Entre o crime e a doença: as representações sociais do usuário de drogas durante a Ditadura Militar Brasileira a partir das páginas da Folha de S. Paulo

Resumo

A pesquisa tem como objetivo identificar as representações sociais do usuário de substâncias psicoativas publicadas no jornal Folha de S. Paulo, a partir de 305 matérias nacionais publicadas entre 1o de abril de 1964 a 15 de março de 1985, durante o período da Ditadura Militar brasileira. Esse período é marcante devido aos aspectos políticos, culturais, jurídico-legais e médicos diretamente associados às drogas. Entre esses aspectos, destacam-se o contexto da Guerra Fria, a contracultura, a difusão de determinadas substâncias, os acordos internacionais da Organização das Nações Unidas, a promulgação de leis nacionais e o surgimento nacional de modelos de tratamento advindos dos Estados Unidos. Nesse contexto, selecionam-se objetos empíricos a partir da Folha de S. Paulo, dada a sua ascensão nacional na década de 1960 pela fusão da Folha da Manhã e da Folha da Noite e como empresa de mídia aliada do governo ditatorial, que logo tornou-se um dos jornais de maior circulação do país. O suporte teórico centra-se inicialmente no conceito de representações coletivas e sociais, em Durkheim e Moscovici. À luz de Foucault, Goffman, Becker, Butler e Le Breton investigam-se os estigmas, vulnerabilidades e enquadramentos que rondam tais representações, utilizando o jornalismo como fonte histórica e cultural. Dessa forma, constituiu-se o corpus consultando o repositório virtual do jornal a partir de adjetivos que se referem ao sujeito que faz uso de substâncias psicoativas, tais como: ‘drogado’ ‘toxicômano’, ‘usuário de drogas’, ‘usuário de entorpecentes’, ‘viciado em drogas’ e ‘dependente químico’. As matérias nacionais foram agrupadas em um banco de dados com datas, títulos, links de acesso, tipologias jornalísticas (reportagens e notícias) e a presença ou ausência de imagens. Com base nos postulados de Bardin e Minayo, foram compiladas categorias e subcategorias baseadas no conteúdo das matérias. Assim, obtiveram-se duas categorias (saúde e crimes) e oito subcategorias (tratamento, prevenção, doença, crimes urbanos, mortes, prisões e torturas, legislação e tráfico de drogas). O processo metodológico do estudo inclui também a análise lexical das matérias por meio do software IRAMUTEQ. Neste artigo apresentam-se os resultados preliminares da análise lexical da categoria saúde, com foco nas representações de tratamento, prevenção e doença.