Open Journal Systems

Bactérias multirresistentes em otite canina: uma análise dos estudos conduzidos no Brasil

Roniuza Reneuda de Araújo, Márcio Leonardo de Morais Nobre, Raí Emanuel da Silva, Alyne Pereira Lopes, Taciana Galba da Silva Tenório, David Germano Gonçalves Schwarz, Maria José dos Santos Soares

Abstract


A otite canina representa uma importante enfermidade diagnosticada na rotina veterinária. Muitos aspectos estão envolvidos no quadro clínico, incluindo a presença de agentes patogênicos. Neste sentido, bactérias multirresistentes são importantes exemplos de tais agentes, tendo desta forma elevada importância na saúde médica veterinária. Assim, o presente estudo teve como objetivo realizar uma revisão sistemática sobre a caracterização de bactérias multirresistentes isoladas de otites caninas no Brasil. A metodologia adotada, compreendeu etapas envolvendo a definição das bases de dados, o recorte atemporal a ser analisado (2012 a 2022), as palavras-chave para a busca das publicações, além de critérios de inclusão e exclusão para a seleção dos estudos. Um total de 20 trabalhos foi incluído ao final da triagem, sendo estes analisados criteriosamente quanto aos mais diferentes aspectos. Foi possível verificar que bactérias Gram positivas e negativas foram isoladas nos quadros de otite canina, e que perfis de multirresistência foram apresentados para tais microrganismos, provavelmente em função das classes antibióticas analisadas. Alguns isolados com resistência intrínseca foram considerados resistentes a certos medicamentos, o que reitera a importância do conhecimento acerca deste fenômeno na rotina do laboratório de microbiologia. Muitos exemplares de classes antibióticas foram utilizados de forma semelhante entre estudos, identificando-se uma frequência elevada no uso de aminoglicosídeos na realização do ensaio de antibiograma. Portanto, encara-se que a identificação microbiana e o conhecimento dos mecanismos de resistência antibiótica intrínsecos e extrínsecos apresentados pelas bactérias são a base para nortear a escolha e uso adequado de antibióticos.


Keywords


Infecções otológicas; microrganismos multirresistentes; protocolos terapêuticos.

References


ANVISA, 2019. Resistência antimicrobiana. Disponível em: < http://antigo.anvisa.gov.br/ultimasnoticias?tagsName=resist%C3%AAncia%20antimicrobiana>. Acesso em: 24. Mar. 2021.

Arais, RL, Barbosa AV, Carvalho CA, et al. Antimicrobial resistance, integron carriage, and gyrA and gyrB mutations in Pseudomonas aeruginosa isolated from dogs with otitis externa and pyoderma in Brazil. Veterinary Dermatology. 27, 113–131, 2016.

Blair JM, Webber MA, Baylay AJ, et al. Molecular mechanisms of antibiotic resistance. Nature reviews microbiology, 13:(1), 42-51. 2015.

Bush K & Fisher JF. Epidemiological expansion, structural studies, and clinical challenges of new β-lactamases from gram-negative bacteria. Annual review of microbiology, 65: 455-478, 2011.

Carvalho LCA. Etiologia e perfil de resistência de bactérias isoladas de otite externa em cães. Dissertação MSc em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. 97p. 2017.

CLSI. Performance Standards for Antimicrobial Susceptibility Testing. 30th ed. CLSI supplement MI00. Wayne, PA: Clinical and Laboratory Standards Institute; 2020.

Costa ALP. Resistência Bacteriana aos Antibióticos: Uma Perspectiva Do Fenômeno Biológico, Suas Consequências e Estratégias De Contenção. Trabalho de Conclusão de Curso em Ciências Biológicas, Departamento de Ciências Biológicas e da Saúde, UNIFAP, Macapá, 63p. 2016.

Oliveira VB, Ribeiro MG, Silva Almeida AC, et al. Etiologia, perfil de sensibilidade aos antimicrobianos e aspectos epidemiológicos na otite canina: estudo retrospectivo de 616 casos. Semina: Ciências Agrárias, 33: (6), 2367-2374, 2012.

Doi Y, Wachino J, Arakawa Y. Aminoglycoside resistance: the emergence of acquired 16S ribosomal RNA methyltransferases. Infectious Disease Clinics, 30:(2), 523-537, 2016.

Ercole FF, Melo LSD, Alcoforado CLGC. Revisão integrativa versus revisão sistemática. Reme: Revista Mineira de Enfermagem, 18:(1), 09-11, 2014.

