O “mundo vivido” em Peter Gow a partir da releitura dos conceitos de terra, território e paisagem
DOI:
https://doi.org/10.5380/cra.v25i2.90859Keywords:
Etnologia, Potiguara, sangue misturado, engajamentos, corpoAbstract
As reflexões de Peter Gow são fontes de inspiração teórica e metodológica para um conjunto de pesquisas antropológicas que levam a sério o “mundo vivido” e que problematizam a mistura como tema de interesse etnológico por meio das teorias nativas acerca do contato interétnico. Através do olhar sobre o cotidiano, Gow procurou apreender as mudanças culturais e os agenciamentos observados nos contextos em que o “novo” se apresenta nos sistemas simbólicos enquanto propiciador da criatividade individual ou dos sujeitos particulares e coletivos. Partindo da etnografia Potiguara sobre o idioma da mistura e dos sentidos de território, proponho refletir sobre as concepções de história, parentesco e temporalidade para apontar os rendimentos analíticos da ideia de “mundo vivido”. Em seguida, discuto a formulação de Gow sobre terra para avançar na compreensão da territorialidade como campo de exploração etnográfica e estratégica de análise sobre as semânticas de terra, território, corpo e paisagem.
References
Albert, B. (1995). O ouro canibal e a queda do céu: uma crítica xamânica da economia política da natureza. Série Antropologia, 174, 1–33. https://www.dan.unb.br/pt/images/doc/Serie174empdf.pdf
Albert, B., & Le Tourneau, F. (2007). Ethnogeography and Resource Use among the Yanomami: Toward a Model of “Reticular Space”. Current Anthropology, 48(4), 584–592. https://doi.org/10.1086/519914
Amoroso, M. (1998). Catequese e Evasão. Etnografia do Aldeamento Indígena de São Pedro de Alcântara, Paraná (1855-1895) (Tese de Doutorado). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.
Amoroso, M., & Lima, L. M. de. (2012). A aculturação é um objeto legítimo da Antropologia Entrevista com Peter Gow. Revista de Antropologia, 54(1), 517–539. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2011.38611
Belaunde, L. E. (2006). A força dos pensamentos, o fedor do sangue: hematologia e gênero na Amazônia. Revista de Antropologia, 49(1), 205–243. https://doi.org/10.1590/S0034-77012006000100007
Bernardo, C. de L. (2023). Práticas agrícolas e saberes locais do Povo Potiguara da Paraíba: espaços e produção de alimentos a partir da mandioca (Dissertação de Mestrado). Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.
Bonnemaison, J. Viagem em torno do território. In R. L. Correa, & Z. Rosendahl (orgs.) Geografia cultural: um século (3) (pp. 83–132). Rio de Janeiro: Eduerj.
Cardoso, T. M., & Guimarães, G. C. (orgs.). (2012). Etnomapeamento dos Potiguara da Paraíba. Brasília: FUNAI/CGMT/CGETNO/CGGAM.
Carneiro da Cunha, M. (1992). Legislação Indigenista no século XIX. In M. Carneiro da Cunha (org.). História dos Índios no Brasil (pp. 133 – 154). São Paulo: Companhia das Letras.
Carvalho, M. R. de, & Reesink, E. B. (2018). Uma etnologia no Nordeste brasileiro: balanço parcial sobre territorialidades e identificações. BIB – Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, (87), 71–104. https://bibanpocs.emnuvens.com.br/revista/article/view/459
Echeverri, J. A. (2004). Territorio como cuerpo y territorio como naturaleza: diálogo intercultural? In A. Surrallés, A., & P. G. Hierro (eds.). Tierra adentro: territorio indígena y percepción del entorno (pp. 259 – 276). Lima: IWGIA.
Fausto, C., & Heckenberger, M. (2007). Introduction: Indigenous History and the History of the Indians. In C. Fausto & M. Heckenberger (eds). Time and memory in indigenous Amazonia. Anthropological perspectives (pp. 1 – 43). Gainesville: University Press of Florida.
