Open Journal Systems

Jacques Rancière e a política dos direitos dos animais: a estética da subjetividade jurídica e a politização do social

Leonardo Monteiro Crespo de Almeida

Resumo


O objetivo deste artigo reside em trazer para o âmbito da filosofia política de Jacques Rancière as dificuldades associadas com a animalidade no direito, normalmente concebidas por meio das discussões referentes aos direitos dos animais. Em vez de se deter nas implicações especificamente jurídicas desses direitos, da extensão que possuem ou mesmo de sua fundamentação, o artigo, ao recorrer a uma leitura muito particular da filosofia de Rancière, pretende apontar as condições que permitem ou obstruem a representatividade dos animais no campo jurídico. Para tanto, a pesquisa desenvolvida situa a maneira como os sujeitos jurídicos são construídos por meio da formulação de demandas em meio a um espaço social que não lhes reconhecem como vozes a serem ouvidas, ou seja, contestam as narrativas que impedem o reconhecimento institucional de suas vozes. Certas narrativas consensualmente estabelecidas dificultam, senão impedem, que os animais apareçam perante o direito como entes cujas vidas possuem valor e consideração. Uma das questões apontadas é que, apesar da existência e da produção cada vez mais ampla de normas jurídicas comprometidas com a proteção dos animais, estas podem estar vinculadas a imperativos econômicos, excluindo determinadas espécies do seu âmbito de proteção e incidência. O artigo, por fim, salienta a importância de se manter em aberto questionamentos referentes a novas formas de juridicidade que levem em consideração, para além do cálculo de benefícios/custos e dos pressupostos antropocêntricos, o sofrimento e a condição precária dos entes não humanos.


Palavras-chave


Rancière. Estética. Direito dos animais. Política.

Texto completo:

PDF

Referências


BRAIDOTTI, Rosi. The Posthuman. Cambridge: Polity Press, 2013.

BUTLER, Judith. Frames of War: When is Life Grievable? London: Verso, 2009.

BUTLER, Judith. Precarious Life: The Powers of Mourning and Violence. London: Verso, 2004.

CALARCO, Matthew. Zoographies: The Question of the Animal from Heidegger to Derrida. New York: Columbia University Press, 1998.

CORNELL, Drucilla. The Philosophy of the Limit. London: Routledge, 1992.

DERANTY, Jean-Philippe. Jacques Rancière’s Contribution to the Ethics of Recognition. Political Theory, v. 31, n. 1, 2003, pp. 136-156.

DERRIDA, Jacques. Força de Lei: O “Fundamento Místico da Autoridade”. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

DERRIDA, Jacques. O animal que logo sou. São Paulo: Editora UNESP, 2002.

DERRIDA, Jacques; ROUDINESCO, Elisabeth. For What Tomorrow: A Dialogue. Stanford, CA: Stanford University Press, 2004.

DIAMOND, Cora. The Difficulty of Reality and the Difficulty of Philosophy. In: CAVELL, Stanley; DIAMOND, Cora; MCDOWELL, John; HACKING, Ian; WOLFE, Cary. Philosophy and Animal Life. New York: Columbia University Press, 2008.

MUSSAWIR, Edward. Jurisdiction in Deleuze: The Expression and Representation of Law. London: Routledge, 2011.

RANCIÈRE, Jacques. Aux bords du politique. Paris: Folio, 2004.

RANCIÈRE, Jacques. Dissensus: On Politics and Aesthetics. London: Continuum Press, 2010.

RANCIÈRE, Jacques. La mésentente: Politique et philosophie. Paris: Editions Galiléé, 1995.

RANCIÈRE, Jacques. Le Partage du sensible: Esthétique et polique. Paris : La fabrique editions, 2000.

SIEGEL, James. “Tout Autre est Tout Autre”. In: BERGER, Anne Emmanuelle; SEGARRA, Marta. Demenageries: Thinking (of) Animals after Derrida. Amsterdam: Rodopi, 2011, pp. 213-243.

TANKE, Joseph J. Jacques Rancière: An Introduction. London: Continuum Press, 2011.

WOLFE, Cary. Before the Law: Humans and Other Animals in a Biopolitical Frame. Chicago: The University of Chicago Press, 2013.




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/rfdufpr.v64i2.65413