Nomear é trazer à existência: A onomástica (de crianças e de bichos) e os apelidos na produção da pessoa Capuxu
Resumo
Neste artigo me dedico à análise do sistema de nominação Capuxu e sua importância para a constituição da pessoa, à extensão deste sistema para os animais como revelador das relações que o grupo estabelece com estes e ao sentido dos apelidos, atribuídos pelas crianças. Entre este povo camponês endogâmico do sertão da Paraíba descobri um sistema endonímico, que aliou a transmissão de nomes próprios a um curto leque de possibilidades de sobrenomes, prevalecendo quatro deles para praticamente duzentos habitantes. Este sistema foi paulatinamente substituído por um exonímico. Ainda assim, como esta transformação é recente, para resolver a confusão de nomes e sobrenomes semelhantes, a comunidade elegeu os apelidos, atribuídos pelas crianças e desde a infância, como designadores principais da pessoa. As crianças também exercem um importante papel na onomástica dos animais diluindo as fronteiras entre pessoas e bichos, revelando que há algo nestes que nos remete àquelas.
Palavras-chave
Texto completo:
PDFReferências
CÂNDIDO, Antônio. 2003. “A vida familiar do caipira”. In: Os Parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida. 10ª ed. São Paulo: Editora 34
CODONHO, Camila. 2009. “Entre brincadeiras e hostilidades: percepção, construção e vivência das regras de organização social entre as crianças indígenas Galibi-Marworno”. Revista Tellus 9 17: 137-161.
DAMATTA, Roberto. 1976. Um Mundo Dividido: A Estrutura Social dos índios Apinayé. Petrópolis: Vozes.
ELIAS, Norbert; SCOTSON, John. 2000. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
EVANS-PRITCHARD, Edward Evan. 2002. Os Nuer. São Paulo: Editora Perspectiva.
FREYRE, Gilberto. 2003 [1933]. Casa Grande & Senzala: Formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. 47ª ed. São Paulo: Global Editora.
GEERTZ, Clifford. 1989 [1973]. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Editora LTC.
GODOI, Emília Pietrafesa. 2009. “Reciprocidade e circulação de crianças entre camponeses do sertão”. In: E. Godoi; M. Menezes; R. Marin. (Orgs.) Diversidade do Campesinato: expressões e categorias, v. 2. São Paulo: UNESP/Brasília: Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural.
HARRISON, Simon. 1990. Stealing People's Names: History and Politics in a Sepik River Cosmology. Cambridge/ Nova York : Cambridge University Press. https://doi.org/10.1017/CBO9780511521096
HUGH-JONES, Stephen. 2006. “The substance of Northweast Amazonian names”. In: B Bodenhorn; G. Vom Bruck. The Anthropology of Names and Naming. Cambridge: Cambridge University Press.
LÉVI-STRAUSS, Claude. 2003. O Totemismo Hoje. Lisboa: Perspectiva do homem/Edições 70.
MAUSS, Marcel. 2003 [1969]. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify
MOURA, Margarida Maria. 2010. "Infância camponesa: legado dos nomes, dos bens antigos e das compras novas". Cadernos Ceru 21 (1):231 - 245
NEEDHAM, Rodney. 1954. "The system of teknonyms and death-names of the Penan". Southwestern Journal of Anthropology 10: 416-431. https://doi.org/10.1086/soutjanth.10.4.3628836
PINA CABRAL, João de. 1984. “Nicknames and the experience of community”, Man 19 (1): 148-150.
PINA CABRAL, João de. 2007. “Mães, pais e nomes no baixo sul (Bahia, Brasil)”. In: J. Pina Cabral; S. Viegas (orgs.). Nomes: Género, Etnicidade e Família. Coimbra: Almedina
RAMOS, Alcida. 2008. "Nomes Sanumá entre gritos e sussurros". Etnográfica 12 (1): 59-69. https://doi.org/10.4000/etnografica.1606
SILVA, Aracy Lopes da. 1986. Nomes e Amigos: Da Prática Xavante a uma Reflexão sobre os Jê. São Paulo, FFLCH, USP.
VIEGAS, Susana de Matos. 2008. "Pessoa e individuação: o poder dos nomes entre os Tupinambá de Olivença (sul da Bahia, Brasil) ". Etnográfica 12 (1): 71-94. https://doi.org/10.4000/etnografica.1618
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 1986. Araweté: Os Deuses Canibais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores.
WOORTMANN, Ellen F. 1995. Herdeiros, parentes e compadres. São Paulo/Brasília: Hucitec/EdUnb
DOI: http://dx.doi.org/10.5380/campos.v15i2.40373
Apontamentos
- Não há apontamentos.