPGPSICO/UFMS) e em Gestão da Clínica (PPGGC/UFSCar) (2018-2022). Foi professora da UFMS/CPAR (2009-2021), Curso de Psicologia. É pesquisadora do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESC/UFPR/CNPQ). Áreas de pesquisa: determinação social do processo saúde-doença mental, RAPS, atenção primária à saúde, vulnerabilidades em saúde sexual e direitos humanos, viver com HIV, fundamentos do materialismo histórico-dialético, psicologia histórico-cultural e psicologia social para a Saúde Coletiva.

Taysa Schiocchet, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, Paraná

Professora Adjunta da Faculdade de Direito e do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFPR. Doutora em Direito, com período de estudos doutorais na Université Paris I e FLACSO (Argentina). Pós-doutorado em Direito na Universidad Autónoma de Madrid (Espanha). Professora visitante da Université Paris X. Advogada. Coordenadora da Clínica de Direitos Humanos da UFPR. Tem experiência na área de Direitos Humanos e Novos Direitos, com ênfase em Bioética, pesquisas jurídicas empíricas e metodologia clínica do ensino do direito. Os temas prioritários de pesquisa e extensão são: Clínicas de Direitos Humanos, Direito Civil-Constitucional e Direitos da Personalidade, Biodireito e Ética na Pesquisa, marcadores sociais de vulnerabilidade (gênero, racial, étnico, geracional, geográfico etc.).

Maria Helena Barros de Oliveira, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ

Chefe do Departamento de Direitos Humanos e Saúde - DIHS, Pesquisadora titular da Fundação Oswaldo Cruz, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz. Cursou Pós Doutorado no Centro de Estudos Socias - CES - UC/PT com supervisão de Boaventura de Sousa Santos. Doutorado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (1996), Mestrado em Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba (1991), graduação em Curso de Direito pelo Instituto Metodista Bennett (1996), graduação em Formação de Psicólogo pela UniversidadeFederal da Paraíba (1979). Realiza pesquisas nas áreas do Direito e Saúde e Política Nacional de Saúde do Trabalhador.  É responsável nos Cursos de Mestrado e Doutorado em Saúde Pública pelas disciplinas Direito Humanos e Saúde; coordena os Curso de Especialização em Direitos Humanos e Saúde e Direitos Humanos, Saúde e Racismo: a questão negra da ENSP/Fiocruz. Coordenadora do Convênio Fiocruz/CES-UC-PT e do Comitê Pró-Equidade de Gênero-Fiocruz. Coordenadora do Doutorado Internacional Direitos Humanos, Saúde Global e Políticas da Vida, Fiocruz/CES.Vice presidente do Núcleo de Pesquisa em Gênero, Raça e Etnia - NUPEGRE, da EMERJ. Experiência na área de Saúde Pública, atuando nos seguintes temas:Direito Humanos e Saúde, Justiça e Cidadania, Gênero e Violência, Legislação e Saúde e Saúde do Trabalhador e Ambiente.

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Publicado

2023-12-22

Como Citar

de Biassio Klepa, V., Meira Lima Paiva, L., Bellenzani, R., Schiocchet, T., & Barros de Oliveira, M. H. (2023). SAÚDE MENTAL E ABORTO DECORRENTE DE VIOLÊNCIA SEXUAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA. Divers@!, 16(2), 294–314. https://doi.org/10.5380/diver.v16i2.92841