Gallois, D. T. (2004). Terras ocupadas? Territórios? Territorialidades? In F. Ricardo (org.). Terras Indígenas e Unidades de Conservação da Natureza. O desafio das sobreposições territoriais (pp. 37 – 41). São Paulo: Instituto Socioambiental.
Gow, P. (1991). Of mixed blood: kinship, and history in Peruvian Amazonia. Oxford: Clarendon.
Gow, P. (1993). Gringos and Wild Indians: Images of History in Western Amazonian Cultures. L’Homme, 33(126/128), 327–347. https://doi.org/10.3406/hom.1993.369643
Gow, P. (1995). Land, People, and Paper in Western Amazonia. In E. Hirsch & M. O'Hanlon (eds.). The Anthropology of Landscape: Perspectives on Place and Space (pp. 43 – 62). Oxford: Clarendon Press.
Gow, P. (1997). O parentesco como consciência humana: o caso dos Piro. Mana. 3(2), 39–65. https://doi.org/10.1590/S0104-93131997000200002
Gow, P. (2000). Helpless – the affective preconditions of Piro social life. In J. Overing & A. Passes (eds.) The Anthropology of Love and Anger. The Aesthetic of conviviality in native Amazonia (pp. 46–63). Londres: Routledge.
Gow, P. (2001). An Amazonian Myth and its History. Oxford: Oxford University Press.
Gow, P. (2003). Ex-cocama: identidades em transformação na Amazônia peruana. Mana, 9(1), 57–79. https://doi.org/10.1590/S0104-93132003000100004
Gow, P. (2006). Da Etnografia à História: “Introdução” e “Conclusão” de Of Mixed Blood: Kinship and History in Peruvian Amazônia. Cadernos de Campo (São Paulo – 1991), 15(14–15), 197–226. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v15i14-15p197-226
Gow, P., & Pougy, H. (2014). Mitos e Mitopoiesis. Cadernos de Campo (São Paulo – 1991), 23(23), 187–210. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v23i23p187-210
Hierro, P., & Surralés, A. (2004). Introducción. In A. Surrallés, A. & P. G. Hierro (eds.). Tierra adentro: territorio indígena y percepción del entorno (pp. 7 – 22). Lima: IWGIA
Lewitzki, T. (2023). Águas e movimentos: mulheres indígenas, meio ambiente e organização política no contexto do Território Indígena Mendonça (Tese de Doutorado). Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.
Little, P. E. (2004). Territórios sociais e povos tradicionais no Brasil: por uma antropologia da territorialidade. Anuário Antropológico, 28(1), 251–290. https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6871
Oliveira, J. P. de. (1998). Uma etnologia dos “índios misturados”? Situação colonial, territorialização e fluxos culturais. Mana, 4(1), 47–77. https://doi.org/10.1590/S0104-93131998000100003
Oliveira, J. P. de. (2002). Ação indigenista e utopia milenarista: as múltiplas faces de um processo de territorialização entre os Ticuna. In B. Albert; A. R. Ramos (orgs.). Pacificando o branco: cosmologias do contato no Norte Amazônico (pp. 277 – 309). São Paulo: UNESP.
Overing, J. (2002). Estruturas elementares de reciprocidade - Apresentação de Sylvia Caiuby Novaes. Cadernos De Campo (São Paulo - 1991), 10(10), 117–138. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v10i10p117-138
Palitot, E. M. (2020). A territorialidade dos Potiguara de Monte-Mór: regimes de memória, cosmologia e tradições de conhecimento. Revista Mundaú, n. 8, 115–138, 2020. https://doi.org/10.28998/rm.2020.n.8.9542
Raffestin, C. (1993). Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática.
Santos, M. (1996). A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Hucitec.
Santos, M. (2005). O Retorno do Território. In Da Totalidade ao Lugar (pp. 137 – 144). São Paulo: Edusp.
