ENTRE FETOS ENGOLIDOS E BOTOS: A LUTA DAS MULHERES RIBEIRINHAS AMAZÔNIDAS FRENTE A NEGAÇÃO DO DIREITO AO ABORTO
DOI:
https://doi.org/10.5380/diver.v16i2.92813Resumo
O debate acerca da interrupção da gravidez é cercado de tabus acerca de questões éticas, religiosas e morais que impedem o exercício desse direito. Apesar disso, o aborto é uma prática frequente na vida das mulheres brasileiras, inclusive as mulheres ribeirinhas. Estas lidam com uma dura realidade de ausência de políticas públicas, de pesquisas e de estudos acadêmicos. Desta forma, é fundamental lançarmos atenção a esse problema e compreender de que forma a realidade das mulheres ribeirinhas ganha atenção nos estudos e nas políticas públicas voltadas ao aborto. Foi realizado um levantamento bibliográfico e documental, quali-quantitativo sobre tais questões. Também foram realizadas entrevistas com agentes de políticas públicas. Averiguou-se que inexiste uma política pública ou programa específico que atenda a mulher ribeirinha que se vê diante da interrupção da gravidez. Por isso, destaca-se a importância de tal tema e da mobilização acadêmica na produção de novos estudos, que possam subsidiar a criação de políticas públicas.
Palavras-chave: Aborto; Interrupção da gravidez; Amazônia; Feminismo; Mulheres; Políticas públicas.
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