Necrocapitalismo, colonialismo de dados e o facebook em Mianmar
A repressão contra os Rohingya (2012-2018)
DOI:
https://doi.org/10.5380/cg.v14i3.98770Palavras-chave:
Mianmar, necrocapitalismo, colonialismo digital, Rohingya, Facebook.Resumo
Este artigo investiga como a repressão sistemática ao povo Rohingya, com ênfase no período entre 2012 e 2018, pode ser compreendida a partir da interseção entre necrocapitalismo e colonialismo de dados. A pesquisa parte da seguinte pergunta: de que modo a atuação da empresa Meta (Facebook) em Mianmar influenciou a intensificação dos discursos de ódio e da violência étnico-religiosa posteriormente caracterizada como genocídio? O objetivo central é analisar os impactos das plataformas digitais em contextos de violência estrutural, examinando especificamente o papel desempenhado pelo Facebook na amplificação de narrativas persecutórias e na legitimação social da violência contra os Rohingyas. Com base nos conceitos de necrocapitalismo e colonialismo de dados, a hipótese sustentada é que a lógica extrativista de dados operada por grandes plataformas, combinada à ausência de regulação local e à negligência institucional da empresa, contribuiu para a propagação de discursos de ódio, reforçando hierarquias coloniais e desigualdades históricas no país. Metodologicamente, a pesquisa baseia-se em revisão bibliográfica e análise documental, com ênfase no relatório da Missão Internacional Independente da ONU sobre Mianmar (2018), que denuncia a responsabilidade das redes sociais na crise. Os resultados apontam que a atuação da big tech Meta, ao se inserir em um ambiente marcado por um legado de dominação colonial e tensões étnicas, intensificou mecanismos necropolíticos mediados por infraestruturas digitais. A análise evidencia, assim, como a economia digital global pode operar como vetor de violência em contextos pós-coloniais fragilizados institucionalmente.
Referências
ALAM, J. The current Rohingya crisis in Myanmar in historical perspective. Journal of Muslim minority affairs, v. 39, n. 1, p. 1–25, 2019.
ANG, C. Visual Capitalist: How do big tech Giants make their billions?, 2022. Disponível em: https://www.visualcapitalist.com/how-big-tech-makes-their-billions-2022/; Acesso em: 05 jun. 2024.
ANSAR, A et al. Digital Diaspora Activism at the Margins: Unfolding Rohingya diáspora interac-tions on facebook (2017-2022). Social Media + Society, 10(1), pp. 1-16, 2024.
BAIROCH, P. Geographical Structure and Trade Balance of European Foreign Trade. Joumal of European Economic History, v. 3, pp. 557-608, 1974.
BANAJI, S et al. Social media and hate. Londres, England: Routledge, 2022.
BANCO MUNDIAL. População de Mianmar - 2023. Disponível em: https://data.worldbank.org/indicator/SP.POP.TOTL?locations=MM; Acesso em: 08 jun. 2024.
BANERJEE, S. Necrocapitalism. Organization Studies, v. 29, n. 12, 2008. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0170840607096386; Acesso em: 15 dez. 2024.
BARBROOK, R.; CAMERON, A. A ideologia californiana: uma crítica ao livre mercado nasci-do no vale do Silício. União da Vitória: Monstro dos Mares, Porto Alegre: BaixaCultura, 2018.
CASSINO, J. O sul global e os desafios pós-coloniais na era digital. In: CASSINO, J. et al. (org.). Colonialismo de dados: como opera a trincheira algorítmica na guerra neoliberal. São Paulo: Autonomia Literária, 2021.
COULDRY, N.; MEJIAS, A. Data colonialismo: Rethinking bid data’s relations to the contempo-rary subject. Television & New Media, 20(4), pp. 1-14, 2018.
DAVIS, A. Hate Speech in Myanmar: The Perfect Storm In: JAYAKUMAR, S., ANG, B., ANWAR, N. Disinformation and Fake News. Singapura: Palgrave Macmillan, 2021.
DEEJAY, AL. Et al. Bad adopters or bad proponentes of technology? Facebook and the violence Against Muslims in Myanmar. Third World Quarterly, 45(8), p. 1309–1324, 2023.
EMBASSY OF MYANMAR. General Information of Myanmar, 28 mar. 2018. Dis-ponível em: https://myanmarbsb.org/_site/general-information/; Acesso em: 8 ago. 2023.
FANON, F. Os condenados da terra. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2005.
FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008
FAUSTINO, D.; LIPPOLD, W. Colonialismo digital: por uma crítica hacker-fanoniana. São Paulo: Boi Tempo, 2023.
FERREIRA, S. R. DA S. O que é (ou o que estamos chamando de) ‘Colonialismo de Dados’? PAU-LUS Revista de Comunicação da FAPCOM, v. 5, n. 10, 2021. Disponível em: https://revista.fapcom.edu.br/index.php/revista-paulus/article/view/458; Acesso em: 02 nov. 2024.
FOLHA DE S. PAULO. Facebook reconhece que falhou em impedir violência contra Rohingya, Folha de S. Paulo, 8 nov. 2018. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/11/facebook-reconhece-que-falhou-em-impedir-violencia-contra-Rohingya.shtml; Acesso em: 20 fev. 2025.
FRANCISCO, Y. M.; FLORIO, B. P. Religião, Raça e Nacionalismo em Mianmar: o Caso das Mu-lheres Rohingya. Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD, 12(24), p. 196–223, 2024.
GONSALVES, T, PATHAK, A. The Rohingya Crisis: A Long Road Ahead. In: Mukhopadhyay, U. Internal Migration Within South Asia: Contemporary Issues and Challenges. India: Sprin-ger, 2022.