Surrallés, A. (2002). De la percepción en antropología. Algunas reflexiones sobre la noción de persona desde los estudios amazónicos. Indiana, (19-20), 59–72. https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=247018404004
Surrallés, A. (2009). De la intensidad o los derechos del cuerpo. La afectividad como objeto y como método. RUNA, Archivo Para Las Ciencias Del Hombre, 30(1), 29–44. https://doi.org/10.34096/runa.v30i1.854
Viegas, S. M. (2001). Trilhas: Território e identidade entre os índios do sul da Bahia/Brasil. In M. I. Ramalho, & A. de S. Ribeiro (orgs.). Entre ser e estar: Raízes, percursos e discursos da identidade (pp. 185 – 212). Porto: Edições Afrontamento.
Viegas, S. de M. (2015). Espaços missionários transformados: a apropriação da terra pelos índios numa aldeia jesuítica da costa atlântica (século XVIII-XIX). Revista de Antropologia, 58(1), 69–104. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2015.102100
Vieira, J. G. (2001). A (im)pureza do sangue e o perigo da mistura: uma etnografia do grupo indígena Potyguara da Paraíba (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
Vieira, J. G. (2002). Somos índios misturados: a concepção de história, sangue e terra entre os Potyguara da Paraíba. Raízes: Revista de Ciências Sociais e Econômicas, 21(1), 81–90. https://doi.org/10.37370/raizes.2002.v21.182
Vieira, J. G. (2012). Amigos e competidores: política faccional e feitiçaria nos Potiguara da Paraíba. São Paulo: Humanitas.
Vieira, J. G. (2015). “Todo caboclo é parente”: espacialidades, história e parentesco entre os Potiguara. Revista de Antropologia, 58(1), 285–317. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2015.102109
Vieira, J. G. (2020). Catimbó e toré: práticas rituais e xamanismo do povo Potiguara da Paraíba. Vivência: Revista de Antropologia, 1(54), 41–64. https://doi.org/10.21680/2238-6009.2019v1n54ID21126
Vieira, J. G. (2020). Política indígena e “política dos brancos”: o protagonismo dos Potiguara nos processos eleitorais na cidade de Baía Traição (Paraíba). In R. Verdum, & L. R. De Paula (orgs.). Antropologia da Política Indígena: Experiências e dinâmicas de participação e protagonismo indígena em processos eleitorais municipais (Brasil-América Latina) (pp. 210 – 244). Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Antropologia.
Vieira, J. G., Amoroso, M., & Viegas, S. de M. (2015). Dossiê: Transformações das Territorialidades Ameríndias nas Terras Baixas (Brasil). Revista de Antropologia, 58(1), 9–29. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2015.102098
Viveiros de Castro, E. (1996). Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. Mana, 2(2), 115–144. https://doi.org/10.1590/S0104-93131996000200005
Viveiros de Castro, E. (1999). Etnologia brasileira. In S. Miceli (org.). O que ler na ciência social brasileira (1970-1995) (pp. 109 – 223). São Paulo: Sumaré/ANPOCS; Brasília: CAPES, v.1, Antropologia.
Viveiros de Castro, E. (2015). O recado da mata. In D. Kopenawa D, & B. Albert, B. A queda do céu (pp. 11 – 41). São Paulo: Companhia das Letras.
Viveiros de Castro, E. (2017). Reprodução de aula pública: Os involuntários da pátria. ARACÊ - Direitos Humanos em Revista, 4(5), 187–193. https://arace.emnuvens.com.br/arace/article/view/140
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Copyright (c) 2025 Direitos Autorais para artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Authors who publish in this journal agree to the following terms:
1 Authors retain copyright to work published under Creative Commons - Attribution-NonCommercial 4.0 International (CC BY-NC 4.0) which allows:
Share — copy and redistribute material in any medium or format
Adapt — remix, transform, and build upon material
In accordance with the following terms:
Attribution — You must give appropriate credit, provide a link to the license, and indicate if changes have been made. You must do so under any reasonable circumstances, but in no way that suggests that the licensor endorses you or your use.
Non-Commercial — You may not use the material for commercial purposes.
2 Authors are authorized to distribute the version of the work published in this journal, in institutional, thematic, databases and similar repository, with acknowledgment of the initial publication in this journal;
3 Works published in this journal will be indexed in databases, repositories, portals, directories and other sources in which the journal is and will be indexed.
