SEXO, IDENTIDADE DE GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL, COMO PREENCHER? ANÁLISE QUALITATIVA DOS DILEMAS E POTÊNCIAS NA VIGILÂNCIA DAS VIOLÊNCIAS

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/diver.v16i1.90390

Resumo

A notificação da violência constitui-se em elemento essencial para a vigilância em saúde e consequente estruturação do cuidado integral às pessoas vítimas deste agravo. Este estudo trata de pesquisa qualitativa acerca dos desafios e potencialidades do preenchimento das questões de diversidade sexual e de gênero da Ficha de Notificação de Violência Interpessoal/Autoprovocada do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Conduzimos sete grupos focais com 105 profissionais e gestores(as) do Sistema Único de Saúde (SUS) das secretarias estaduais de saúde da Região Sul do Brasil, além de profissionais da rede intersetorial, estudantes e representantes de movimentos sociais de lésbicas, gays, bissexuais, travestis/transexuais/transgêneros, queer, intersexo, assexuais, pansexuais, não-binários e outras minorias sexuais (LGBTQIAPN+). Foram definidos três eixos de análise dos resultados: (1) sexo; (2) identidade de gênero; e (3) orientação sexual. Conclui-se que os principais desafios para o preenchimento da Ficha, no que se refere aos campos ligados à diversidade sexual e de gênero, relacionam-se à necessidade de superação de um contexto de marginalização desta pauta e de ampliação dos espaços para o debate qualificado acerca do tema. Dentre as principais potencialidades, destaca-se o reconhecimento da necessidade de inclusão da pluralidade das condições de gênero e sexualidade para a elaboração e implementação de estratégias de vigilância das violências.

Biografia do Autor

Luiza Maria Plentz, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná

Doutoranda em Sociologia (UFPE). Graduada em Saúde Coletiva na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).  Membro do Grupo de Pesquisas Território, Diversidade e Saúde – TeDiS/CNPQ.

Daniel Canavese de Oliveira, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Rio Grande do Sul

Professor Associado de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Graduado em Odontologia. Mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Estudo em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ) e Doutor em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM/USP).

Marcos Claudio Signorelli, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, Paraná

Professor Associado de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduado em Fisioterapia, Mestre em Fisiologia Humana e Doutor em Saúde Coletiva. Pós-doutorado em Saúde Pública (La Trobe University, Austrália).

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Publicado

16-08-2023

Como Citar

Plentz, L. M., de Oliveira, D. C., & Signorelli, M. C. (2023). SEXO, IDENTIDADE DE GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL, COMO PREENCHER? ANÁLISE QUALITATIVA DOS DILEMAS E POTÊNCIAS NA VIGILÂNCIA DAS VIOLÊNCIAS. Divers@!, 16(1), 228–249. https://doi.org/10.5380/diver.v16i1.90390

Edição

Seção

Artigos