Ferraz CM, Morais JNS, Loureiro B, et al. Etiologia microbiana e perfil de resistência bacteriana in vitro em otites externas de cães: estudo retrospectivo em animais atendidos na rotina de hospital veterinário (2013 a 2020). Veterinária e Zootecnia, 28, 1-10, 2021.

Flores-Treviño S, Gutierrez-Ferman JL, Morfín-Otero R, et al. Stenotrophomonas maltophilia in Mexico: antimicrobial resistance, biofilm formation and clonal diversity. Journal of medical microbiology, 63:(11), 1524-1530, 2014.

Forster SL, Real T, Doucette KP, King SB. A randomized placebo controlled trial of the efficacy and safety of a terbinafine, florfenicol and betamethasone topical ear formulation in dogs for the treatment of bacterial and / or fungal otitis externa. BMC Veterinary Research, 14:(1), 262, 2018.

García-Álvarez L, Holden MT, Lindsay H. Meticillin-resistant Staphylococcus aureus with a novel mecA homologue in human and bovine populations in the UK and Denmark: a descriptive study. The Lancet infectious diseases, 11:(8), 595-603, 2011.

Gotthelf G N. Doenças do ouvido em pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Roca, 2007. 356p.

Gheller BG, Meirelles ACF, Figueira PT, Holsbach V. Patógenos bacterianos encontrados em cães com otite externa e seus perfis de suscetibilidade a diversos antimicrobianos. Pubvet, 11:(2), 159-167, 2016.

Guimarães CDO, Silva Ferreira C, Silva KMC, et al. Isolamento bacteriano e suscetibilidade microbiana em amostras biológicas de cães. PubVet. 11:(2), 168-175, 2017.

Haudiquet M, Sousa JM, Touchon M, Rocha EP. Selfish, promiscuous and sometimes useful: how mobile genetic elements drive horizontal gene transfer in microbial populations. Philosophical Transactions of the Royal Society B, 377:(1861), 20210234, 2022.

Holmstrom T, David LA, Motta CC, et al. Methicillin-resistant Staphylococcus pseudintermedius: An underestimated risk at pet clinic. Brazilian Journal of Veterinary Medicine, 42:(1), e107420-e107420, 2020.

Hryniewicz MM & Garbacz K. Borderline oxacillin-resistant Staphylococcus aureus (BORSA)–a more common problem than expected?. Journal of medical microbiology, 66:(10), 1367-1373, 2017.

Ishii B, Freitas JC, Arias MV. Resistência de bactérias isoladas de cães e gatos no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina (2008-2009). Pesquisa Veterinária Brasileira, 31:(6), 533-537, 2011.

Kumar S, Varela MF. Molecular mechanisms of bacterial resistance to antimicrobial agents. chemotherapy, 14, 522-534, 2013.

Lee K, Yum JH, Yong D, et al. Biochemical characterization of the TEM-107 extended-spectrum β-lactamase in a Klebsiella pneumoniae isolate from South Korea. Antimicrobial agents and chemotherapy, 55:(12), 5930-5932, 2011.

Lima MV, Akamatsu A, Prado LG et al. Análise da microbiota do conduto auditivo de cães com otite bacteriana por meio de realização de cultura e antibiograma. Revista V e Z em Minas, 131, 47-52, 2016.

Machado VMMC. Otite externa canina: estudo preliminar sobre a otalgia e factores associados. Dissertação MSc em Medicina Veterinária, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, 65p, 2013.

Magiorakos AP, Srinivasan A, Carey RB, et al. Multidrug-resistant, extensively drug-resistant and pandrug-resistant bacteria: an international expert proposal for interim standard definitions for acquired resistance. Clinical microbiology and infection, 18:(3), 268-281, 2012.

Martins E, Maboni G, Battisti R, et al. High rates of multidrug resistance in bacteria associated with small animal otitis: A study of cumulative microbiological culture and antimicrobial susceptibility. Microbial Pathogenesis, 165, 105399, 2022.

Nuttall T. Successful management of otitis externa. In Practice Focus. 17–22, 2016.

Oliveira LC, Medeiros CMO, Silva ING, et al. Antimicrobial sensitivity of bacteria from otitis externa in dogs. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 57:(3), 405-408, 2005.