GROSFOGUEL, Ramón. Les implications des altérités épistémiques dans la redéfinition du capi-talisme global. Transmodernité, pensée frontalière et colonialité globale. Multitudes, v. 26, p. 51-74, 2006.
HRC [HUMAN RIGHTS COUNCIL]. Report of the independent international fact-finding mission on Myanmar, 2018. Disponível em: https://digitallibrary.un.org/record/1643079/files/A_HRC_39_CRP-2-EN.pdf?ln=en; Acesso em: 08 ago. 2023.
JORNAL DA USP. Genocídio Rohingya gerou maior êxodo do mundo contemporâneo. Jornal da USP, 14 set. 2018. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/genocidio-Rohingya-gerou-maior-exodo-do-mundo-contemporaneo/; Acesso em: 05 jan. 2025.
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2019.
KOLLI, P. Altona Mirror: Tech companies are Worth trillions: Are they too big?, 2024. Dispo-nível em: <https://www.altoonamirror.com/news/2024/05/tech-companies-are-worth-trillions-are-they-too-big/#:~:text=The%20top%20five%20American%20technology,%2412%20trillion%20in%20market%20capitalization; Acesso em: 05 jun. 2024.
LEE, R. Extreme peech in Myanmar: The role of state media in the Rohingya forced migration crisis. International Journal of Communication, v.13, pp. 3203-3224, 2019.
LEONG, L. Domesticating algorithms: Na exploratory study of Facebook users in Myanmar. The Information Society, 36(2), p. 97-108, 2020.
LOOMBA, A. Colonialism/Potcolonialism. Londres: Routledge, 1998.
LORA, L. Limitations and scope of the responsability of internet servisse provider companies. Meta and incitement to genocide of Rohingya case. Cuadernos de Derecho Transnacional, v. 15, n.2, pp. 141-166, 2023.
MCKINLEY, D. Reclaiming Public Water: The struggle Against water privatisation in South Africa, 2005. Disponível em: https://www.tni.org/files/watersafrica.pdf; Acesso em: 05 jun. 2024.
MEIXLER, Eli. Rohingya refugees ‘stand on the precipice of more tragedy’ one year after brutal crackdown’, Time, 2018. Disponível em: https://time.com/5374143/myanmar-Rohingya- au-gust-25-crackdown/; Acesso em: 11 ago. 2023.
MORADA, N. Continuing violence and atrocities in Rakhine since 2017: Beyond the outrage, fail-ures of the international community. Global Responsibility to Protect, v. 12, n. 1, p. 64–85, 2020
ONU [Organização das Nações Unidas]. Independent International Fact-Finding Mission on Myanmar, 2019a. Disponível em: https://www.ohchr.org/en/hr-bodies/hrc/myanmar-ffm/index; Acesso em: 08 ago. 2023.
ONU [Organização das Nações Unidas]. Rohingyas ameaçados de perseguição e genocídio em Mianmar. ONU News, 16 Setembro 2019b. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2019/09/1687022; Acesso em: 02 jan. 2025.
RIO, V. Myanmar: the role of social media inn fomenting violence In: SCHIRCH, L. Social me-dia impacts on conflict and democracy: The techtonic shift. New York: Routledge, 2021.
SAMET, O. Facebook Usage and Outgroup Intolerance in Myanmar. Political Communica-tion, 41(6), p. 944-964, 2024.
SABLOSKY, J. Dangerous organizations: Facebook’s contente moderation decisions and ethnic visibility in Myanmar. Media, Culture & Society, 43(6), 1017-1042, 2021.
STATISTA. The 100 largest companies in the world by market capitalization in 2023. Disponível em: https://www.statista.com/statistics/263264/top-companies-in-the-world-by-market-capitalization/; Acesso em: 10 jan. 2025.
STECKLOW, S. Why Facebook Is Losing the War on Hate Speech in Myanmar. Reuters, 2018. Disponível em: https://www.reuters.com/investigates/special-report/myanmar-facebook-hate/; Acesso em: 06 jan. 2024.
TÄHTINEN.T. When Facebook Is the Internet: The Role of Social Media in Ethnic Conflict. World Development, v. 180, 2024.
VEJA. Muçulmanos de Mianmar exigem R$ 850 bi do Facebook por genocídio. Veja, 7 dez. 2021. Disponível em: https://veja.abril.com.br/mundo/muculmanos-de-mianmar-exigem-r-850-bi-do-facebook-por-genocidio; Acesso em: 15 fev. 2025.
YOUNG, H. et al. More a red than a harbinger of democracy: Myanmar’s experimente with media freedom and domestic media coverage of the Rohingya. International Journal of Commu-nication, v. 17, pp. 1038-1060, 2023. Disponível em: https://ijoc.org/index.php/ijoc/article/view/19005; Acesso em: 25 set. 2024.
WHITTEN-WOODRING, J. et al. Poison if you don’t know how to use it: Facebook, democracy, and human rights in Myanmar. The International Journal of Press/Politics, 25(3), pp. 407-425, 2020.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Os editores da Conjuntura Global (ISSN 2317 – 6563) reservam-se o direito de adequar os textos submetidos ao padrão de formatação editorial da revista. Os artigos e resenhas assinados são de responsabilidade de seus autores, não expressando a opinião dos editores da Conjuntura Global.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution (CC BY 4.0), que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista;
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista;
- A aprovação da produção implica automaticamente a autorização à Revista Conjuntura Global para encaminhamentos pertinentes junto às bases de dados de indexação de periódicos científicos.
