Lamento, amarração e tarantismo: contribuições da teoria de Ernesto De Martino às pesquisas sobre religiões populares no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.5380/cra.v24i1.86200Palavras-chave:
Ernesto de Martino, Escola Italiana de História das Religiões, Religiões PopularesResumo
No presente artigo, o intuito é estabelecer possíveis aproximações entre o arcabouço construído, durante a primeira metade do século XX, pelo etnólogo e historiador das religiões napolitano Ernesto de Martino e o campo de estudos sobre religiões populares no Brasil. A partir dos pressupostos da chamada Escola Italiana de História das Religiões, incluindo seu diálogo com a filosofia heideggeriana e a teoria existencialista de Jaspers, De Martino critica as principais correntes das ciências sociais e da fenomenologia religiosa no que diz respeito à concepção de religião como fenômeno auto evidente e “a-histórico”. A fim de repensar, à luz da teoria demartiniana, as categorias analíticas agenciadas pelos intelectuais que pesquisam este tema no contexto brasileiro e levando em consideração que grande parte destas pesquisas corrobora a tradição criticada por De Martino, assumimos a dimensão experimental de nossa reflexão ao mesmo tempo que reconhecemos a atualidade do legado deste autor.
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