OPAS. Folha informativa-resistência antibiótica. 2017. Disponível em:< https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5664:folha-informativaresistencia-aos-antibioticos&Itemid=812>. Acesso em: 06 mar. 2021.

Paterson S. Topical ear treatment–options, indications and limitations of current therapy. Journal of small animal practice, 57:(12), 668-678, 2016.

Penna B, Thomé S, Martins R, et al. In vitro antimicrobial resistance of Pseudomonas aeruginosa isolated from canine otitis externa in Rio de Janeiro, Brazil. Brazilian Journal of Microbiology, 42:(4), 1434-1436. 2011.

Perry LR, MacLennan B, Korven R, Rawlings TA. Epidemiological study of dogs with otitis externa in Cape Breton, Nova Scotia. The Canadian Veterinary Journal, 58:(2), 168-174, 2017.

Porrero MC, Harrison E, Fernández‐Garayzábal JF, et al. Detection of mecC‐M ethicillin‐resistant Staphylococcus aureus isolates in river water: a potential role for water in the environmental dissemination. Environmental microbiology reports, 6:(6), 705-708, 2014.

Prodanov CC, Freitas EC. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico-2ª Edição. Editora Feevale. 2013.

Reygaert WC. An overview of the antimicrobial resistance mechanisms of bacteria. AIMS microbiology, 4:(3), 482-501, 2018.

Ribeiro MG, Zappa V, Bolaños CAD, et al. Antimicrobial multiple resistance index, minimum inhibitory concentrations, and extended-spectrum beta-lactamase producers of Proteus mirabilis and Proteus vulgaris strains isolated from domestic animals with various clinical manifestations of infection. Semina: Ciências Agrárias, 38:(2), 775-789, 2017.

Ribeiro VB. Detecção de resistência aos carbapenêmicos e avaliação da produção de Klebsiella pnemoniae carbapenemase (KPC) em isolados clínicos da família Enterobacteriaceae. Tese Dr em Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 134p, 2013.

Rosa RO. Susceptibilidade aos antimicrobianos de Staphylococcus pseudintermedius isolados de cães e seus tutores. Trabalho de Conclusão de Curso em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, 39f, 2020.

Santos JPD, Ferreira Á, Locce CC, et al. Effectiveness of tobramycin and ciprofloxacin against bacterial isolates in canine otitis externa in Uberaba, Minas Gerais. Cienc. Anim. Bras., 20, 8-9, 2019.

Salameh JP, Bossuyt PM, McGrath TA, et al. Preferred reporting items for systematic review and meta-analysis of diagnostic test accuracy studies (PRISMA-DTA): explanation, elaboration, and checklist. THE BMJ, 370, 2020.

Sellera FP, Lopes R, Monte DF, et al. Genomic analysis of multidrug-resistant CTX-M-15-positive Klebsiella pneumoniae belonging to the highly successful ST15 clone isolated from a dog with chronic otitis. Journal of Global Antimicrobial Resistance, 22, 659-661, 2020.

Scherer CB, Botoni LS, Coura FM, et al. Frequency and antimicrobial susceptibility of Staphylococcus pseudintermedius in dogs with otitis externa. Ciência Rural, 48:(4), e20170738, 2018.

Scartezzini M, Fischer CDB, Pianta C, Oliveira SJ. Otite causada por Pseudomonas sp. em cães atendidos no HV-ULBRA no ano 2009 (Canoas-RS). 2010. In 3º Anclivepa. Anais..., Belém, PA. 2010.

Sfaciotte RAP, Bordin JT, Vignoto VK, et al. Antimicrobial resistance in bacterial pathogens of canine otitis. Am J Anim & Vet Sci, 10, 162-169, 2015.

Sfaciotte, RAP. Perfil fenotípico e genotípico de resistência a antimicrobianos em patógenos bacterianos em animais de companhia. Dissertação MSc em Ciência Animal. Universidade Federal do Paraná, Palotina, 120p. 2014.

Teixeira IM. Caracterização da formação de biofilme e perfil de resistência das espécies Staphylococcus pseudintermedius e Staphylococcus schleiferi isolados de caninos do estado do Rio de Janeiro. Dissertação MSc Microbiologia e Parasitologia Aplicadas. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 68p. 2018.

Teixeira IM, Ferreira EO, Penna BA. Dogs as reservoir of methicillin resistant coagulase negative staphylococci strains–A possible neglected risk. Microbial pathogenesis, 135, 103616, 2019.




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/avs.v28i2.90949